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Estado de Minas MÚSICA

Despedida de Bituca é coisa pra se guardar dos dois lados do peito

Milton Nascimento é ovacionado no primeiro show de sua última turnê, com plateia extasiada que cantou os clássicos de seus 60 anos de carreira


12/06/2022 04:00 - atualizado 12/06/2022 23:43

Milton Nascimento, com a sanfona nas mãos
Emocionado, Milton Nascimento, com a sanfona nas mãos, tocou "Ponta de Areia", parceria com Fernando Brant sobre a ligação de Minas com o mar (foto: Carl de Souza/AFP)

"Eu só queria agradecer a vocês por tornarem minha vida tão linda"

Milton Nascimento


Sem sol e com tempo chuvoso, o Rio parecia lamentar a despedida dos palcos de Milton Nascimento, no último sábado (11/6).

Já era início da noite quando uma fila enorme se formou na entrada do monumental espaço Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, local escolhido para a pré-estreia da turnê “A última sessão de música”.

Personalidades e amigos de Bituca tiveram acesso à exposição com 28 grandes painéis que relembram toda a trajetória dele por meio de fotos e documentos. Projeções na parede, totens e coquetel de boas-vindas para convidados complementaram a experiência imersiva no universo da vida de Milton Nascimento.

A abertura do show ficou por conta do jovem Zé Ibarra, que integra a banda de Milton e divide os vocais com ele em algumas canções. Após o intervalo de 20 minutos, já com a plateia ansiosa, Bituca iniciou o espetáculo que durou uma hora e 45 minutos.

Milton estava sorridente e comunicativo, porém com voz embargada, aparentando estar cansada. Mas isso não impediu que a emoção tomasse conta da plateia, que cantou com ele em boa parte do show.

Sempre tocando violão, Zé Ibarra dividiu vocais com Milton em “Outubro” e “Para Lennon e McCartney’”. Já “Vera Cruz”, “San Vicente”, “Nada será como antes”, “Volver a los 17” e “Caçador de mim” Ibarra cantou na íntegra.

Milton, com o manto inspirado em Arthur Bispo do Rosário, entre Fernanda Montenegro e Gilberto Gil
Milton, com o manto inspirado em Arthur Bispo do Rosário, entre Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, no camarim (foto: Marcos Hermes/divulgação)

PÁSSAROS 

O show começou ao som de pássaros – era a instrumental “Tambores de Minas”, ainda com as cortinas fechadas. Logo depois, com sua querida sanfona, Bituca surgiu tocando a melodia de “Ponta de Areia”, faixa do álbum “Minas” (1975). Vestia o figurino criado pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga que remete ao manto inventado por Arthur Bispo do Rosário para se encontrar com Deus.

Na sequência, vieram três músicas do primeiro álbum, “Travessia” (1968): “Canção do sal”, “Morro Velho” e “Catavento” – nessa última, Zé Ibarra se destacou tocando flauta, com o apoio da banda.

Aos 12 minutos, Bituca passou a usar óculos escuros e trocou de roupa. O fardão em tons azuis remete a Minas, às canções dele e a Guimarães Rosa, com bordados de pássaros, árvores e estrelas. Em seguida, ele cumprimentou a plateia: “Eu só queria agradecer a vocês por tornarem minha vida tão linda. As duas músicas anteriores foram gravadas pelo grande amor de minha vida, Elis Regina”, declarou, emocionado.

Durante o show, Milton comentou sobre o álbum “Clube da Esquina”, que completou 50 anos em março e foi eleito pela crítica o melhor disco brasileiro de todos os tempos.

“Viver este momento, após 60 anos de carreira, é a prova de que os sonhos não envelheceram”, disse ele, antes de cantar “Clube da Esquina” junto ao coro dos fãs.

Em dois momentos, o show foi praticamente interrompido. Ao final de “Para Lennon e McCartney” e “Nos bailes da vida”, a plateia aplaudiu de pé, ovacionando Milton aos gritos por um bom tempo.

Mais emoção veio com “Canção da América”. Milton, com sorriso no rosto, declarou: “Como eu guardo todos vocês no peito, essa dedico a todos vocês hoje”.

No encerramento, com “Maria, Maria”, Bituca foi acompanhado o tempo todo por palmas. Cantou a capela, levou a plateia ao delírio.

A volta para o bis teve dois clássicos. O primeiro foi “Encontros e despedidas”, faixa-título do álbum lançado em 1985. De pé, fãs se aglomeraram na frente do palco. Logo depois, o espetáculo chegou ao final ao som de “Travessia”, em tom melancólico.

Muitos fãs permaneceram à frente do palco, mesmo com as cortinas fechadas. Extasiados.

Plateia cantou com Bituca
Plateia cantou com Bituca os sucessos de sua carreira (foto: Marcos Hermes/divulgação)

FELICIDADE E LAMENTO

Visivelmente emocionados, artistas tanto declararam sua felicidade por estar ali quanto lamentaram ser esta a última turnê de Bituca.

Foram ao show Lenine, Gloria Pires, Alexandre Nero, Antonio Pitanga, Walcyr Carrasco, Dennis Carvalho, Gilberto Gil, Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Orlando Moraes, Daniel de Oliveira e Sophie Charlotte, entre outros. Fernanda e Gil o visitaram no camarim.

A cantora e compositora Maria Gadú disse estranhar a sensação de última turnê do amigo. “Mas estou muito feliz por ele, quero que se divirta tanto, tanto... Ele merece se divertir, ele adora se divertir”, ressaltou.

“Não vejo assim como despedida, porque ele é imortal”, afirmou a apresentadora Cissa Guimarães. O músico Orlando Moraes contou que Bituca marcou profundamente a vida dele. E Lenine avisou: “Hoje é dia de chorar muito”.

Parceiro de primeira hora –  ao lado dele Milton decidiu ser músico, após a dupla assistir ao filme “Jules et Jim”, em BH, em 1964 –, Márcio Borges confessou: “Ver o Bituca em condições normais já é muito emocionante. Aquela pessoa eletrizante no palco. Agora, sabendo que é a despedida dele, a coisa ganha um teor de emoção quase insuportável."

MARATONA 

A turnê “A última sessão de música” terá 26 shows – 12 no Brasil, 10 na Europa e quatro nos Estados Unidos. O encerramento está marcado para 13 de novembro, no Mineirão, em BH, para 50 mil pessoas, com ingressos esgotados.


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