Jornal Estado de Minas

LITERATURA

Rodrigo França lança "Pretagonismos" na Bienal Mineira do Livro


A Bienal Mineira do Livro recebe nesta sexta-feira (13/5) e sábado o ator e dramaturgo Rodrigo França, que apresenta a coletânea “Pretagonismos”, organizada por ele em parceria com o historiador Jonathan Raymundo. A obra é uma articulação de textos escritos por 28 personalidades negras de diversas áreas da sociedade.





"Como o meu debate vem a partir de narrativas, na configuração de narrativas, narrativa é poder. Narrativa é o que constrói o imaginário, símbolos, valores sociais. A partir daquilo que a gente lê num livro ou assiste num teatro, na novela, até mesmo um filme ou um bate-papo num botequim, ali você vai criando um imaginário de quem é bonito, de quem é feio, de quem tem contabilidade ou de quem não tem”, afirma França. 

“Em contraponto, você tem parte da mídia, principalmente telejornais que falam sobre questões policiais, retratando, num imaginário social, a população negra à margem, construindo um estereótipo de criminalidade. Você não tem o contrassenso que vai falar sobre intelectualidade, sobre produção de conhecimento, sobre tecnologia, artes, cultura e desporto, assim por diante…", observa.

“Pretagonismo”, segundo ele, surge a partir da necessidade de mostrar que o povo negro é dono de suas próprias histórias e que essas histórias são passíveis de serem contadas sem o intermédio de outrem. 





Participam da antologia Elisa Lucinda, Anielle Franco, Érico Braz e Rico Dalasam, entre outros. Narubia Werreria, cantora e ativista, foi convidada para representar as vozes indígenas no projeto.


HISTÓRIA 

A repercussão tem deixado França satisfeito, mas não surpreso. "Existe uma população com muita fome e sede de consumir conteúdo do gênero. É importante sinalizar que é uma pauta de séculos essa relação do resgate da nossa história. A gente sempre escreveu, mas a dificuldade de publicar a nossa escrita faz com que a gente engavete os nossos textos”, afirma.

E pontua: “Não é uma dificuldade econômica, porque, segundo o Instituto Locomotiva, a população negra consome R$ 1,9 trilhão por ano, então não é uma relação da economia. É uma equação em que não se enxerga o potencial de consumo literário dessa população".

Ele pondera, entretanto, que hoje em dia esse olhar começa a se expandir. França está entre os cinco autores mais vendidos do selo Agir, da Editora Ediouro. Seu livro “O pequeno príncipe preto” foi o título infantojuvenil mais vendido na última Bienal do Livro do Rio de Janeiro. O título também é tema de uma das apresentações do autor carioca na Bienal Mineira. "Existe um potencial de consumo e existe gente escrevendo e desejando publicar", diz.





O livro infantil é uma adaptação do texto teatral, cuja montagem foi vista por mais de 60 mil pessoas. "Por mais que um espetáculo faça sucesso, a gente não consegue atingir todas as praças, todas as capitais. E um livro chega numa biblioteca, um livro chega numa escola. Publicar o texto, claro que com uma adaptação literária, fez com que chegasse para mais gente", explica. 

Segundo França, “Pretagonismos” assume uma das principais pautas da negritude: sua pluralidade, sua diversidade. "Ali tem pessoas trans, pessoas cis, diversas orientações sexuais, diversas classes econômicas, posicionamentos políticos. Ao contrário do que se imagina, de que todos os negros são iguais, o livro 'Pretagonismo' vem pra mostrar o oposto, e é um livro que, ao mesmo tempo, retrata muita dor, mas retrata também muita cura.” 

“PRETAGONISMOS”
.Organização: Jonathan Raymundo e Rodrigo França
.Editora Agir (376 págs.)
.R$ 69,90

RODRIGO FRANÇA NA BIENAL MINEIRA DO LIVRO
.Autor do livro “O pequeno príncipe preto” conta sua trajetória na literatura. Nesta sexta (13/5), das 14h às 15h30 – Auditório Ouro Preto, BH Shopping
.Lançamento: “Pretagonismos”, com Jonathan Raymundo e Eliana Alves Cruz. Mediação: Laila Pimenta. Neste sábado (14/5), das 19h30 às 20h30 – Auditório Ouro Preto, BH Shopping. Ingressos para o turno da noite (17h): Inteira: R$ 20 + taxas; Meia: R$ 10 taxas

* Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes