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Estado de Minas MÚSICA

Banda Trem Tan Tan, de usuários do sistema de saúde mental, volta aos shows

Coletivo apresenta ''Sambabilolado e trem negreiro'', nesta sexta-feira (20/5), no pátio do Centro Cultural UFMG, com entrada franca


18/05/2022 04:00 - atualizado 17/05/2022 20:52

Músicos do Trem Tan Tan, reunidos numa sala, exibem instrumentos e sorriem para a câmera
O coletivo Trem Tan Tan, que prepara seu terceiro álbum, se apresenta hoje com direção artística de Babilak Bah (foto: Tatiana Cavinato/Divulgação)

O Coletivo Trem Tan Tan apresenta nesta sexta-feira (20/5), no pátio do Centro Cultural UFMG, o show “Sambabilolado e trem negreiro”. A atração faz parte da agenda de encerramento da 10ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social, promovida pela universidade desde a segunda-feira passada (16/5).

Composto por usuários do sistema de saúde para portadores de sofrimento mental, o coletivo já há duas décadas  utiliza a arte como forma de resistência e luta antimanicomial. Sob direção artística do músico paraibano radicado em Minas Gerais Babilak Bah, o grupo se reapropria de termos pejorativos para compor suas canções, que já foram registradas em dois CDs e um DVD. Um terceiro álbum está em produção.

O nome do grupo faz referência aos trens que faziam o percurso entre Belo Horizonte e a região do Campo das Vertentes, levando os pacientes manicomiais da capital para o Hospital Colônia de Barbacena. 

LOCOMOTIVA DE ENERGIA

"Esse trem de hoje, o Trem Tan Tan, não é um trem que leva para Barbacena, pelo contrário, leva para a inclusão. É um trem que inclui", afirma Babilak, que tem formação como percussionista. Para ele, o projeto se apropria da cultura popular para produzir uma reflexão tanto cultural quanto política, ao trabalhar a loucura como uma potência criativa, instrumento de comunicação para além de meramente um estado mental. 

"O trem entra também como esse signo mineiro, que tudo aqui é trem e se transforma numa locomotiva de energia, uma locomotiva de sentidos", diz.

Iniciado como um projeto de oficina que abarcava mais de 15 pessoas, hoje apenas dois dos integrantes iniciais ainda compõem o coletivo. Com o amadurecimento do trabalho, alguns foram saindo e outros chegando, entre eles Marcos Evandro, que, ao lado de seu colega e xará Marcos Alexandre, frequentava o Centro de Convivência do Barreiro, um dos locais abrangidos pelo projeto.

Além de estar à frente dos vocais e da percussão do grupo, Marcos Evandro também está presente nas composições autorais do coletivo, feitas a partir de discussões entre todos.

"O Trem Tan Tan tem uma trajetória muito positiva, muito bonita e ele vem rompendo algumas correntes de preconceito, pelo fato de todos os integrantes serem usuários da rede de saúde mental, portadores de sofrimento mental”, aponta. 

“Nas nossas letras, nós trazemos muito isso, o nosso sofrimento, o nosso desbravamento sobre esse preconceito, quando a pessoa tem um distúrbio mental e a sociedade rotula essa pessoa como inválida. O Trem Tan Tan tem mostrado que com carinho, cuidado e arte nós rompemos essa barreira. É uma luta diária, não vai parar no ano 2000, no ano 5000 ou no ano 30000. Ela vai continuar, porque é uma barreira que nós temos de romper no dia a dia", afirma. 

Além dele, compõem o coletivo Marcos Alexandre na bateria; Mauro Camilo no trompete e nos vocais; e Rogéria Pereira nos vocais e composições. Após mais de dois anos sem se apresentar presencialmente para o público, Marcos Evandro confessa bater um frio na barriga, mas acredita em uma recepção calorosa como forma de estancar o nervosismo.

"A expectativa é muito boa. A recepção do público é ótima. Os que já conhecem admiram o trabalho. Os que não conhecem começam a desmitificar a questão da loucura em si. Não é um tratamento com o qual você vai encontrar a cura, mas é um tipo de tratamento em que você vai encontrar a estabilidade. E mostra também que o tratamento em liberdade é, sim, viável. Ele é a forma mais correta de se tratarem todas as pessoas." 

“SAMBABILOLADO E TREM NEGREIRO” 
Show musical com o coletivo Trem Tan Tan. Nesta sexta-feira (20/5), às 18h, no pátio do Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro). Entrada franca. Classificação: livre

* Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes


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