Após seis anos ausente do calendário cultural de Belo Horizonte, a Bienal Mineira do Livro retorna, a partir desta sexta-feira (13/5), reformatada e com aspirações grandiosas. Ocupando um espaço de 15 mil metros quadrados no BH Shopping e anunciada como a maior iniciativa literária do estado, ela conjuga uma vasta programação cultural com a presença de mais de uma centena de escritores, feira de livros e uma maciça ação junto a escolas públicas e privadas.
Por questões financeiras e comerciais, a Bienal não foi realizada em 2018 e, em virtude da pandemia, teve que ser adaptada para o ambiente virtual em 2020. Agora, de volta ao formato presencial, ela pretende se consolidar como um evento de massas voltado ao incentivo da leitura e à potencialização da cadeia econômica do livro.
Tendo como homenageado desta edição o escritor Olavo Romano, a Bienal traz uma programação dividida em 11 eixos temáticos, cada um abrigando debates, encontros, lançamentos e outras atividades, que se estende até o próximo dia 22.
O eixo temático 1, batizado como Escolas na Bienal, se coloca como o principal diferencial desta edição. Ele é voltado para a realização de ações formativas e culturais para estudantes e professores. Foram distribuídos, gratuitamente, mais de 80 mil ingressos para escolas das redes pública – nos âmbitos municipal e estadual – e privada, além de milhares de vales-livros para os corpos discentes.
“A parceria com as escolas é fundamental, tão importante que estamos praticando uma gratuidade bastante significativa, numa iniciativa fora da curva do mercado. Ao longo desses 10 dias, esperamos receber milhares de alunos e educadores. Essa será, possivelmente, a maior excursão literária do Brasil. O acolhimento das secretarias de Educação municipal e estadual e também do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais potencializa essa iniciativa”, diz Marcus Ferreira, diretor-geral da Bienal Mineira do Livro.
Permanência e circulação
Ele destaca que o período pandêmico serviu para que se pudesse pensar uma forma de reposicionar o evento, que, nesta sua 6ª edição, se sustenta em dois pilares principais: a permanência e a circulação.
“Tão logo começamos o planejamento, pensamos na manutenção das ações para cumprir a missão de estimular a leitura e valorizar a cadeia econômica do livro, que atualmente vive um cenário de números sofríveis. Não faz sentido fazer um encontro de 10 dias e depois hibernar”, afirma.
Essa permanência, ele diz, vai se dar pelo modelo virtual adotado durante a pandemia – com a ação batizada Bienal em sua Casa – e por meio de parcerias, o que se relaciona com o caráter itinerante que o evento passa a ter. “O encontro presencial segue acontecendo a cada dois anos, mas vamos abrir outros canais. Durante a pandemia, fizemos 16 edições da Bienal em sua Casa e já temos três programadas para acontecer entre junho e agosto deste ano”, cita.
Ele informa que, concluída a edição em BH, a Bienal Itinerante passará por 20 cidades do interior do estado. “Já existem vários eventos literários espalhados por Minas Gerais, então queremos estar presentes nas cidades que ainda não têm e naquelas onde pudermos firmar parcerias”, aponta, destacando que a ideia de colaboração está no cerne deste novo modelo que a Bienal abraça.
Eixos temáticos
Cada um dos 11 eixos temáticos é desenvolvido em parceria com entidades de notório saber nas mais diversas áreas que o evento abrange. A Fundação Dom Cabral, por exemplo, responde pela curadoria do eixo 2, intitulado Espaço Negócios, voltado para gestores da cadeia econômica do livro. A Academia Mineira de Letras cuida do eixo 4, Café Literário, que vai receber Carla Madeira, Nilma Lino Gomes, Maria Esther Maciel, Leda Maria Martins, Ana Elisa Ribeiro, Carlos Marcelo, diretor de Redação do Estado de Minas, entre outros autores.
O eixo 5, Conexão Livro, que tem curadoria do Grupo Asas, vai promover encontros com Leida Reis, Leila Ferreira, Leônidas Oliveira, o ex-jogador Reinaldo e Paula Pimenta, entre outros. Marcus Ferreira destaca que a escolha dos temas e dos parceiros que colaboram na programação foi orientada com base na percepção das demandas atuais da cadeia produtiva do livro.
“A Bienal Mineira do Livro divide a responsabilidade pelo conteúdo de cada um dos eixos com a Academia Mineira do Livro, a Câmara Mineira do Livro, o Instituto Fernando Sabino, a Secretaria de Estado e Turismo de Minas Gerais, a Fundação Dom Cabral e várias outras entidades. É a leitura do nosso contexto que orientou a proposição desses 11 eixos temáticos e o convite a esses parceiros”, diz.
Espaço do homenageado
O eixo 9, Palavras com Tempero, que conta com a colaboração do Instituto Fernando Sabino, é o espaço planejado para ser o palco do homenageado deste ano, e foi criado por sugestão do próprio Olavo Romano.
A cada dia do evento, ele vai dividir o Palco Minas – um dos três ambientes montados no estacionamento do BH Shopping para receber os debates e demais atrações – com expoentes da música em Minas Gerais, numa dinâmica que alterna a narração de causos com cantorias.
A cada dia do evento, ele vai dividir o Palco Minas – um dos três ambientes montados no estacionamento do BH Shopping para receber os debates e demais atrações – com expoentes da música em Minas Gerais, numa dinâmica que alterna a narração de causos com cantorias.
Entre os convidados de Olavo figuram Celso Adolfo, Chico Lobo, Paulinho Pedra Azul, Wilson Dias e Saulo Laranjeira, que, de certa forma, foi a inspiração para a proposta desse eixo.
“Eu me senti muito lisonjeado com o convite para ser o homenageado desta edição e achei que devia contribuir. Como eu vinha de uma experiência de encontros no programa ‘Arrumação’, do Saulo, onde eu tinha, a cada domingo, a janela ‘Prosa arrumada’, de 15 minutos, inventei isso”, diz o escritor.
“Eu me senti muito lisonjeado com o convite para ser o homenageado desta edição e achei que devia contribuir. Como eu vinha de uma experiência de encontros no programa ‘Arrumação’, do Saulo, onde eu tinha, a cada domingo, a janela ‘Prosa arrumada’, de 15 minutos, inventei isso”, diz o escritor.
“Tenho muitos amigos nesse meio, então, desse pessoal todo que vai estar comigo lá, ninguém vai receber cachê. Não vou lá me apresentar, não quero fazer bonito, quero estar num espaço onde as outras pessoas também estejam. Quem for assistir participa. É uma roda de causos mesmo, onde um lado conta e o outro canta; um sarau animado, solto, sem roteiro ou produção”, descreve.
Produção recente
Olavo Romano diz que vai levar para a Bienal sua produção literária recente, que veio à luz a partir de sua aproximação com a Editora Caravana, da qual acabou se tornando editor sênior.
“Eu me aproximei do processo de produção de livros e, a partir disso, resolvi bancar meu trabalho. Chego agora na Bienal com sete livros, uma ‘boa manada’, como se diz na roça, todos eles já com esse viés meio independente”, diz. Ele observa que, desde sua entrada na Caravana, que tem menos de quatro anos de fundação, cerca de 500 autores já foram publicados.
“Eu me aproximei do processo de produção de livros e, a partir disso, resolvi bancar meu trabalho. Chego agora na Bienal com sete livros, uma ‘boa manada’, como se diz na roça, todos eles já com esse viés meio independente”, diz. Ele observa que, desde sua entrada na Caravana, que tem menos de quatro anos de fundação, cerca de 500 autores já foram publicados.
O homenageado acredita que esta edição da Bienal Mineira do Livro pode representar um marco para o setor no estado. Ele, que é membro da Academia Mineira de Letras e sócio fundador do Sindicato dos Escritores de Minas Gerais, chama a atenção para a abrangência do evento. “Nunca tivemos aqui uma Bienal desse porte, seja pela mobilização, pela quantidade de gente esperada, pelos recursos mobilizados ou pelo suporte institucional.”
Ele destaca, ainda que essa é, também, uma celebração por seus 40 anos de trajetória como escritor. “Meu primeiro livro, ‘Casos de Minas’, está fazendo 40 anos. Ele teve um pré-lançamento lá no meu arraialzinho, Morro do Ferro (distrito de Oliveira, no extremo Sul da Região Oeste do estado). O meu livro mais recente – nunca digo o último, mas o caçula da família –, que se chama ‘O homem que veio de longe’, traz na capa justamente uma imagem de São João Batista, que é o padroeiro de Morro do Ferro, no andor, em uma festa lá, com um monte de gente na rua. O livro, a literatura, a palavra são coisas que vivi a vida toda, então é uma honra muito grande ser o homenageado da Bienal neste momento tão simbólico”, ressalta.
BIENAL MINEIRA DO LIVRO 2022
A partir desta sexta-feira (13/5) até 22/5, no estacionamento Ouro Preto do BH Shopping, com atividades diárias, a partir das 10h, divididas em três turnos: das 10h às 14h; das 14h às 18h; e das 17h às 22h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) e podem ser adquiridos no site da Bienal Mineira do Livro, onde a programação completa está disponível.