A importância social, histórica e afetiva da Galeria Ouvidor é retratada no livro escrito pela designer e pesquisadora de desenvolvimento local e economia criativa Andrea Lacerda. A obra, que carrega o nome do edifício, será lançada nesta quinta-feira, 12 de maio, às 16h, na Livraria Ler, localizada na Galeria Ouvidor, Centro de Belo Horizonte.
A autora também apresentará a obra no dia 15 de maio, às 10h, no Made in Beagá, loja localizada no Mercado Novo, no Centro da capital.
“Galeria Ouvidor” dá início ao Olhar BH, projeto com objetivo de contribuir para a documentação e difusão da memória de lugares emblemáticos e históricos da região central de Belo Horizonte e desvendar a identidade desses locais.
Galeria Ouvidor dialoga com as transformações do Centro de BH
A autora iniciou o processo de elaboração do livro em 2008, após apresentar o seu trabalho para a conclusão do curso de Design Gráfico, pela UEMG. Com o passar do tempo, a designer aprimorou o projeto e seus objetivos e, em seguida, aprovou a concretização da obra pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Segundo Andrea, a escolha da Galeria Ouvidor partiu de uma ligação afetiva e também da falta de registros que revelassem o lugar.
“Eu sempre tive interesse em temas ligados ao desenvolvimento local e à passagem urbana. Então, ao procurar um lugar para o meu trabalho, percebi que a galeria seria uma ótima escolha. Eu tenho uma ligação afetiva muito forte com o edifício, pois era onde costumava comprar meus materiais artísticos para trabalhos da graduação. Além disso, há poucos documentos históricos sobre a galeria. Portanto, decidi fazer esse registro”, contou.
Para a designer, escrever o livro foi uma experiência fantástica, principalmente o contato com os lojistas, que ajudam a construir a identidade da galeria. “Essas pessoas, mesmo estando ‘escondidas’ e ‘silenciadas’, fazem a história da cidade. Todas elas estão na galeria diariamente, dando a sua contribuição para a construção do comércio e do centro de BH. Esses trabalhadores me passam muita fé, é uma sensação muito bonita”, afirmou.
Outro fator que enriqueceu a experiência da autora foi a possibilidade de fazer algumas entrevistas durante a pandemia, quando o comércio abriu pela primeira vez na capital.
A participação desses trabalhadores foi fundamental para a composição do livro, já que eles conseguiram preencher lacunas deixadas pela falta de acesso a alguns registros."Alguns lojistas estavam com sentimentos contraditórios, pois não sabiam como seria o futuro. Mas, ainda assim, todos estavam com muita 'garra' para retornar a suas atividades"
Andrea Lacerda
“Visitamos cartórios e conseguimos materiais escritos que contavam sobre a abertura da galeria, mas, ainda assim, não eram suficientes para a pesquisa. Por isso, construímos a obra como se fosse uma colagem, já que, ao recolher os depoimentos dessas pessoas, indiretamente, construímos também a história do lugar”, disse.
Uma das lojistas que auxiliou nessa composição foi Fátima Xavier, de 67 anos e proprietária da Loja Xavier. “Meus pais foram os primeiros a ter um estabelecimento na galeria, estamos aqui desde quando inaugurou. Tudo que minha família conquistou foi lá, com muita luta, honestidade e dignidade. Até hoje, mesmo com o passar dos anos, temos o mesmo CNPJ, telefone, razão social e dono. Fazemos parte e somos a tradição em Belo Horizonte”, explica.
Ela conta que, além de ser o local responsável por garantir o sustento da família, grande parte da história dela se passou no shopping. “A minha infância, juventude e, agora, a terceira idade foi na Galeria Ouvidor. Por isso, participar do livro foi muito especial, pois, além de ser patrimônio da capital e de Minas, é também patrimônio da minha trajetória. Nas entrevistas pude resgatar memórias muito importantes da minha vida”, disse.
Obra busca traduzir essência do local
Andrea conta que o projeto gráfico da obra se desenvolveu a partir de duas perspectivas ligadas ao designer. A primeira delas é a construção da identidade da galeria, ligada não somente a características arquitetônicas, mas também culturais.
“Um dos trabalhos que eu mais gosto no design é a organização sistêmica dos lugares, para que, assim, eles possam se desenvolver. Portanto, busquei ajudar a reconhecer a galeria, a criar uma base e uma identidade. Então, as pessoas poderão olhar e entender os potenciais do lugar, além de se projetar como marca mais forte”, afirma.
Já a outra está associada aos detalhes físicos do livro, pensados de maneira a retratar aspectos que dialoguem com a Galeria Ouvidor. “A customização da obra está associada à essência do lugar. Por exemplo, a laminação holográfica 3D na capa remete ao brilho das bijuterias vendidas na galeria. Já a lombada com costura aparente retoma o artesanato, outra atividade desenvolvida no local”, explica.
Além disso, as cores, os elementos visuais e o grind modular — onde padrões geométricos, o texto e imagens podem se expandir e encaixar — foram inspirados nas principais características da arquitetura moderna. As fotografias complementam o projeto, pois também buscam mostrar o percurso histórico, detalhes arquitetônicos e culturais.
A obra contou com o esforço de uma equipe multidisciplinar, como jornalistas, fotógrafos, designer, web designers e videomaker. O conjunto de olhares apresentados no livro, por fim, revela que o edifício histórico de Belo Horizonte atravessa as décadas modificando-se, atualizando-se em certos aspectos e se mantendo constante, em outros.
O resultado da pesquisa é complementada por um minidocumentário que mostra entrevistas com donos de lojas e comerciantes ressaltando a história e o cotidiano da galeria ao destacar a visão dos personagens sobre o espaço. Feito por Mirela Persichini (Samambaia), a obra audiovisual será lançada posteriormente.
Breve história da Galeria Ouvidor
Fundada em 10 de março de 1964, a Galeria Ouvidor é um complexo arquitetônico que abriga diversas lojas no centro de Belo Horizonte. O nome foi uma homenagem à movimentada rua Ouvidor, localizada no Rio de Janeiro. À época, a construção de centros comerciais e shoppings centers remetiam ao desenvolvimento socioeconômico e à sofisticação das grandes cidades brasileiras.
A Galeria Ouvidor, no entanto, também se destacou por sua arquitetura modernista, fez parte do movimento de verticalização do centro da capital mineira e surpreendeu a todos com grandes vãos, organização modular e entradas para ventilação.
Atualmente possui seis pisos (três a mais que no início) e, ao contrário do glamour dos primeiros tempos, é um centro de comércio popular cujos números impressionam: são 200 unidades comerciais distribuídas nos seis pavimentos pelos quais circulam entre 40 e 45 mil pessoas diariamente.
Serviço
Lançamento do livro “Galeria Ouvidor
Data: 12 de maio de 2022 (quinta-feira)
Horário: 16h
Local: Livraria Ler na Galeria Ouvidor (rua São Paulo, 656 — Centro, Belo Horizonte)
Andrea Lacerda estará presente para autografar exemplares do livro.
Entrada franca
Data: 15 de maio de 2022 (domingo)
Horário: 11h
Local: Made in Beagá no Mercado Novo (avenida Olegário Maciel, 742 - Loja 2117 - Centro, Belo Horizonte)
Andrea Lacerda estará presente para autografar exemplares do livro.
Entrada franca