O Festival de Cinema de Cannes chega ao fim neste sábado (28/5), sem um claro favorito entre os 21 concorrentes à Palma de Ouro, o principal prêmio do evento francês. Esta 75ª edição foi marcada pelo ecletismo, tanto de temas quanto de estilos cinematográficos.
“Un petit frère”, de Léonor Serraille, e “Showing up”, de Kelly Reichardt, encerraram as exibições ontem, após quase duas semanas de competição. O ator francês Vincent Lindon comanda o júri de nove membros. O Brasil não disputa a Palma de Ouro em 2022. Há três anos, o país levou o prêmio do júri com “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
DENÚNCIA SOCIAL
Filmes sociais e de denúncia chamaram a atenção nesta edição – entre eles, o iraniano “Holy spider”, sobre um serial killer de mulheres, de Ali Abbasi; “Tori et Lokita”, dos irmãos belgas Dardenne, sobre menores migrantes; e “RMN”, do romeno Cristian Mungiu, sobre racismo e extremismo.
A meio caminho entre a denúncia e a sátira feroz, “Triangle of sadness”, do sueco Ruben Ostlund, aborda o mundo dos privilegiados.
Outros diretores mostraram filmes introspectivos, como “Nostalgia”, do italiano Mario Martone, ambientado em uma Nápoles sob o controle da Camorra, e “Armagedon time”, de James Gray, memórias da Nova York dos anos 1980. Já “Close”, de Lukas Dhont, trata da amizade entre dois adolescentes separados de forma traumática.
Cannes foi o local escolhido por cineastas para trazer à tona problemas ligados a situações sociais injustas, principalmente envolvendo mulheres. É o caso do iraniano “Leila's brothers”, de Saeed Roustaee, sobre uma família à beira da ruína, e “Broker”, do japonês Hirokazu Kore-eda, sobre o abandono de crianças na Coreia do Sul.
Também disputa a Palma de Ouro o policial “Decision to leave”, do sul-coreano Park Chan-Wook, sobre um policial apaixonado por misteriosa mulher, suspeita de assassinato. Já “Boy from heaven”, do sueco de ascendência egípcia Tarik Saleh, é um thriller ambientado no Egito contemporâneo.
Dramas históricos também ganharam espaço na Croisette. A competição começou com “Tchaikovsky's wife”, do russo Kirill Serebrennikov, sobre adversidades enfrentadas pela mulher do grande compositor.
O cinema francês foi representado por quatro filmes: “Stars at noon”, de Claire Denis, romance tingido de mistério; “Les amandiers”, de Valeria Bruni-Tedeschi, homenagem ao teatro; o drama familiar “Frère et soeur”, de Arnaud Desplechin; e “Un petit frère”, de Léonor Serraille.
Na área do cinema fantástico ou experimental, “Eo”, de Jerzy Skolimowski, relata as aventuras de um burro; “Pacification”, do espanhol Albert Serra, traz uma pitada de espionagem no exótico Taiti; e “Crimes of the future”, do canadense David Cronenberg, aborda órgãos humanos como obras de arte.
Veja trailer de "Crimes of future":
TERROR DO FUTURO
O filme de Cronenberg, chamado de “terror do futuro” e estrelado por Viggo Mortensen, Kristen Stewart e Léa Seydoux, causou polêmica.
Parte do público abandonou a sessão, na última terça-feira (24/5), devido a cenas sangrentas e escatológicas do longa. Os personagens de Mortensen e Seydoux são artistas performáticos que removem órgãos de corpos ao vivo, diante da plateia.
Em 2021, Cannes deu a Palma de Ouro a “Titane”, filme polêmico e futurista sobre transexualidade, assinado pela diretora francesa Julia Ducournau.
UCRÂNIA EM FOCO
Cannes prometeu e cumpriu: a Ucrânia esteve presente “em todos os corações”. Quatro filmes do país foram apresentados: “Pamfir”, de Dmytro Sukholytkyy-Sobchuk, retrato sem concessões da região de Chernivtsi, na fronteira entre Ucrânia e Romênia; “The natural history of destruction”, de Sergei Loznitsa, sobre bombardeios dos Aliados na Alemanha durante a Segunda Guerra; “Mariupolis 2”, do lituano Mantas Kvedaravicius, cineasta morto pelas tropas russas durante as filmagens; e “Butterfly vision”, de Maskym Nakonechni, sobre mulheres militares ucranianas capturadas pelos russos.