Jornal Estado de Minas

TEATRO

Peça sobre o legado do educador Paulo Freire faz curta temporada em BH


Evidenciar a amorosidade do educador Paulo Freire, o respeito ao diálogo e a aceitação das diferenças por parte do filósofo pernambucano. Essa é a proposta do monólogo estrelado pelo ator paulista Richard Riguetti que chega nesta sexta-feira (10/6) ao Teatro Francisco Nunes, para curta temporada em BH.





Dirigida por Luiz Antônio Rocha e com dramaturgia de Junio Santos, a peça surgiu de um projeto cultivado por vários anos, conta Richard.

“A primeira coisa que eu e Luiz Antônio fizemos foi uma visita à viúva de Paulo, Nita Freire, em São Paulo. Em uma tarde de café com bolo de laranja, ela nos falou sobre o marido, sua obra e a dedicação do Paulo à democracia, o apreço ao diálogo e o prazer dele em conviver com o diferente.”

MUDANÇA

Pouco antes de morrer de ataque cardíaco aos 75 anos, em 1997, o educador escreveu: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, ofendendo a vida, destruindo sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.




O ator e o diretor deixaram a casa de Nita Freire convictos de que teriam de fazer um espetáculo “encharcado de amor”, relembra Riguetti. “Principalmente amor ao Brasil.” A estreia ocorreu em 18 de março de 2019, atingindo público de 65 mil pessoas.

De acordo com o ator, o espetáculo atrai, sobretudo, pessoas interessadas em aprofundar o debate de uma proposta de Brasil mais igualitário, baseada na educação, à qual Freire dedicou sua vida. O intelectual pernambucano é um dos educadores mais respeitados do mundo.

Nos últimos tempos, o legado de Freire vem sendo alvo de polêmica. Decreto do presidente Jair Bolsonaro extinguiu a medalha com o nome do educador, concedida a profissionais e instituições empenhados em pôr fim ao analfabetismo. Bolsonaristas atacam os métodos criados por ele, respeitados mundialmente. O presidente chamou o educador de “energúmeno, ídolo da esquerda”.





Idealizador da chamada pedagogia do oprimido, voltada para o ensino de pessoas excluídas socialmente, Freire recebeu 35 títulos de doutor honoris causa de universidades da Europa e da América. Em 1986, ganhou o Prêmio Educação para a Paz, concedido pela Unesco. Foi professor convidado de Harvard, nos EUA.

“A polêmica não vem para dentro do espetáculo, fica apenas nas redes sociais”, afirma Richard Riguetti. De acordo com ele, a montagem segue o conceito de cenopoesia, apostando na conexão do que é apresentado no palco com a vida do espectador. “O espetáculo se amolda e se ajusta a todo e qualquer tipo de espaço e a todo e qualquer tipo de público”, explica.

O projeto surgiu há 12 anos, muito antes da polarização observada atualmente no país e do ataque de bolsonaristas a Freire, ressalta Richard.

DARCY RIBEIRO

O próximo espetáculo do ator se inspira em outro educador respeitado mundialmente: o antropólogo mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997). Com estreia prevista para agosto, o texto ficou a cargo do escritor e professor indígena Daniel Munduruku. Luiz Antônio Rocha assina a encenação.





Em BH, as sessões de “Andarilho da utopia” contarão com rodas de conversa sobre o legado de Paulo Freire. “Convido todos aqueles que querem um Brasil melhor, mais justo e igualitário, que venham ao Teatro Francisco Nunes”, conclui Richard Riguetti.


“PAULO FREIRE, O ANDARILHO DA UTOPIA”

Com Richard Riguetti. Texto: Junio Santos. Direção: Luiz Antônio Rocha. Sexta e sábado (10 e 11/6), às 20h; domingo (12/6), às 19h. Teatro Francisco Nunes, Avenida Afonso Pena, 1.321, Centro. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). Informações: (31) 3277-6325