Composta em 1946 por Bobby Troup, "(Get your kicks on) Route 66" foi gravada por Nat King Cole (1919-1965) naquele ano. Lançada na época como single, foi um dos primeiros sucessos do jazzista, então em início de carreira. A canção, um diário de viagem em que Troup se inspirou quando cruzou a América em um Buick 1941 para tentar a sorte em Hollywood, impressionou sobremaneira outro jovem músico.
John Pizzarelli tinha 21 anos quando ouviu uma gravação de Nat King Cole tocando “Route 66”. “Foi o primeiro número de jazz que me impactou, tanto lírica quanto musicalmente”, conta o cantor e guitarrista. Hoje com 62, Pizzarelli já soma três álbuns dedicados ao repertório do mestre: “Dear Mr. Cole” (1994), “P.S. Mr. Cole” (1999) e “For centennial reasons: 100 year salute to Nat King Cole” (2019).
É justamente este último, criado para celebrar o centenário de nascimento de King Cole, que traz Pizzarelli novamente ao Brasil. Na noite deste sábado (21/5), ele apresenta o repertório do álbum no Sesc Palladium, ao lado do contrabaixista Mike Karn, que o acompanhou em sua última passagem por BH, em 2018, e do pianista Tadataka Unno.
Confira o clipe de "Route 66":
STANDARDS DE NAT KING COLE
O trabalho reúne 14 faixas, alguns standards de King Cole, como “Straighten up and fly right”, “Body and soul”, “When I fall in love”, além da citada “Route 66”, que encerra o álbum em grande momento. Na homenagem, Pizzarelli ainda incluiu duas canções autorais: “Nat King Cool” e “A hundred years from now”, esta composta em parceria com sua mulher, a cantora Jessica Molaskey.
“Tenho tocado o repertório dele ao longo de 30 anos. Revisitei agora algumas canções, desta vez com o olhar de quem está mais velho”, diz Pizzarelli, que elege o álbum de número 2, “P.S. Mr. Cole”, como o preferido desta trilogia. “Isso porque adoro tocar com o pianista Ray Kennedy (que participou da gravação).”
A curta temporada brasileira é a primeira do músico americano em quatro anos, desde que lançou o álbum “Sinatra & Jobim at 50” (2017), em turnê que fez ao lado de Daniel Jobim, neto de Tom. Os shows no país são ainda os primeiros que Pizzarelli faz fora dos Estados Unidos desde o início da pandemia.
“Foi um período difícil, voltei a tocar somente em agosto do ano passado. Mas consegui inclusive gravar um disco de casa”, diz ele, referindo-se a “Better days ahead: Solo guitar takes on Pat Metheny” (2021). A crise sanitária foi especialmente trágica para sua família. Em 1º de abril de 2020, o pai do músico, o lendário guitarrista Bucky Pizzarelli, sucumbiu à COVID-19. Tinha 94 anos.
O guitarrista tocou com Frank Sinatra, Ray Charles, Sarah Vaughan, Miles Davis, Dizzy Gillespie e o próprio Nat King Cole. Apresentou-se, apesar de problemas de saúde, até 2018. “Foi muito pesado para todos nós, pois ele estava em casa com minha mãe e meu irmão e ninguém podia ir até lá. Minha mãe morreu oito dias depois do meu pai”, conta Pizzarelli.
O casal Bucky e Ruth, que teve quatro filhos, ficou casado por 66 anos. “A gente tenta superar este momento por meio da música, o que é a melhor coisa a fazer”, comenta.
A proximidade de Pizzarelli com o Brasil se deu há muitos anos, por meio da bossa nova. Além do supracitado álbum em torno de Tom Jobim e Frank Sinatra, ele já gravou o disco “Bossa nova” (2004), só com repertório brasileiro. Quem sabe cabe alguma coisa no show desta noite? “Talvez eu faça um pequeno set de bossa nova, já que sempre é tão bom tocar”, afirma.
JOHN PIZZARELLI TRIO
Show neste sábado (21/5), às 21h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Plateia 1 – R$ 150 e R$ 75 (meia); Plateias 2 e 3 – R$ 130 e R$ 65 (meia). À venda na bilheteria e no site Sympla