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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Em 'Evite acidentes', Raul Mourão propõe novas formas de lidar com o mundo

Artista plástico expõe 96 obras na galeria Celma Albuquerque, a partir de quinta-feira (2/6). O poeta Eucanaã Ferraz é curador e parceiro dele nessa empreitada


01/06/2022 04:00 - atualizado 01/06/2022 08:25

Artista plástico Raul Mourão, com a mão no queixo, em frente a imensa pintura, em vermelho, preto e amarelo, da exposição Evite acidentes
Raul Mourão diz que exposição em BH traduz a ''guerra diária'' que ele trava no seu ateliê carioca (foto: Lucas Albuquerque/divulgação)

O artista plástico carioca Raul Mourão passou os últimos seis meses imerso em seu ateliê, na companhia do poeta e professor de literatura Eucanaã Ferraz, criando obras especialmente para a exposição que será inaugurada nesta quinta-feira (2/6), na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte. A mostra “Evite acidentes” é subdividida em diversos espaços e momentos, como se fossem várias em uma só, segundo o artista.


“Ele visitou o ateliê insistentemente durante o período em que desenvolvi as obras, foi de uma generosidade e disponibilidade fora do padrão para interferir. Ele quase que se misturou (comigo), como se quisesse virar coautor. Tem artista que talvez se incomode com isso, mas eu gosto. Foi uma troca com o curador que é poeta”, diz.

LITERATURA

Ao longo do tempo, Mourão vem trabalhando com Ferraz, que, a despeito de ser mais identificado com o universo da literatura, tem realizado, há mais de 20 anos, curadorias em diversas exposições ligadas a Chichico Alkmim, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector.

O título “Evite acidentes”, segundo Raul Mourão, é um comentário sobre o atual momento do Brasil e do planeta, servindo de mote para uma espécie de manifesto escrito por Eucanaã Ferraz.

“Temos que ser mais cuidadosos em cada gesto para criar um ambiente coletivo para todos.  ‘Evite acidentes’ é aquela placa de estrada mesmo. O Eucanaã amplificou essa ideia, fez um texto que coloca o conjunto de obras em um outro lugar, como se houvesse ali potência política numa poética plástica”, aponta o artista plástico.

A exposição reúne 96 obras em vários suportes – esculturas, pinturas, monotipias, desenhos e fotografias, entre outros. Logo na entrada, o visitante se depara com uma pintura em grande formato e duas esculturas cinéticas – ou balanços.

Um espaço de transição traz pinturas e esculturas de tamanho mais reduzido, o que traduz a exploração, por parte do artista, de diferentes escalas. No terceiro momento expositivo, há a reordenação do ambiente do ateliê de Mourão, no Rio de Janeiro, com três mesas de trabalho servindo de palco para esculturas de pequeno porte e monotipias.

Escultura de Raul Mourão criada com formas retangulares
Ferro das esculturas remete a Minas Gerais (foto: Lucas Albuquerque/divulgação)
Eucanaã Ferraz afirma que por se tratar de mostra pensada para Minas Gerais, o ferro, o barro e o papel fazem parte de várias obras. “São muitas atmosferas, então é uma exposição de climas, como se você estivesse em um museu”, aponta.

O curador destaca desenhos inéditos, monotipias e esculturas de mesa. “O trabalho tem muito de delicadeza, com dinâmica entre a força e o peso do ferro com a fragilidade do vidro, uma coisa posta sobre a outra”, explica.

Ferraz não considera que haja dimensão política explícita em “Evite acidentes”, mas assente que seu texto-manifesto é uma tomada de posição estética diante do mundo atual.

“É um manifesto contra a grosseria, a força bruta, a deselegância; ele propõe o contrário disso, o cuidado, a atenção, o diálogo. É uma ação consciente contra um mundo horrível. É claramente a proposição de um mundo que não é este em que a gente está vivendo”, ressalta.

BANDEIRA PRETA

Há uma bandeira do Brasil preta com a parte central recortada. O poeta observa que, de resto, a mostra não traz nada que seja comentário político objetivo. “Não é exposição literária, a gente não está contando uma história. Não tem muita conversa, é para ver, sentir e seguir em frente. Espero seguir em frente evitando acidentes.”

Raul Mourão ressalta que ao reproduzir, em parte, o ambiente íntimo de seu ateliê, a exposição amplia o universo pessoal dele, dando maior dimensão a seus projetos e experiências processuais.

“Aqui tem um pouquinho da nossa guerra diária. O ateliê está presente, com mesas idênticas às que tenho lá. A proposta de revelar os bastidores tem a ver com a forma como você vê o mundo. A gente quer alterar o jeito como a pessoa vê o mundo, atacar a sensibilidade”, aponta.

“EVITE ACIDENTES”

Várias linguagens. Obras de Raul Mourão. De quinta-feira (2/6) até 2 de julho. Celma Albuquerque Galeria de Arte, Rua Antônio de Albuquerque, 885, Savassi. Aberta de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 13h30. Informações: (31) 3227-6494.


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