Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Peça 'O homem do caminho' resgata a veia libertária de Plínio Marcos


“O homem do caminho”, peça de Plínio Marcos (1935-1999) sobre o universo cigano, ganha nova montagem em BH. Até 29 de maio, o ator Carluty Ferreira sobe ao palco do Teatro Feluma para dar vida a Iur, protagonista do monólogo, dirigido por Eduardo Moreira. Com humor e malícia, este ser errante adota três nomes para tentar driblar a morte.





Foi Carluty Ferreira quem apresentou o texto a Moreira. Não é a primeira vez que ele encena Plínio Marcos. Na virada do século, participou de uma peça do dramaturgo que ficou em cartaz em São Paulo e Curitiba.

PANDEMIA 

A preparação do texto começou em 2019, foi interrompida pela pandemia e retomada em 2021. Carluty destaca o caráter transgressor e libertário da obra de Plínio Marcos, dramaturgo atuante nos anos de chumbo da ditadura militar brasileira.

“O homem do caminho não deixa de ser um homem cigano, sempre em movimento, em contraposição ao que chama de homem prego, essa coisa conservadora. Nesses últimos anos, a sociedade brasileira se transformou numa coisa muito conservadora, em certo sentido. Por isso o texto do Plínio Marcos é importante, pois diz muito para os nossos dias”, comenta o diretor Eduardo Moreira, destacando que o paulista é um dos dramaturgos mais importantes do Brasil.





“Plínio Marcos é um autor que sempre que você vai relendo, descobre novas camadas. É uma dramaturgia realmente muito boa. É muito bom fazer esse espetáculo com o Carluty”, diz Moreira, ator e diretor de várias peças do Grupo Galpão.


A dupla optou por adotar a técnica brechtiana, em que o ator se distancia do personagem. “O texto abre essa possibilidade e acho que ficou bem interessante. O Carluty faz muito bem essa troca de chave da interpretação”, elogia Moreira. Fluente em libras, o ator agregou esse diferencial a uma das cenas da peça.

“O essencial é o espírito libertário do texto e da dramaturgia de Plínio Marcos. Apesar de não ser cigano, ele era muito influenciado por essa coisa cigana, pelo tarô. Uma cultura que não se prende a lugar fixo, que está sempre caminhando, sempre circulando”, destaca Eduardo Moreira.





“O texto do Plínio coloca exatamente a capacidade infinita do ser humano, apesar da opressão e de todo o moralismo das amarras que o prendem. O homem tem predisposição infinita à liberdade e, de certa maneira, o povo cigano encarna muito isso”, observa o diretor.

* Estagiário sob supervisão da  editora-assistente Ângela Faria

“O HOMEM DO CAMINHO”

Peça de Plínio Marcos. Direção: Eduardo Moreira. Com Carluty Ferreira. Em cartaz até 29 de maio, com sessões às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h, no Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275, 7º andar, Centro). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Vendas on-line pelo Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/64417)