Uma casa na praia para chamar de sua. Sonho de muitas famílias brasileiras, acaba sendo a porta de entrada para uma série de problemas – e algumas pequenas alegrias – para Paula (Patrícia Saravy), a personagem central de “A felicidade das coisas”. Primeiro longa da paulista Thais Fujinaga, com produção e distribuição das mineiras Filmes de Plástico e Embaúba Filmes, estreia nesta quinta (19/5), em Belo Horizonte.
Aos 40 anos, Paula tem dois filhos, um menino pré-adolescente e uma garota ainda criança, e está à espera do terceiro. Nas férias de verão, com o marido na capital trabalhando, parte com a prole e a mãe para uma temporada na recém-comprada casa. O espaço, modesto, carece de melhorias. E o dinheiro curto não permite que a família aproveite outros lugares da região, como um clube.
Paula decide construir uma piscina no quintal. A vontade de ter o símbolo de status vai tomando conta da personagem – e as dificuldades para quitar as contas vão levando o sonho para outro lugar. Suas frustrações – com o casamento, com a maternidade, com a relação com a própria mãe – acabam por colidir.
O filme foi rodado em Caraguatatuba, no litoral Norte de São Paulo. Thais partiu da própria história para criar o roteiro.
“Passei as férias da minha infância e adolescência lá, então é um lugar de parte da minha memória afetiva. O bairro do Morro do Algodão é periférico, não tem atrações turísticas, é um lugar de gente trabalhadora comum”, conta.
A diretora diz ainda que “há um clube que fica numa ilha fluvial onde os turistas ficam isolados. Quando eu ia, nos anos 1980 e 1990, era um clube muito cheio. Eu queria pensar numa história sobre este lugar, sobre aqueles que podem acessar o lazer construído e sobre quem está na margem de cá do rio, que não tem acesso”.
OBSERVAÇÃO
Não só o espaço, mas também a própria relação com seus familiares foram levados para o filme. “Eu cresci observando minha mãe e minhas tias na praia. Acho que o filme trata muito das discussões sobre a maternidade hoje em dia. Mas acho que trata principalmente da geração da minha mãe, e das que vieram antes.”
Ela aponta que “eram sempre pessoas sobrecarregadas. Lembro delas nas férias fazendo coisas ao mesmo tempo, muitas vezes não indo à praia porque tinham que fazer comida, ir ao supermercado. É um filme sobre essas mães que acabam, forçadamente, tendo que abraçar o mundo”.
Ao tratar das próprias memórias com um viés ficcional, Thais fala também das lembranças de muitas pessoas que também temporadas na praia com a família na infância. “No caso do filme, escolhi que o marido nunca aparecesse para acentuar as angústias da personagem”, comenta.
“A felicidade das coisas” ganhou o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no ano passado, e também o prêmio de roteiro e atriz coadjuvante (Magali Biff, que interpreta a mãe da protagonista), no FestCine Aruanda.
Mas o destaque do elenco vai para Lavinia Castelari, que interpreta a filha de Paula. A atriz tinha 7 anos quando fez este filme, seu primeiro longa. Depois dele, já fez outros trabalhos. Vai viver Gal Costa na cinebiografia “Meu nome é Gal”, rodada este ano e com previsão de chegar aos cinemas em 2023.
“A FELICIDADE DAS COISAS”
(Brasil, 2021, 87min., de Thaís Fujinaga, com Patrícia Saravy, Magali Biff e Lavinia Castelari) – Estreia no UNA Cine Belas Artes (Sala 3, 18h) e no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 2, 18h30)