Um grande painel do violão brasileiro começa a ser montado em Belo Horizonte a partir da próxima quinta-feira (2/6), quando diversos representantes do instrumento, de diferentes escolas, se apresentam no Centro Cultural Banco do Brasil.
Leia Mais
Com exposição em BH, João Diniz reflete sobre a arquitetura da palavraCelso Adolfo fala sobre álbum em homenagem à sua cidade-natalJúri se reúne para decidir se acredita em Johnny Depp ou Amber Heard O veterano Tadeu Franco e o jovem Felipe Bedetti apresentam 'Parceiragem'Alcova Libertina estreia em disco com "Libertália - Volume 1"Erasmo festeja chegada da bisneta com rock na veia e apelo ambientalistaAtor Milton Gonçalves morre aos 88 anosLar de idosos é o centro da trama do novo humorístico de Leandro HasssumDelegado atuará como anfitrião, fazendo alguns números de abertura em cada noite de apresentações, antes de anunciar e receber os convidados. Depois de Belo Horizonte, o Encontro do Violão Brasileiro será realizado também em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, nas unidades do CCBB.
Para cada cidade foi escalado um grupo diferente de músicos – o que, no conjunto, congrega os nomes de Rogério Caetano, Toninho Horta, Lula Galvão, Nelson Faria e Ulisses Rocha.
Para cada cidade foi escalado um grupo diferente de músicos – o que, no conjunto, congrega os nomes de Rogério Caetano, Toninho Horta, Lula Galvão, Nelson Faria e Ulisses Rocha.
Trata-se de um recorte que mostra a riqueza do instrumento, trazendo novos talentos em diálogo com nomes já consolidados, segundo Delegado. Ele aponta que o fato de ser realizado em mais de uma cidade se configura como uma oportunidade para pessoas de Minas e de outros estados se apresentarem em lugares diferentes, cada um com suas influências, que passam pelo erudito, jazz, samba e choro, mostrando essa diversidade.
CURADORIA
O idealizador do evento observa que, quando o assunto é o violão, o Brasil tem um cenário que repercute em todo o mundo, daí a natural dificuldade de se fazer a curadoria para um encontro como esse.
“A gente se orientou por nomes que vêm escrevendo a história do violão, trazendo músicos que têm uma longa trajetória e também contemporâneos meus, que mantêm a tradição do instrumento, como Zé Paulo Becker ou Rogério Caetano, além de um pessoal da nova geração, que está chegando agora”, diz.
Ele cita como exemplo a jovem Gabriele Leite, tida como uma das grandes revelações do violão na atualidade. Ter uma representação feminina na seleção dos músicos convidados a participar deste primeiro Encontro do Violão Brasileiro foi uma preocupação da curadoria, segundo Delegado.
Ele observa que o Brasil não tem uma tradição de mulheres instrumentistas, mas que esse cenário vem mudando aos poucos.
“Se você pegar um prêmio como o BDMG Instrumental, por exemplo, que é realizado há mais de duas décadas, só quatro mulheres ganharam ao longo dessa história – três delas nas quatro últimas edições. No Brasil, as mulheres sempre ocuparam o posto de cantoras, não havia um incentivo para as instrumentistas. Isso está mudando, é um caminho a ser percorrido, a gente tem que dar esse estímulo para que as mulheres ocupem esse espaço”, diz.
Ele destaca que, além de Gabriele, a seleção de músicos que se apresenta em Belo Horizonte inclui Cecília Siqueira, do Duo Siqueira Lima, “um talento incrível”. Delegado diz que não houve, por parte da curadoria, o intuito deliberado de contemplar diferentes escolas do violão brasileiro, mas que, naturalmente, isso acabou ocorrendo.
“A gente se preocupou mais em pegar nomes que fossem representativos do violão brasileiro, mas o país é um celeiro muito rico. O Toninho Horta é um violão brasileiro completamente diferente do Ulisses Rocha, que é mais ligado ao ambiente erudito, e ambos são diferentes do Guinga, que é de outra escola”, observa.
“A maneira como Rogério Caetano toca o violão de sete cordas de aço é um negócio totalmente único. É uma questão de ver a pluralidade. Chegamos a essa seleção de forma natural”, acrescenta.
REPERTÓRIO
Cada artista convidado teve liberdade para escolher seu repertório. “Os violonistas vão apresentar aquilo que quiserem tocar; cada um faz da forma que se sente mais à vontade. O violão solo pede isso”, comenta Delegado. Ele diz que pode, eventualmente, fazer uma participação especial no show de algum dos músicos escalados, mas que isso não é algo programado.
“Meu papel é de anfitrião mesmo. A ideia é que eu abra a noite, toque duas ou três músicas, me apresente, receba o convidado, fale um pouco da pessoa, da carreira dela, e deixe o palco com ela. Nada impede que um ou outro me chame para tocar junto algum número, mas isso não está no script.”
Ele aponta que pelo fato de essa ser a primeira edição do encontro, que tem em Belo Horizonte sua primeira praça, “vamos descobrir essa dinâmica com a coisa acontecendo”. Delegado afirma que vem gestando a ideia do Encontro do Violão Brasileiro desde antes da pandemia, juntamente com a produtora Renata Chamilet, que responde pela direção-geral do evento e também pela curadoria.
Nesse percurso, dos primeiros esboços até agora, pontuaram, para Delegado, alguns estímulos para levar adiante o projeto. Um deles foi participar, no ano passado, da edição on-line do Festival Internacional de Violão, precursor desse formato em Belo Horizonte, criado em 2005 por Juarez Moreira, Fernando Araújo e Aliéksey Vianna.
“Não tenho um trabalho solo; até agora, sempre atuei acompanhado de banda, então a participação no Festival Internacional de Violão foi um estímulo a mais para mostrar esse meu lado. O Juarez (Moreira), que é meu amigo, meu professor, um músico por quem tenho uma consideração enorme, indiretamente me incentivou a promover esse Encontro”, ressalta.
Ele adianta que, nos momentos em que estiver em cena, vai apresentar arranjos para obras clássicas de autores como Pixinguinha e Dilermando Reis, entre outros, e também mostrar sua lavra própria, registrada nos quatro álbuns que já lançou até aqui.
“Como tudo o que registrei nesses discos foi com banda, então vou trazer essas coisas de volta para o violão solo, que, afinal, é onde elas foram compostas. Estou achando bom exercitar esse lado. A pandemia me trouxe para mais perto do violão, porque, com a agenda de shows parada, foi o que restou. No Encontro do Violão Brasileiro vou mostrar as coisas que gosto de tocar sozinho.”
ESPAÇO
Atração da terceira noite do evento, no próximo sábado, Zé Paulo Becker, um dos fundadores do Trio Madeira Brasil, diz que ficou muito feliz com o convite para participar dessa primeira edição. Ele sublinha a importância de iniciativas como essa.
“O violão brasileiro precisa desse espaço, porque é um violão único, que se destaca no mundo inteiro. Fiz uma turnê recente pelos Estados Unidos e você percebe isso claramente. Acompanho o trabalho do Thiago e acho que ele fez uma seleção que abraça um espectro grande de estilos, do Duo Siqueira Lima a Guinga. Fiquei honrado com o convite, porque tem nomes muito representativos participando”, diz.
Zé Paulo Becker está lançando um livro, intitulado precisamente “Violão brasileiro”, que reúne arranjos para o instrumento de temas de Chico Buarque, Edu Lobo, Guinga, Cartola, Sivuca e Tom Jobim, entre outros, além de composições próprias. Esse é o repertório que ele pretende apresentar em Belo Horizonte. “Feira de Mangaio”, de Sivuca; “Amor proibido”, de Cartola, e “Chovendo na roseira”, de Jobim, são algumas das músicas presentes no roteiro do show.
Composições inéditas também serão executadas, já que o instrumentista está em processo de lançamento de um novo álbum. “Tenho lançado singles. Um próximo, que já está no prelo, se chama ‘Minas dos tambores’ e reflete essa ligação que tenho com o estado, até pelo laço acadêmico, porque sou professor da Universidade Federal de Juiz de Fora”, diz.
Ele diz que neste novo trabalho, que está apresentando em doses homeopáticas, sai de sua zona de conforto. Afeito ao universo do choro, que pratica com o Trio Madeira Brasil, Becker investe agora em uma sonoridade mais jazzística.
“O álbum vai se chamar ‘Outro mundo’ e nele toco violão e guitarra, com uma formação de banda, com baixo, bateria, e influência da música mineira, Milton Nascimento, Toninho Horta, e também Pat Metheny. É ‘Outro mundo’ porque, justamente, tem essa ideia de ser uma coisa diferente do que normalmente faço.” O músico começou tocando violão clássico, dos 10 aos 20 anos, antes de abraçar o choro.
Ele aponta que ter vivenciado esses dois universos lhe permite ver em perspectiva que, ao longo dos últimos anos, as fronteiras entre eles estão ficando cada vez mais borradas. “No meu tempo de estudante, a coisa era mais claramente dividida. Hoje já tem uma garotada que traz todas essas informações, do erudito e do popular, misturadas, faz esse crossover, o que acho que é uma tendência mundial.”
THIAGO DELEGADO RECEBE
Confira a programação do encontro, cujos shows estão marcados para as 20h
» QUINTA-FEIRA (2/6)
Guinga
Gabriele Leite
» SEXTA-FEIRA (3/6)
Celso Moreira
Carlos Walter
Lucas Telles
» SÁBADO (4/6)
14h – Masterclass com
Thiago Delegado
20h – Zé Paulo Becker
» DOMINGO (5/6)
Duo Siqueira Lima
ENCONTRO DO VIOLÃO BRASILEIRO