“Poematéria: arquitetura da palavra”, do artista e arquiteto belo-horizontino João Diniz, é a exposição em cartaz na Grande Galeria do Centro Cultural da UFMG. Com o objetivo de explorar as possibilidades de diálogo entre arquitetura e outras formas de arte, a mostra reúne obras que buscam uma convergência entre as linguagens da fotografia, desenho, pintura, escultura, poesia, cinema, performance e design. A visitação ficará aberta até 26 de junho.
“Eu chamo de ‘transArquitetura’ ou ‘arquitetura expandida’ essa maneira de se crescer a arquitetura para outras linguagens”, afirma o artista. Ele explica que “essa exposição é a expansão da arquitetura através da palavra. Eu trabalho com poesia visual e artes visuais ligadas ao texto”.
Segundo João Diniz, o nome “Poematéria” faz alusão à palavra “poema”, traduzida e ressignificada enquanto objeto. “É uma exposição sobre a escrita em suportes não prováveis, considerando que o suporte mais convencional é a folha de papel. As obras trazem suportes diferentes”, afirma.
Um dos lados da primeira das quatro salas que a mostra ocupa se dedica à questão da caligrafia e do texto escrito a mão, ou seja, “a primeira forma de se trabalhar o texto e usá-lo como linguagem”, de acordo com o arquiteto. As pinturas e os desenhos coletivamente chamados de ‘manusGritos’ pelo autor pretendem trabalhar as possibilidades de construção de textos.
Também é exposta, do lado oposto, uma montagem de pinturas com spray que tratam da letra “A” e sua ligação com o universo feminino. “A que É” traz frases como “‘A’ que apaixona”, “‘A’ que conserva” e “‘A’ que cuida”.
No meio da sala, uma mesa de vidro guarda objetos poético-arquitetônicos ("poemobjetos") produzidos por João Diniz, bem como um mostruário de livros e obras desenvolvidos pelo arquiteto.
PINTURAS
No hall do centro da galeria, um aparelho de televisão exibe aproximadamente 20 cineclipes, todos filmados por João Diniz, que mostram performances, poemas visuais e a criação das obras do autor, e enfatizam a questão do som.
Pinturas das séries “typos extraños” e “decifráveis” estão nas paredes da sala e brincam com diferentes tipos de grafias e formas de escrita.
“tipogramas” é a instalação que ocupa a primeira das grandes áreas da galeria e é composta por letras de aço que fizeram parte da obra “cuboesia e jardim de aço”, montada no parque do Palácio das Mangabeiras, em 2019.
Trata-se de um enorme cubo com o interior vazado para permitir a entrada do público, onde as grandes letras escrevem frases em cada uma das faces. “tipogramas” interage com os visitantes, que podem manipular as letras expostas no chão para formar novas palavras e idiomas.
Trata-se de um enorme cubo com o interior vazado para permitir a entrada do público, onde as grandes letras escrevem frases em cada uma das faces. “tipogramas” interage com os visitantes, que podem manipular as letras expostas no chão para formar novas palavras e idiomas.
“Seria como uma saída para o mundo caótico e complicado em que vivemos. A ideia de um novo idioma poderia ser interessante no momento atual”, afirma João Diniz.
Três grandes faixas de tecido de 1,5 metro por 12 metros compõem a obra “poéticas leituras”. Elas fizeram parte da instalação que ocupou o Edifício Sulacap na Festa da Luz, em outubro do ano passado.
ESCRITA
Sobre a relação entre arquitetura e escrita, seu principal interesse de estudo e pesquisa, João Diniz explica que a ocupação do espaço da galeria por materiais de construção se assemelha à construção da fala e do discurso.
“Eu digo que a arquitetura é a qualificação do vazio; ela transforma o vazio banal em vazio significativo e cultural. Se pensarmos que uma folha de papel também é uma espécie de vazio, quando escrevemos, tentamos qualificar esse vazio”, argumenta.
No dia da abertura (19/5), a performance “Avantypus” foi realizada e gravada, estando disponível na página do Facebook do autor. Até o encerramento da exposição, serão realizadas outras atividades com a presença do artista e de convidados.
Na próxima quarta-feira ( 1º/6), haverá um sarau de poesias do qual participa o coletivo de leitura Asas de Papel, ao lado de João Diniz. No próximo dia 8/6, será realizada uma aula/bate-papo sobre arte e curadoria com a artista visual, escritora e professora Celina Lage, curadora da exposição, ao lado da historiadora, crítica de arte, escritora e professora Marília Andrés.
No dia 15/6, ambas se juntam ao professor, pesquisador e poeta Anelito de Oliveira e às artistas Andrea Dario e Bel Diniz, além da reedição da performance “Avantypus”. Os eventos ocorrerão das 19h às 21h. No dia do encerramento da mostra, numa ação que o artista nomeou como ‘finissage’, a performance será realizada mais uma vez.
“POEMATÉRIA: ARQUITETURA DA PALAVRA”
Individual de João Diniz. Curadoria de Marília Andrés e Celina Lage. Em cartaz na Grande Galeria do Centro Cultural da UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro). De terça a sexta, das 9h às 20h; sábado, domingo e feriado, das 9h às 17h. Classificação: livre. Entrada franca. Informações: (31) 3409-8290
* Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes