O artista plástico carioca Raul Mourão passou os últimos seis meses imerso em seu ateliê, na companhia do poeta e professor de literatura Eucanaã Ferraz, criando obras especialmente para a exposição que será inaugurada nesta quinta-feira (2/6), na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte. A mostra “Evite acidentes” é subdividida em diversos espaços e momentos, como se fossem várias em uma só, segundo o artista.
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LITERATURA
Ao longo do tempo, Mourão vem trabalhando com Ferraz, que, a despeito de ser mais identificado com o universo da literatura, tem realizado, há mais de 20 anos, curadorias em diversas exposições ligadas a Chichico Alkmim, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector.O título “Evite acidentes”, segundo Raul Mourão, é um comentário sobre o atual momento do Brasil e do planeta, servindo de mote para uma espécie de manifesto escrito por Eucanaã Ferraz.
“Temos que ser mais cuidadosos em cada gesto para criar um ambiente coletivo para todos. ‘Evite acidentes’ é aquela placa de estrada mesmo. O Eucanaã amplificou essa ideia, fez um texto que coloca o conjunto de obras em um outro lugar, como se houvesse ali potência política numa poética plástica”, aponta o artista plástico.
A exposição reúne 96 obras em vários suportes – esculturas, pinturas, monotipias, desenhos e fotografias, entre outros. Logo na entrada, o visitante se depara com uma pintura em grande formato e duas esculturas cinéticas – ou balanços.
Um espaço de transição traz pinturas e esculturas de tamanho mais reduzido, o que traduz a exploração, por parte do artista, de diferentes escalas. No terceiro momento expositivo, há a reordenação do ambiente do ateliê de Mourão, no Rio de Janeiro, com três mesas de trabalho servindo de palco para esculturas de pequeno porte e monotipias.
Eucanaã Ferraz afirma que por se tratar de mostra pensada para Minas Gerais, o ferro, o barro e o papel fazem parte de várias obras. “São muitas atmosferas, então é uma exposição de climas, como se você estivesse em um museu”, aponta.
O curador destaca desenhos inéditos, monotipias e esculturas de mesa. “O trabalho tem muito de delicadeza, com dinâmica entre a força e o peso do ferro com a fragilidade do vidro, uma coisa posta sobre a outra”, explica.
Ferraz não considera que haja dimensão política explícita em “Evite acidentes”, mas assente que seu texto-manifesto é uma tomada de posição estética diante do mundo atual.
“É um manifesto contra a grosseria, a força bruta, a deselegância; ele propõe o contrário disso, o cuidado, a atenção, o diálogo. É uma ação consciente contra um mundo horrível. É claramente a proposição de um mundo que não é este em que a gente está vivendo”, ressalta.
“É um manifesto contra a grosseria, a força bruta, a deselegância; ele propõe o contrário disso, o cuidado, a atenção, o diálogo. É uma ação consciente contra um mundo horrível. É claramente a proposição de um mundo que não é este em que a gente está vivendo”, ressalta.
BANDEIRA PRETA
Há uma bandeira do Brasil preta com a parte central recortada. O poeta observa que, de resto, a mostra não traz nada que seja comentário político objetivo. “Não é exposição literária, a gente não está contando uma história. Não tem muita conversa, é para ver, sentir e seguir em frente. Espero seguir em frente evitando acidentes.”Raul Mourão ressalta que ao reproduzir, em parte, o ambiente íntimo de seu ateliê, a exposição amplia o universo pessoal dele, dando maior dimensão a seus projetos e experiências processuais.
“Aqui tem um pouquinho da nossa guerra diária. O ateliê está presente, com mesas idênticas às que tenho lá. A proposta de revelar os bastidores tem a ver com a forma como você vê o mundo. A gente quer alterar o jeito como a pessoa vê o mundo, atacar a sensibilidade”, aponta.
“EVITE ACIDENTES”
Várias linguagens. Obras de Raul Mourão. De quinta-feira (2/6) até 2 de julho. Celma Albuquerque Galeria de Arte, Rua Antônio de Albuquerque, 885, Savassi. Aberta de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 13h30. Informações: (31) 3227-6494.