A turnê “Ana Cañas canta Belchior” chega pela primeira vez a Belo Horizonte no sábado (11/6) à noite, no Sesc Palladium. E chega “na raça”, como a própria cantora paulista diz.
“Alugamos o teatro, estamos encarando a bilheteria, porque amo cantar em BH. Espero todos lá para a gente ser feliz. E que o Belchior, lá do alto das estrelas, receba os aplausos mineiros, que ele merece”, diz .
Desde abril, Ana percorre o país com a turnê, fruto do sexto álbum de estúdio dela, lançado em 2021 e dedicado integralmente às canções do cantor e compositor cearense.
LIVE SOLIDÁRIA
O disco em homenagem a Belchior, que morreu em 2017, veio após uma live no início da pandemia. O objetivo era angariar recursos, pois, por causa do isolamento social, Ana enfrentava dificuldades para manter sua banda.“A live surgiu num momento de vulnerabilidade não somente econômica, porque o ganha-pão do artista é a estrada e os shows, mas também emocional, pois estávamos todos atordoados com a falta de direcionamento de políticas públicas responsáveis e do entendimento da questão sanitária. Gravamos na sala da minha casa com o intuito de conseguir recursos para ajudar minha equipe e meus músicos, pais de família que passavam por muitas dificuldades”, relembra.
A homenagem é fruto também da obra atemporal do cearense, sobretudo os discos “Alucinação” (1976) e “Coração selvagem” (1977), que dialogam com os tempos atuais.
“Escolhi Belchior por diversas razões. Entre elas, a atualidade da sua poesia, reflexões e canções. O cantor nos oferece um vasto oceano de profundidades, zonas abissais metafísicas e filosóficas”, ela comenta.
''Observar e sentir o quanto o Belchior é amado pelo Brasil real e profundo é muito emocionante. Canto em teatro, na rua e em viradas culturais, é muito lindo ver essa admiração. As pessoas cantando as músicas dele é algo que me deixa sem palavras. Traz uma alegria que nunca vivi''
Ana Cañas, cantora e compositora
Ana diz que os dois álbuns, gravados durante a imposição do AI-5 ao país pela ditadura militar, “conversam com estes tempos atuais bastante distópicos”.
A artista destaca a grandeza do compositor como ser humano. “Ele era muito simples, verdadeiro, apaixonado, inteligente e culto. Belchior era muito interessado no Brasil real e profundo e tudo isso me fez ser apaixonada por ele. Existe admiração artística, mas também pessoal por Antônio Carlos Belchior.”
Tudo isso sem contar a aproximação astrológica entre os dois. “Ele tem seis planetas em escorpião, eu tenho quatro”, diz ela.
''Amo Minas, amo a terra que nos deu Milton Nascimento, Clube da Esquina, Skank e tantos outros artistas incríveis. O estado tem porosidade afetiva, uma gente linda e acolhedora, que não tem medo da troca. É onde o Brasil é mais Brasil, como diz Mano Brown''
Ana Cañas, cantora e compositora
FÃS NA INTERNET
O projeto da cantora é fruto da vontade do público que assistiu à live. “As pessoas ofereceram ajuda financeira para eu poder gravar o álbum, porque não tinha recursos para isso. Foi um movimento muito bonito e verdadeiro na internet, não só de brasileiros, mas de gente de vários países. O Belchior tem fãs espalhados pelo mundo”, ressalta.O repertório tem 14 canções, entre elas “Coração selvagem”, “Como nossos pais”, “Fotografia 3x4”, “A palo seco”, “Medo de avião”, “Sujeito de sorte”, “Apenas um rapaz latino-americano” e “Alucinação”.
A cantora conta que sua pesquisa sobre a obra de Belchior renderia, no mínimo, mais cinco álbuns. O processo de selecionar o repertório e concretizar o projeto demandou “estado de atenção” especial, diz Ana Cañas.
“É preciso cuidado para você não se perder na personalidade do artista que está reverenciando. Além disso, devido à pandemia, sinto que meu canto no disco é vulnerável, suave e frágil, porque reflete a nossa dor e o medo ligado ao contexto sanitário difícil”, explica.
O fato de ser mulher permitiu a ela releituras que dialogam com ângulos propostos pelo autor. “A música dele tem vários espectros e exprime profundidade, pois é um quilate muito denso. Além disso, o fato de ser mulher propicia uma diferenciação na visão de vida e estrutura social, surgindo novas camadas de interpretação”, comenta.
Veja clipe de 'Coração selvagem':
EMBATE À VISTA
Diferentemente do álbum, o show com banda traz um canto mais aguerrido. “Até porque, este ano teremos um grande embate decisivo para a nossa vida. Vejo essa energia pulsando nos shows, por meio do público que se expressa”, afirma Ana, referindo-se às eleições.“Já sinto uma distância social e histórica, principalmente por ter iniciado as gravações em 2020. São quase dois anos envolvida com o Belchior, sinto que estou na segunda fase (da troca) de peles, como camaleão. Continuo descobrindo o Belchior no próprio Belchior”, observa.
A cantora se diz impressionada com o carinho do público pelo cantor e compositor cearense. “Observar e sentir o quanto o Belchior é amado pelo Brasil real e profundo é muito emocionante. Canto em teatro, na rua e em viradas culturais, é muito lindo ver essa admiração. As pessoas cantando as músicas dele é algo que me deixa sem palavras. Traz uma alegria que nunca vivi e me deixa muito agradecida pelo carinho de todos com esse projeto”, conclui.
“ANA CAÑAS CANTA BELCHIOR”
Neste sábado (11/6), às 21h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Plateia 1: R$ 130 (inteira) e R$ 65 (meia), ingressos esgotados. Plateia 2: R$ 100 e R$ 50. Plateia 3: R$ 60 e R$ 30. Vendas on-line na plataforma Sympla.* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria