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Estado de Minas CINEMA

Filmes exibidos em Cannes discutem islã, racismo e perseguição a imigrantes

Tarik Saleh, diretor de 'Boy from heaven', diz que Ocidente não entende nada sobre islamismo. 'RMN', longa de Cristian Mungiu, questiona ódio racial


23/05/2022 04:00 - atualizado 23/05/2022 00:33

Usando fones de ouvido, diretor Tarik Saleh sorri, com a mão no queixo, durante entrevista no Festival de Cannes
Tarik Saleh sorri ao falar de seu filme "Boy from heaven", no festival francês (foto: Julie Sebadelha/AFP)

“O Ocidente está obcecado pelo islã e, ao mesmo tempo, não entende nada sobre essa religião”, afirmou o diretor sueco Tarik Saleh, filho de pai egípcio, cujo filme, “Boy from heaven”, disputa a Palma de Ouro no Festival de Cannes, que terá sua 75ª edição encerrada no próximo sábado (28/5).

Quase cinco anos depois de “O incidente no Nile Hilton”, Saleh volta com um thriller político-religioso que denuncia o viés autoritário do presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi e mergulha no mundo do islã sunita.

“Boy from heaven” documenta com precisão as doutrinas opostas da corrente majoritária do islã, e oferece aos espectadores o olhar – de dentro – de um mundo pouco conhecido.

“Acredito realmente que o Ocidente não entende nada do islã”, insistiu Saleh, destacando sua relação pessoal com a religião.

Assim como “O incidente no Nile Hilton”, rodado no Marrocos, “Boy from heaven” não pôde ser filmado no Egito, mas na Turquia.

“Não voltei ao Egito desde 2015. Durante as filmagens de 'O incidente no Nile Hilton', os serviços de segurança egípcios nos mandaram deixar o país. Desde então, sou um indesejável que se colocar o pé em solo egípcio será detido”, assegurou.

Homem agachado com espingarda mira em algo, ao lado de criança, em cena do filme RMN
Cena de'RMN', filme do diretor romeno Cristian Mungiu sobre a xenofobia na Europa (foto: Cannes/reprodução)

TRANSILVÂNIA

Diretor aclamado do Leste Europeu, o romeno Cristian Mungiu voltou a Cannes com um filme sobre racismo e a rapidez com que o ódio pode surgir em uma comunidade.

“RMN” conta a história de uma cidade na Transilvânia onde coabitam várias comunidades, incluindo romenos, húngaros e alemães. O cotidiano é alterado com a chegada de três cingaleses para trabalhar em uma padaria. A presença deles afeta os vizinhos e o clima fica cada vez mais tenso.

Mungiu disputa a segunda Palma de Ouro, 15 anos depois de levar o prêmio com “4 meses, 3 semanas, 2 dias”, filme sobre o aborto. Em seu novo longa, quando vizinhos hostilizam os imigrantes do Sri Lanka, autoridades convocam reunião pública para decidir o destino deles.

“Por meio de pequenos eventos em pequenas cidades, tento falar sobre a natureza humana e a situação do mundo hoje, a sensação de que as coisas não estão indo na direção certa”, comentou Mungiu.

“Vinte e quatro horas são suficientes para identificar um inimigo (...) e liberar os instintos animais que estão em nós. Pessoas vizinhas são capazes de qualquer coisa amanhã, de estuprar, torturar ou matar”, alertou.  

Atriz e diretora Claudia Cochet olha para a câmera
Claudia Cochet aposta em nova linguagem (foto: Reprodução)
TIKTOK E SÉTIMA ARTE


Vídeos do TikTok representam liberdade para criar, sem amarras financeiras e trazendo a possibilidade de “nova gramática visual”, com planos verticais, acreditam jovens que usam o aplicativo, parceiro desta edição do Festival de Cannes. A plataforma lançou concurso de curtas e Claudia Cochet, atriz francesa de 34 anos, ganhou o prêmio de melhor roteiro com “Princesse moderne”, de três minutos. “O TikTok me dá liberdade criativa e um público, além de confiança para fazer as coisas por conta própria”, afirmou ela.


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