Jornal Estado de Minas

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Diretor de origem brasileira brilha na série de true crime ''A escada''


Lançada em maio na HBO Max e já em sua reta final, a minissérie “A escada” não recebeu até agora a atenção devida. Dado o grau de engenhosidade da narrativa e o nível do elenco, a trama poderia ter tido a repercussão que “Mare of Easttown” teve no ano passado. Mas ainda há tempo – faltando só o último dos oito episódios para entrar no ar, a hora é de maratonar.





Diferentemente do drama policial estrelado por Kate Winslet, “A escada” é adaptação de uma história real. Criada e dirigida por Antonio Campos (filho do jornalista mineiro Lucas Mendes, para quem não ligou o nome aos bois) e ancorado numa performance impecável de Colin Firth, acompanha uma década e meia na vida de uma família americana.

Em 9 de dezembro de 2001, Michael Peterson (Firth) e sua segunda mulher, Kathleen (Toni Collette), passavam uma noite de domingo como tantas outras. Depois do jantar regado a vinho, foram para a área da piscina de sua casa em Durham, na Carolina do Norte. 

Conversaram bastante, até que ela decidiu entrar para dormir. Um tempo mais tarde, Michael volta e encontra a mulher ensanguentada na escada que levava à parte íntima da casa. Histérico, ele liga para o serviço de emergência – quando este chega, Kathleen está morta, com muitas feridas no corpo.




PÍLULAS

A polícia local não precisou somar dois e dois para colocá-lo como principal suspeito. Ele, desde então, sempre negou tudo – e o caso se arrastou por uma década e meia. O mais importante na história são todas as implicações que ela gerou.


A série não entrega nada facilmente. A trama vai e vem no tempo apresentando, em pílulas, todos os personagens envolvidos.



Os Peterson, além de Michael e Kathleen, são também cinco jovens – os dois homens são filhos do primeiro casamento dele (papéis de Patrick Schwarzenegger e Dane DeHaan), as duas mulheres mais jovens (interpretadas por uma Sophie Turner magérrima e por Odessa Young) foram adotadas por ele, e a do meio, Caitlin (Olivia DeJonge), é filha só de Kathleen.

Até dezembro de 2001, eles viviam em aparente sintonia. Michael, ex-veterano do Vietnã que escreveu romances e tinha pretensões políticas, era a alma da família. Kathleen, por seu lado, era claramente a provedora – trabalhava numa grande empresa local. Bem-sucedidos, bonitos e influentes, eles tinham esqueletos no armário.  

Tudo é colocado sob uma lupa, assim que Michael é acusado de matá-la. Entra em cena um personagem crucial na história, o advogado de defesa David Rudolf (Michael Stuhlbarg, sempre ótimo).



Ao mesmo tempo, uma equipe de documentaristas franceses, comandados pelo diretor Jean-Xavier de Lestrade (Vincent Vermignon), deixa Paris rumo a Durham para filmar o caso e transformá-lo em uma série de “true crime”. Em dado momento, outra personagem essencial para a trama que aparece é a montadora Sophie (Juliette Binoche), que trabalha no documentário francês.

DEFESA

O quebra-cabeças montado por Antonio Campos vai se encaixando aos poucos. A narrativa mescla sequências do presente com a vida em família dos Peterson, mais todo o esquema montado pela defesa de Michael. A ação vai de 2001 até 2017. 

E tudo foi pautado no real. O caso de “A escada” é desses que viraram queridinhos dos programas de TV. Já foi explorado em várias atrações do gênero e a série documental criada pelo Lestrade real, que também se chama “A escada”, está disponível na Netflix – a produção tem 13 episódios e foi produzida em três momentos diferentes.

Para quem está chegando agora, a dica é entrar de cabeça primeiramente na ficção para só depois ir para o documentário. É impressionante ver como a série se apossou da vida real – só que com muita inteligência, mantendo o espectador em suspense o tempo inteiro. A dúvida sobre o que realmente aconteceu permanece até o final. 

“A ESCADA”

• Minissérie em oito episódios na HBO Max. O último estreia na próxima quinta-feira (9/6)