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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Gilson de Barros traz a BH seu monólogo sobre os amores de "Riobaldo"

Ator carioca estreou o espetáculo uma semana antes da eclosão da pandemia, adaptou-o ao formato virtual e agora retorna com apresentações presenciais


02/06/2022 04:00 - atualizado 01/06/2022 21:51

vestindo camisa e calça em tons claros, o ator Gilson de Barros, sentado em banco de madeira, com chapéu ao lado, em cena de 'Riobaldo'
"Riobaldo" tem sessões desta sexta (3/6) a domingo (5/6), no Teatro José Aparecido, da Biblioteca Pública Estadual (foto: Renato Mangolin/Divulgação)
Riobaldo Tatarana teve um grande amor na vida, o jagunço Diadorim. Mas o personagem central do clássico “Grande sertão: Veredas” (1956) também se relacionou com a prostituta Nhorinhá e com Otacília, com quem se casou. É sobre amor e paixão na obra máxima de Guimarães Rosa o monólogo “Riobaldo”, que será apresentado desta sexta (3/6) a domingo (5/6), no Teatro José Aparecido, na Biblioteca Pública Estadual.

Em cena, o ator carioca Gilson de Barros é dirigido por Amir Haddad. O intérprete conheceu o romance rosiano na juventude, quando participou de um espetáculo que trazia um trecho de “Grande sertão”. Mesmo com um exemplar da obra desde os 18 anos, somente ao se aposentar, aos 55, Barros resolveu fazer uma imersão na saga. Não mais a largou.

Hoje, com 62, ele só quer ir além. Tanto que à parte as três sessões de “Riobaldo”, ele também faz em Belo Horizonte leituras dramáticas de “Maria Mutema e outros casos”, sua próxima montagem, com estreia prevista para março de 2023, em São Paulo. O formato será o mesmo: só em cena, sob a direção de Haddad.

Voltando a “Riobaldo”, o espetáculo que chega aqui agora é símbolo da resistência do ator. O monólogo estreou em 7 de março de 2020, no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro. Com todos os ingressos vendidos nas primeiras sessões e a promessa de boa temporada, uma semana mais tarde tudo fechou diante do início da pandemia.

Sem patrocínio e contando essencialmente com a verba dos ingressos vendidos, Barros afirma que fez o que, para ele, foi na época uma “maluquice”.
 
“Amir e eu estávamos com muito tesão em fazer a peça. Criamos uma temporada de ensaios abertos no Instagram”, relembra. Ele foi um dos primeiros atores a, no momento inicial da crise sanitária, trabalhar o teatro de forma on-line, uma novidade naqueles tempos.

ALTAS BRONCAS 

“Era uma loucura, eu ensaiava com ele, que me dava altas broncas. E quando vi, eram 200, 300 pessoas assistindo, muitos colegas acompanhando. Parecia novela.” Adquiriu, na marra, expertise para levar a montagem, já no formato espetáculo, para o modelo remoto. “O pessoal do Sympla (plataforma de venda de ingressos e gestão de eventos) me ajudou muito”, diz o ator.

Questionado sobre quanto iria cobrar, Barros sugeriu R$ 20 por ingresso. “Eles me falaram que não, que colocasse os valores de R$ 20, R$ 40, R$ 80 e até R$ 200, para quem quisesse ajudar artista na pandemia. Eu não tinha noção de nada e, no virtual, o público é o mundo. Não imaginava que teria plateia na França, no Chile, no Canadá, nos EUA. Teve dia em que fiz bilheteria de R$ 6 mil. Não conseguiria isso nunca no presencial.” 

Dessa maneira, Gilson de Barros conseguiu manter equipe por três temporadas virtuais. O formato, todos sabemos, acabou se esgotando e, no ano passado, finalmente “Riobaldo” voltou à cena, presencialmente – no Rio e depois em São Paulo. 

Tudo o que Barros fala em cena foi escrito por Guimarães Rosa. Mas o processo de adaptação do texto levou o ator a uma pesquisa imensa de trabalhos acadêmicos.
 
“Li por meio de todos os vieses: filosofia, literatura. Quando cheguei a uma pesquisa sobre os amores, de como as mulheres construíram aquele homem, encontrei a chave que queria”,diz.

Ao sentir que a adaptação do texto estava mais madura, convidou Haddad para dirigi-lo. “Imaginei que seria uma peça com luz, som, movimento. No primeiro dia de ensaio, ele me disse que não seria nada daquilo. Me pediu para ficar sentado contando a história como o Riobaldo do livro. Me apavorei, a minha formação de ator é voltada para a interpretação dramática, e o Amir trabalha com a técnica de interpretação narrativa”, descreve.

Nessa técnica, basicamente o ator tem que criar o cenário na cabeça do espectador, explica Barros. Ele demorou para entender e se relacionar com o processo, mas hoje não pensa em trabalhar de outra forma.
 
No monólogo, fica durante 75 minutos sentado em um banco falando o texto rosiano. “Não acreditei que fosse dar certo, mas, como o texto do Guimarães cria muitas imagens, o público vai viajando nos caminhos do sertão amoroso”, comenta. 
 

“RIOBALDO”

Espetáculo adaptado de “Grande sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, com atuação de Gilson de Barros e direção de Amir Haddad. De sexta (3/6) a domingo (5/6), às 19h30, no Teatro José Aparecido de Oliveira – Biblioteca Pública Estadual, Praça da Liberdade, 21, Funcionários. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). À venda no site.bileto.sympla.com.br/riobaldoteatro
 

LEITURAS DRAMÁTICAS

Nesta temporada em BH, Gilson de Barros promove leituras dramáticas gratuitas de “Maria Mutema e outros casos”. As sessões serão nesta quinta (2/6), às 15h, no auditório 2 do prédio 4 da PUC-Minas, no Coração Eucarístico, com a professora Márcia Marques de Morais; na sexta (3/6), às 9h, na sala 3059 da Faculdade de Letras da UFMG – câmpus Pampulha, com a professora Cláudia Campos Soares; e no sábado (4/6), às 15h, no Espaço do Conhecimento UFMG, Praça da Liberdade, 700, Funcionários.



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