Será velado a partir das 9h desta terça-feira (7/6), no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, o corpo de Heloísa Aleixo Lustosa de Andrade. Ela morreu no último domingo, no Rio de Janeiro, aos 94 anos. Filha mais velha do advogado, jornalista e político Pedro Aleixo, fundador do jornal Estado de Minas, Heloísa foi, acima de tudo, uma mulher das artes. O enterro será às 11h30.
Em uma época em que as mulheres eram preparadas para ser donas de casa, Heloísa, estimulada pelo pai, graduou-se em filosofia. Nascida em Belo Horizonte e radicada no Rio de Janeiro, ela dirigiu, na década de 1970, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio) e o Museu Nacional de Belas- Artes.
Atualmente, Heloísa Aleixo presidia a Academia Brasileira de Arte. Ativa até o início da pandemia, ofereceu, no início de 2019, o jantar anual da instituição, reunindo acadêmicos dos diversos segmentos da entidade.
"Ela se colocava contra todo e qualquer tipo de ditadura. Qualquer tipo de arbitrariedade a revoltava. A mamãe era obsessiva, se dedicava a fundo. Me lembro de quando ela assumiu o MAM. As conversas de jantar em família eram somente sobre o museu. Cuidava daquilo como se fosse a vida dela"
Eliane Aleixo Lustosa, filha de Heloísa Aleixo Lustosa de Andrade
DITADURA
No período em que esteve à frente do MAM, durante a ditadura militar (1964-1985), Heloísa não se dobrou ao governo militar. Foi sob a sua direção que o museu carioca recebeu, em dezembro de 1973, Jards Macalé e seu antológico show “Banquete dos mendigos”.
Lançado em álbum em 1979, o evento contou com a participação de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Gal Costa, Raul Seixas e Jorge Mautner.
“Ela se colocava contra todo e qualquer tipo de ditadura. Qualquer tipo de arbitrariedade a revoltava”, comenta Eliane, a caçula dos quatro filhos de Heloísa. A mamãe era obsessiva, se dedicava a fundo. Me lembro de quando ela assumiu o MAM. As conversas de jantar em família eram somente sobre o museu. Cuidava daquilo como se fosse a vida dela”, acrescentou.
Outra lembrança marcante vem do final de 1969. Com a morte do presidente Costa e Silva, que sofrera um derrame cerebral, o natural seria que seu vice, o mineiro Pedro Aleixo, ocupasse o posto. Só que Aleixo havia votado, um ano antes, contra o temido AI-5, ato institucional que fechou o Congresso, cassou mandatos, proibiu manifestações públicas e suspendeu o direito ao habeas corpus.
As Forças Armadas impediram Aleixo de assumir a presidência da República, entregando o comando do país ao general Emílio Garrastazu Médici.
Para evitar qualquer reação do político mineiro, ele ficou confinado na casa de Heloísa. A família ainda se lembra bem dos guardas na porta do prédio, em Copacabana, para impedi-lo de deixar o local.