Para Ivana Chubbuck, atuação é coisa séria. A preparadora de elenco norte-americana, com longa atuação em Hollywood, enxerga o trabalho do ator como um processo quase terapêutico, no qual podem ser aplicadas teorias contemporâneas da ciência comportamental e da psicologia para transformar dores e traumas em combustível para a interpretação.
Esse é o fundamento básico do método de atuação que ela desenvolveu e chamou de Técnica Chubbuck. A preparadora está no Brasil para oferecer masterclass intensiva de seu método. As aulas, no Rio de Janeiro, tiveram início na quarta (1º/6) e prosseguem nesta quinta (2/6).
Ivana Chubbuck conversou com o 'Estado de Minas', via Zoom, na segunda-feira (30/5), quando já havia chegado ao Brasil. "É a minha primeira vez no Brasil e estou bastante ansiosa para as aulas", disse.
"Espero que elas sejam altamente inspiradoras e transformadoras. Quero provocar nos alunos a capacidade de se verem não apenas como atores evoluídos, mas também como pessoas evoluídas. Os conceitos da minha filosofia tratam de traumas, dores e inseguranças, usando tudo isso como combustível para superar e vencer as barreiras da atuação."
O workshop consiste em estudos de cena, e o método é aplicado com base no livro "O poder do ator", originalmente publicado em 2004, no qual ela elenca 12 etapas para aprimorar a atuação. Por isso, Ivana espera que os alunos cheguem ao curso com o método na ponta da língua, preparados para aplicá-lo.
EXPERIÊNCIA CORPORAL
"Vamos aprender como incorporar um assassino, por exemplo. Ou como morrer com dignidade em cena. O método é teórico, mas tem uma parte que também inclui uma experiência corporal, exercícios e conexão com o público", ela explica.Segundo a preparadora, a Técnica Chubbuck pode ser resumida como uma catarse por meio da pro- atividade."Os estudantes aprendem a ser proativos e, a partir disso, podem mudar suas circunstâncias, não importa o quão ruim elas sejam. O objetivo principal é encontrar a catarse do papel. O método é baseado em coisas que os atores já conhecem, mas a diferença é que, com ele, eles têm a chance de mudar."
Ivana afirma que não considera seu método de atuação intenso, mas, sim, divertido. "As pessoas dão risada o tempo todo. Eu acho que a comédia é muito importante para o processo de aprendizado. As pessoas ouvem melhor e se entregam mais quando estão se divertindo. É o que eu sempre digo: se você não está se divertindo, você fez a escolha errada."
Antes de se tornar preparadora de elenco, Ivana Chubbuck alimentava o sonho de ser atriz. Assim como a maioria das pessoas que querem tentar carreira na indústria do cinema estadunidense, ela chegou até a se mudar para Los Angeles, mas afirma ter se encontrado profissionalmente no campo do ensino.
Ela começou fazendo a preparação de alguns colegas e, com o tempo, a atividade ganhou uma escala maior. Além de ter desenvolvido a Técnica Chubbuck, ela dirige uma escola de atuação nos Estados Unidos que também leva o seu nome – Ivana Chubbuck Studio.
TÉDIO
Questionada sobre como sua experiência como atriz impacta seu trabalho como preparadora de elenco, ela diz que atuar é um processo em que o tédio não pode existir; portanto, é sempre necessário estar se movimentando."Quando eu ficava entediada, eu logo pensava o quanto eu precisava repensar e mudar alguma coisa. A vida deve ser assim, na verdade. O ser humano é fascinante e é isso o que eu pensava. Eu tinha vontade de incorporar pessoas diferentes de mim. E me desafiar. Isso ajuda a criar um ambiente inspirador para a criação do ator."
Foi isso que ela ensinou, por exemplo, para Charlize Theron, Halle Berry e uma lista grande de superestrelas de Hollywood com quem trabalhou, na qual estão incluídos Sylvester Stallone, Sharon Stone, Brad Pitt, Gerard Butler e Jim Carrey. No caso de Charlize e Halle, a performance foi tão boa que as atrizes foram premiadas com um Oscar, a primeira pelo filme "Monster" (2003) e a segunda por "A última ceia" (2001).
Para Ivana, uma performance digna do prêmio mais importante do cinema mundial requer muito trabalho. "É preciso trabalhar duro no personagem, e não apenas esperar que ele encontre seu caminho sozinho. É preciso treinar, adicionar, mudar, continuar mudando e adicionando informações para que o trabalho fique cada vez mais robusto", afirma.
"Na história do Oscar, vemos que os atores que se destacam são aqueles que correm riscos. Isso também é importante. Fazer um monte de escolhas e brincar com elas. Todas as pessoas de sucesso do mundo correram riscos. Gosto de dizer que, para se ter sucesso em qualquer coisa, você só precisa de ética e correr riscos", ela acrescenta.
EMPODERAMENTO
Outra performance memorável que teve ajuda de Ivana Chubbuck foi a de Beyoncé no filme "Dreamgirls – Em busca de um sonho" (2006), de Bill Condon. Depois de trabalhar com a cantora, a preparadora ficou sabendo que ela lançaria a música "Single ladies (Put a ring on it)", de 2008, cuja temática de empoderamento tinha sido inspirada pela Técnica Chubbuck."O meu trabalho é empoderar as pessoas. Beyoncé soube usar isso em outras esferas da vida. De estrela pop, ela se tornou uma superestrela icônica cujos trabalhos mais conhecidos têm tudo a ver com o empoderamento", afirma a preparadora.
Com seu livro prestes a completar duas décadas, ela afirma que não acha que uma nova edição seja necessária. "Minha técnica é baseada na ciência e na antropologia cultural, então os fundamentos não mudam. As atualizações são feitas por meio das aulas que dou no mundo inteiro, ou pelos professores que aplicam o método. Porque os exercícios, esses sim, mudam."