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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

"Minhas piadas são inspiradas em problemas pessoais", diz Bruna Louise

A comediante paranaense volta a BH neste domingo (15/5) com seu stand up. Em entrevista, ela conta que "demorou a confiar" em seu potencial


13/05/2022 04:00 - atualizado 13/05/2022 08:47

com vestido preto de paetês e tênis brancos, Bruna Louise, no palco, segura microfone com a mão direita e dá risada
A paranaense Bruna Louise prepara especial para a Netflix, enquanto circula pelo Brasil com seu show solo, em paralelo ao projeto Juntas (foto: Juliana Oliveira/Divulgação)

Aos 37 anos, a paranaense Bruna Louise ocupa hoje um lugar de destaque no cenário do humor nacional. Neste fim de semana, ela se apresenta em Belo Horizonte, onde deve ter o maior público para seu espetáculo solo de stand up num único dia. 

Bruna fará três sessões (às 14h30, às 17h e às 20h) de seu show, neste domingo (15/5), no  Sesc Palladium, com a venda já esgotada em alguns setores do teatro, que tem capacidade para 1.321 espectadores. 

Tratando de temas sérios, como a prevalência do machismo na sociedade, ou doloridos, como desilusões amorosas, de forma leve, ela promete fazer o público rir e se divertir também com o relato de situações inusitadas de seu cotidiano.

Em setembro de 2021, Bruna esteve em Belo Horizonte para apresentar seu show solo, mas, em razão dos protocolos sanitários impostos para conter a disseminação da COVID-19, a capacidade do teatro foi reduzida. 

“No ano passado, fiz três sessões e foi meu recorde de público, com 1.600 pessoas num dia só. Agora, nessa minha segunda ida, estamos na terceira sessão no mesmo teatro, só que agora com 100% da capacidade e já passamos de 2.200 pessoas. Estou muito feliz porque é BH batendo o próprio recorde e o meu recorde de público”, diz.

A comediante enche o público mineiro de elogios: “É um público maravilhoso, todos os comediantes amam a plateia de BH, inclusive sempre levamos alguma coisa pronta para gravar para o canal, porque sabemos que a reação é sempre muito forte, muito boa. Então estou muito empolgada, por mais que fazer três sessões seja muito cansativo, eu sei que vai ser incrível, que vai ser um showzão e vou amar”.

Ela ainda dá spoilers do que o público pode esperar. “Uma Bruna mais madura, falando de alguns problemas de que ainda não falei, algumas coisas mais profundas.”

CARREIRA 

Formada em artes cênicas, ela conta ao Estado de Minas que a comédia nem sempre foi um sonho, mas que a conquistou. “Eu já era atriz quando vi um vídeo de stand up e, no começo, relutei um pouco, por ser muito diferente do que eu fazia”, diz. Ela diz que achava “difícil subir em um palco sem estrutura nenhuma, no sentido de não ter uma luz pensada, figurino, texto escrito por alguém e, principalmente, sem ter outros atores para me dar suporte”. 


Para superar o receio inicial com o formato, que a “assustava” e com a impressão de que “não era capaz” de se desempenhar bem nele, Bruna teve o incentivo de amigos e conhecidos que lhe diziam que o stand up era a sua cara. “Até que tomei coragem. A partir do primeiro momento em que subi no palco, fiquei completamente apaixonada e nunca mais parei de fazer”, comenta.

Com aproximadamente 12 milhões de seguidores, somando-se suas redes sociais, Bruna Louise pode ser considerada hoje uma das maiores vozes da comédia feminina. Atuando em um mercado predominantemente masculino, ela afirma que ainda enfrenta dificuldades para exercer seu trabalho. 

“Sempre vai ter alguém desmerecendo o meu trabalho, duvidando do que eu posso fazer, tentando entender como eu cheguei tão longe e tentando colocar o mérito em outras pessoas ou algum acaso, ou sorte, ou eu estava no lugar certo fazendo a coisa certa. Mas também tem essa representatividade, porque hoje eu tenho um público muito feminino que gosta muito do meu trabalho, e eu fico muito feliz com isso”, diz.

RESISTÊNCIA 

Em seus shows, inspirados em problemas pessoais, ela faz questão de tratar desse assunto de uma forma divertida, mas com o objetivo de incentivar a plateia a refletir sobre a questão. “Stand up é sobre o cotidiano e em absolutamente tudo o que eu faço o machismo está envolvido. As pessoas não têm a menor noção de que na menor escolha que as mulheres têm que tomar, tem machismo – desde se eu posso pegar o metrô às 23h ou o comprimento da minha roupa, se eu posso tomar um vinho sozinha em um bar ou não”, afirma. 

“São pequenas decisões sobre as quais a gente tem que pensar duas vezes e não temos a mesma liberdade que um homem. Então, acho importantíssimo falar a respeito, porque quanto mais a gente questiona, mais a gente muda.”

Embora esteja segura de seu papel na direção da mudança desse quadro, Bruna reconhece que a resistência, sobretudo por parte de uma parcela do público masculino, é grande. “Tenho uma resistência masculina na internet relativamente grande. Apesar de que, no YouTube, por exemplo, meu maior público é masculino”, relata. 


“No meu show, fica muito claro que é meio a meio, até porque vai muito casal. Já no Instagram tem um público muito feminino, então é um equilíbrio. Mas entre quem me xinga,  90% são homens”, observa. “É um machismo estrutural, o mesmo que eu encontro na minha carreira e na vida pessoal. Então é um saco, é difícil, mas não é o suficiente para me fazer desistir.” Na entrevista a seguir, ela fala sobre a carreira, as inspirações para piadas e o projeto de dar mais espaço na comédia para mulheres.

"Stand up é sobre o cotidiano e em absolutamente tudo o que eu faço o machismo está envolvido. As pessoas não têm a menor noção de que na menor escolha que as mulheres têm que tomar, tem machismo - desde se eu posso pegar o metrô às 23h ou o comprimento da minha roupa, se eu posso tomar um vinho sozinha em um bar ou não"

Bruna Louise, comediante



Você tem o projeto Juntas, com o objetivo de ampliar a voz das mulheres na comédia e na sociedade. Você vê a necessidade de levar mais mulheres com você para esta cena da comédia no Brasil? 
Esse meu projeto é para fortalecer e ampliar a cena feminina de comédia no Brasil. Eu não tive quem fizesse isso por mim e hoje eu entendo a importância da minha voz, do meu alcance e acho que tenho essa oportunidade de dar um “empurrãozinho” para outras mulheres. O projeto é uma iniciativa minha de lutar contra essa história de que mulher não é amiga de mulher e que a gente é extremamente competitiva. Não, a gente se ajuda. Então eu pensei em várias maneiras de como mostrar isso e a prática sempre é a melhor.

Olhando para a sua carreira, desde que começou a atuar como atriz até hoje, que avaliação faz de sua trajetória? Há algo de que se arrependa?
Olhando para a minha carreira, desde o princípio, eu me arrependo de não ter confiado em mim antes. Demorei muito para confiar no meu potencial, dei ouvido várias vezes a muitas críticas negativas. Não que elas tenham me parado, mas talvez me atrasaram um pouco. Queria estar passando essa fase da minha carreira um pouco mais nova, apesar de que talvez eu não tivesse maturidade para encarar as coisas do jeito que eu encaro agora. Talvez o meu arrependimento seja mais de ter duvidado de mim quando me apontaram, porque hoje,quando apontam alguma coisa, eu paro e escuto, daí eu falo: “Isso não faz sentido”. Até porque, eu já escuto as mesmas coisas há anos, então já estou acostumada.

Suas piadas são inspiradas em seus problemas pessoais. Isso já lhe trouxe algum constrangimento ou alguma situação inusitada? 
Sim, as minhas piadas são sempre inspiradas em problemas pessoais. Eu estou sempre tentando não pegar muito pesado com as pessoas que convivem comigo. Por exemplo, eu falo brincando da minha mãe, mas não brinco muito para essa “véia” não me deserdar e nunca mais olhar na minha cara. Eu procuro não expor muito as pessoas, então, se eu for contar de um “boyzinho” que deu errado, não vou falar nome nem dar muito detalhe, para ninguém saber realmente quem é e não expor tanto essa pessoa.

Você está no seu terceiro solo de stand up. O que esperar? Que outras novidades estão a caminho?
Estou estreando meu terceiro solo. O primeiro eu já postei no YouTube. O segundo já gravei para a Netflix. Agora estou no terceiro. Não posso falar muito do que esperar, porque o que eu espero sempre é que as pessoas riam, é isso que eu espero (risos). Neste ano, haverá o lançamento do meu especial para a Netflix, mas ainda não temos data. Estou rodando o Brasil com meu novo solo e tenho projetos sobre os quais ainda não posso falar.

Como avalia o mercado de stand up comedy brasileiro?
Acho que o mercado de stand up comedy brasileiro está crescendo muito. Quem está começando hoje vê que existe um futuro pela frente, com a gente que já está vivendo disso. Mas também as pessoas estão entendendo que o que vivemos hoje foi fruto de muito trabalho, sempre levamos tudo muito a sério e ralamos muito.

BRUNA LOUISE
Show solo de stand up. Neste domingo (15/5), no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro), às 14h30, às 17h e às 20h. Ingressos entre R$ 30 (Setor 3) e R$ 80 (Setor 1; esgotados), à venda na bilheteria do teatro e na plataforma Sympla. Mais informações: (31) 3270-8100




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