Como homem público, o grande legado de D. Pedro I (1798-1834) ao Brasil foi a Independência, em 1822, e a Constituição de 1824, a primeira do país. No entanto, sua imagem popular era a de um homem farreador, mulherengo, que abria mão dos grandes salões para sair às ruas. A música era uma paixão desde sempre, tanto que outro lado do imperador brasileiro está sendo destacado pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Desde segunda-feira (23/5), a orquestra se reúne na Sala Minas Gerais para, durante cinco horas diárias, gravar peças compostas por D. Pedro I. São quatro obras: o “Hino da Independência”, o mais conhecido deles, sua abertura, mais duas peças de cunho religioso, “Credo” e “Te Deum”. O registro será lançado em setembro, no bicentenário da Independência, pelo selo internacional Naxos, em parceria com o Itamaraty.
As gravações irão até a manhã de sexta (27/5). À noite, orquestra e convidados, sob a regência do maestro Fabio Mechetti, recebem o público na Sala Minas Gerais para concerto único deste repertório. A Filarmônica estará acompanhada da soprano Carla Cottini, da mezzo-soprano Luisa Francesconi, do tenor Cleyton Pulzi, do baixo-barítono Licio Bruno e de 40 vozes do coral Concentus Musicum de Belo Horizonte, dirigido por Iara Fricke Matte.
''Existem momentos que mostram consciência de escrita no contraponto, na harmonia. Talvez D. Pedro tenha tido apoio de outros compositores da corte. É fato que sua música é agradável de ouvir, ainda que não tenha nada de original''
Fabio Mechetti, regente da Filarmônica
ESFORÇO CONCENTRADO
Na quarta-feira, terceiro dia de gravações, Mechetti falou ao Estado de Minas sobre o projeto. “Está sendo bem diferente do normal. Como temos variáveis – coro e quatro solistas –, o processo está sendo um pouco mais compartimentado. Começamos com um trecho com coro e depois, mais tarde, só com solistas. Vamos ‘picotando’ a obra. Repete-se bastante para tentar colocar o melhor. É desgastante, mas, ao mesmo tempo, interessante”, comentou.
O projeto tem uma carga de ineditismo – o “Te Deum” inteiro nunca foi gravado. “E o que tem de gravação do ‘Credo’ é muito antigo, de má qualidade. Como um álbum completo, é a primeira vez (que D. Pedro I é gravado)”, comentou o regente da Filarmônica mineira.
As quatro peças duram um pouco mais de uma hora. “Para alguém que não é um compositor profissional, ter mais de uma hora de música já é um feito. Não saberia totalizar quantas eles compôs, pois deixou algumas inacabadas. As que estamos gravando são as mais importantes”, completou Mechetti.
O maestro explica que em termos de estilo musical D. Pedro foi influenciado pelo pré-classicismo, na fase rococó. “Ele soa como Rossini, tem um pouquinho de Mozart, que são as influências do período.”
Para Mechetti, como compositor, o imperador “segue as regras da época”. “Existem momentos que mostram consciência de escrita no contraponto, na harmonia. Talvez ele tenha tido apoio de outros compositores da corte. É fato que sua música é agradável de ouvir, ainda que não tenha nada de original.”
Para Mechetti, como compositor, o imperador “segue as regras da época”. “Existem momentos que mostram consciência de escrita no contraponto, na harmonia. Talvez ele tenha tido apoio de outros compositores da corte. É fato que sua música é agradável de ouvir, ainda que não tenha nada de original.”
Originalidade, para Mechetti, é ter um imperador compositor. “Toda a nobreza da época estudava música ou pintura, mas são exemplos isolados os que realmente compuseram”, continuou ele, citando outro “colega” de D. Pedro, o príncipe Louis Ferdinand da Prússia (1772-1806).
“De certa forma, é original o fato de o imperador tocar vários instrumentos (flauta, trombone, violoncelo e harpa) e também ter composto algumas obras”, concluiu o maestro.
“De certa forma, é original o fato de o imperador tocar vários instrumentos (flauta, trombone, violoncelo e harpa) e também ter composto algumas obras”, concluiu o maestro.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Concerto pelo bicentenário da Independência. Nesta sexta (27/5), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090 – Barro Preto). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). À venda na bilheteria e no site filarmonica.art.br