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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Peça 'Ópera massacre' se inspira no 'teatro do absurdo' da pandemia

Estreia do dramaturgo e diretor Gustavo Des nos palcos, montagem em cartaz no Cine Theatro Brasil Vallourec aborda a fragilidade da vida


04/06/2022 04:00 - atualizado 03/06/2022 21:42

Personagem enlutada, com rede negra sobre o rosto, olha para o lado, na penumbra, durante a peça Ópera massacre
Em "Ópera massacre", mulher à beira da morte deflagra aflições que remetem ao pânico diante da vulnerabilidade da vida (foto: Gisele Caroline/divulgação)

O período da pandemia fez aflorar em Gustavo Des o ser teatral que permanecia em estado de latência. Paralelamente ao trabalho com marketing para uma holding de franquias, ele redigia e registrava textos dramatúrgicos que nunca se materializavam no palco. Isso até surgir “Ópera massacre”, escrita sob o impacto da COVID-19, montagem que estreia neste sábado (4/6), às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec.

A peça, que se insere no espectro do Teatro do Absurdo, mostra uma família que entra em colapso quando se vê obrigada a preparar o velório da matriarca, cantora de ópera que se recusa a morrer.

MORTE 

Marcado por aflições de todos os tipos – calvície, iminência de morte, falta de cadeiras e, consequentemente, o desejo incontrolável de sentar –, o texto reflete as angústias do próprio autor, que também estreia na direção.

“Esse trabalho tem uma certa urgência, porque dialoga muito com o momento que a gente está vivendo. O momento dramático da pandemia me fez ir para esse lugar. Tive preocupação grande de que algo pudesse acontecer a mim ou à minha família. Tentei traduzir, no papel, o sentimento de iminência da tragédia”, diz.

“Ópera massacre” traz um emaranhado de referências, que passam por cinema, literatura e pelo próprio teatro, mas se ancora, sobretudo, em uma visão de mundo particular, com caráter bastante autoral. “Sou aficionado por cinema de terror e isso perpassa a dramaturgia”, destaca o autor.

Do campo da literatura, o texto traz elementos de Agatha Christie; na dramaturgia, há ecos de Beckett e de Plínio Marcos. “Mas a matéria-prima do espetáculo foi o estado de vulnerabilidade que o isolamento social me causou e os absurdos que permearam o noticiário nesse período”, ressalta, chamando a atenção para o fato de a história se passar no final dos anos 1960, mas estabelecer uma ponte com os dias atuais.

Gustavo Des conta que recebeu o primeiro estímulo decisivo do ator Lucas Michielini, com quem trabalhava na agência de marketing e, agora, integra o elenco da montagem. Ele comentou com o colega sobre o texto, e ele se interessou em lê-lo. O retorno que teve foi o impulso necessário para levar a história para o palco.

“Lucas me enviou uma série de áudios, muito impactado pelo texto. Consegui reunir um time de talentos mineiros, como a Clarice Carvalho, que já foi indicada ao prêmio Copasa Sinparc como melhor atriz coadjuvante. Lucas me fez despertar para o potencial desse trabalho, reafirmou uma coisa que eu já intuía”, aponta.

 O elenco de “Ópera massacre” se completa com Axwell Godoi, Gabriel Oliveira, Laura Damada, Thiago Latalisa e Tom Garcia.

Gustavo conta que arregaçou as mangas para levar adiante o projeto, contando com a colaboração do produtor Ramon Moreira.

"O momento dramático da pandemia me fez ir para esse lugar. Tive preocupação grande de que algo pudesse acontecer a mim ou à minha família. Tentei traduzir, no papel, o sentimento de iminência da tragédia"

Gustavo Des, dramaturgo


SONHO

“Teve empreendedorismo da minha parte. Por muito tempo, terceirizei meus sonhos. O fato de eu mesmo assumir a direção tem a ver com isso, porque antes apresentava meus trabalhos para outras pessoas e ficava esperando aceitação e adesão”, relata.

A realidade o obrigou a agir. “O drama da pandemia, o isolamento, o atual momento político e social do país, tudo isso fez fermentar em mim algumas coisas, o sentimento de que algo ruim pudesse acontecer a qualquer momento. Essa expectativa pode ser até pior do que o acontecimento de fato, porque vai crescendo dentro da gente e é preciso dar vazão a ele. Esse trabalho veio como um salvamento, tanto a escrita quanto, agora, a execução”, sublinha.

Mulher segura caveira e olha para a câmera, sob luz avermelhada
Dramaturgia de Gustavo Des é influenciada por filmes de terror (foto: Gisele Caroline/divulgação)


O ambiente aristocrático em que a família vive se choca com o clima de preparação de velório para uma pessoa que ainda não morreu. A música cumpre papel importante nessa dinâmica, afirma Gustavo Des.

VIVALDI E CHOPIN

“Não é musical, mas quis trabalhar com o glamour que a música erudita evoca. Ela permeia o clima crescente de desconforto, que, no entanto, é misturado com comédia e absurdo”, diz Gustavo, destacando que a trilha inclui, entre outros, temas de Vivaldi e Chopin, além de trechos de óperas.

Depois de duas apresentações no Cine Theatro Brasil Vallourec, hoje e amanhã, a peça segue para a Funarte, onde fica em cartaz de 17 a 19 deste mês, encerrando a temporada de estreia no Teatro Feluma, em 25 e 26 de junho. “Encaminhamos o projeto para esses teatros e conseguimos ser aprovados pelas respectivas curadorias”, comemora o dramaturgo e diretor.

“ÓPERA MASSACRE”

Texto e direção: Gustavo Des. Neste sábado (4/6), às 20h, e domingo (5/6), às 18h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, Praça Sete, Centro. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda na plataforma Eventim


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