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Estado de Minas CINEMA

Longa sobre professora que tem vídeo de sexo vazado atira na hipocrisia

Rodado durante a pandemia, o romeno "Má sorte no sexo ou pornô acidental" venceu o Festival de Berlim em 2021. Filme estreia nesta quinta (2/6) no Brasil


02/06/2022 04:00 - atualizado 02/06/2022 07:17

Em jardim interno de escola, atores de 'Má sorte no sexo ou pornô acidental', de pé, reagem assustados e surpresos a cena fora de quadro
Filme do diretor Radu Jude foi rodado em Bucareste durante a pandemia e venceu o Festival de Berlim em 2021 (foto: IMOVISION/DIVULGAÇÃO)
A provocação começa pelo título: “Má sorte no sexo ou pornô acidental”. Com estreia nesta quinta-feira (2/6) nos cines UNA Belas Artes e Unimed-BH Minas, o filme do cineasta romeno Radu Jude pretende, do início ao fim, dar um tapa na cara dos hipócritas, misóginos e racistas. E consegue – mas, se faz isso agora, o impacto deve ter sido muito maior quando de sua première no Festival de Berlim, em março de 2021, ainda durante a pandemia.

A sátira deixou o evento alemão com seu prêmio máximo, o Urso de Ouro. E com justiça: filmado em 2020, “Má sorte no sexo” fala tanto da crise sanitária – e o pior do que emergiu dela no ser humano – como também das tensões ideológicas que dividem a sociedade contemporânea.

Uma cena de sexo de três minutos, com tudo a que tem direito (felação, penetração, close dos órgãos genitais e muitas frases picantes, as chamadas “dirty talks”) dá início à narrativa. A sequência nada mais era do que um vídeo caseiro que a professora de história Emi (Katia Pascariu) fez com seu marido, no conforto de sua casa. Só que o vídeo vaza, viraliza e se torna um pesadelo para a docente de uma tradicional escola de Bucareste.

A partir dessa apresentação disruptiva, Radu Jude divide o filme em três atos. No primeiro, ele segue a protagonista vivendo as consequências do vazamento da fita de sexo. Nesse momento, a narrativa adquire contornos documentais. A câmera acompanha Emi pela capital romena fazendo coisas do dia a dia: uma ida ao supermercado, outra à farmácia e a compra de flores para a diretora da escola (Claudia Ieremia).

REUNIÃO 

Quando chega à casa da diretora, Emi descobre que os pais dos alunos ficaram tão perturbados com o vídeo que exigem uma reunião presencial para definir o futuro da professora. O mundo, vale dizer, está sob a pandemia, e a câmera acompanha todos os personagens de máscaras.

De volta às ruas, enquanto nervosamente conversa com o marido (que nunca aparece) pelo celular, a câmera por vezes deixa a protagonista de lado e dá destaque a coisas nada importantes, como um prédio em ruínas, um vaso de flor, o lixo se acumulando, a tensão no ar – brigas de trânsito, discussões no supermercado. O mundo continua a girar, apesar do caos na vida da professora.

Eis que o filme chega ao segundo ato em nova quebra de narrativa. O diretor cria um dicionário de termos, cobrindo um número grande de temas (históricos e atuais), de tiranos como Ceausescu a sexo oral. Cada sequência desta colagem que remonta os vídeos a que assistimos, de forma desconexa, nas redes sociais, é acompanhada de uma mensagem irônica. Ficamos sabendo que boquete é a palavra mais procurada no Go- ogle – a segunda é empatia.

No terceiro ato, a narrativa atinge seu ápice. A reunião de pais é uma espécie de tribunal do absurdo. Na escola, com todos os participantes de máscaras e mantendo o devido distanciamento social, assistimos a uma chuva de intempéries contra a professora, que é colocada como uma ré.

Comentários sexistas, palavrões e até uma sessão do vídeo pornô pelo iPad de uma mãe fazem parte deste circo de horrores. “Precisamos assistir até o final feliz”, diz um dos pais. O militar esbraveja contra a moral e os bons costumes, a mãe que conseguiu uma vaga na escola para o filho pela cota de ciganos, o palavrório segue desembestado (até a Fox News é mencionada) enquanto Emi, sem abaixar a cabeça, tenta mostrar que não fez absolutamente nada de errado.

No encerramento do longa, Radu Jude apresenta três finais possíveis. O último deles, que encerra esta jornada grotesca, coloca finalmente a protagonista, de forma alucinada, como senhora de si. É, em suma, um dedo médio para a estupidez reinante – na Romênia e também no Brasil.

“MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ ACIDENTAL”

(Romênia, 2021, 106min., de Radu Jude, com Katia Pascariu e Claudia Ieremia) – Estreia às 16h10 e 20h30 na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes, e às 16h e 20h20 na Sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas



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