Mesmo que seja uma das caras mais conhecidas da TV brasileira, Glória Pires participa pontualmente de filmes desde sua estreia nos cinemas, 40 anos atrás, com “Índia, a filha do sol”, de Fábio Barreto, no qual interpretou a personagem-título.
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Em meio aos sintomas iniciais que lhe provocam lapsos, Lúcia entra em uma investigação que envolve polícia e traficantes – a certo momento, é apontada como a principal suspeita do esquema.
O filme, que deu a Glória o Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado do ano passado, nasceu de um argumento do antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares. A intenção inicial era a produção de uma série. “Quando entrei no projeto, decidimos transformá-lo num longa, pois era mais a minha vontade, e também era mais viável no contexto da época, 2016”, afirma Peregrino.
LOCAÇÃO
O longa foi rodado no Rio de Janeiro, no final de 2018. A principal locação foi um andar em um grande prédio comercial no Cais do Porto. “O que a gente vê nos filmes policiais é quase sempre a delegacia. É raro ver um espaço mais de escritório, reservado para a inteligência. Achei que é uma forma de trabalhar diferente das tramas policiais que vemos, sobretudo no cinema brasileiro”, comenta o diretor.Ainda que tenha uma trama policial, é a doença que está em primeiro plano. “Nossa tentativa era investir no que a história tem de autêntica, além do mais porque já vimos bastantes histórias de tráfico e corrupção. O mais importante era a relação entre os personagens”, acrescenta.
A narrativa começa com Lúcia no computador, escrevendo um texto que dá a entender que ela está guardando aquilo para o futuro. A história é toda fragmentada, com diferentes tempos e cenários. Existe a narrativa principal, um caso que tem relação direta com o chefão do tráfico. Mas o foco está nos policiais: Lúcia é uma comissária experiente que não se detém frente aos seus superiores, o delegado Gouveia (Gustavo Machado) e Avelar, o chefe da Inteligência (papel de Charles Fricks).
Entremeando essas sequências, há também outra subtrama, na qual vemos a protagonista chegando a uma festa de crianças em que os convidados são seus colegas na polícia. Em um terceiro viés, a história nos leva à preparação da personagem para sua aposentadoria – com uma vida solitária, em que o parente mais próximo é um tio padre (interpretado por Genézio de Barros).
O espectador vai seguindo Lúcia nestes diferentes momentos, apresentados sempre de forma fragmentada, em referência direta aos sintomas do Alzheimer. Mas este quebra-cabeças só se tornou concreto na montagem.
“Tirar a narrativa de ordem foi uma tentativa de conectar o espectador com a sensação da personagem de perda de memória, de não saber o que vem antes ou depois. As cenas não poderiam ter início, meio e fim. Ou tinham só início e meio ou só meio e fim. Foi um trabalho interessante de montagem entre eu, a Joana (Collier, a montadora) e a Glorinha, que participou muito”, diz Peregrino. A neurologista Mariana Spitz atuou como consultora do filme. Houve ainda a leitura de livros sobre e escritos por pacientes de Alzheimer.
Peregrino começou sua carreira em cinema por meio da fotografia, trabalhando ao lado de Walter e Lula Carvalho, Walter Lima Jr. e Júlio Bressane. Depois, migrou para a assistência de direção – um dos títulos em que atuou foi “Tropa de elite”. Chegou à Globo, onde trabalha há mais de uma década. Está começando agora a dirigir a nova trama das seis, “Amor perfeito” (título provisório), inspirada em “Marcelino pão e vinho”.
“Adoro fazer televisão, é uma excelente escola para quem está sempre querendo mais, porque tem um fluxo muito grande de trabalho. Se você é um diretor que se restringe ao cinema, é muito difícil estar sempre filmando. E fazer TV dá intimidade com o ofício, o que é muito valioso, ainda que tenha um lado massacrante”, diz Peregrino.
“A SUSPEITA”
(Brasil, 2021, 95min, de Pedro Peregrino, com Glória Pires, Charles Fricks e Gustavo Machado) – Estreia nesta quinta-feira (16/6), no Cineart Cidade (21h), Cineart Del Rey (13h50), Cineart Contagem (20h), Cinemark BH Shopping (14h10, 16h30) e UNA Cine Belas Artes (Sala 1; 14h e 18h30)