Celly Campello (1942-2003) entrou para a história da música brasileira como a pioneira do rock no país – e também por ter abandonado a carreira no auge para se casar. São essas as questões que norteiam a cinebiografia “Um broto legal”, que estreia nesta quinta-feira (16/6), em Belo Horizonte.
Dirigido por Luiz Alberto Pereira (“Hans Staden” e “Tapete vermelho”), o filme adota um tom ingênuo, de novela, para acompanhar tal trajetória. O período vai de 1958, quando ela é descoberta em Taubaté, interior de São Paulo, e vai até 1962, quando deixa a música. Nos papéis principais estão a estreante no cinema Marianna Alexandre (Celly) e Murilo Armacollo (o irmão Tony Campello).
Também nascido em Taubaté, Pereira, de outra geração, não a conheceu – casada, Celly se mudou para Campinas, onde viveu até a morte, em decorrência de câncer. Mas o cineasta afirma que a história sempre o acompanhou, desde criança. Para escrever o roteiro, a quatro mãos com Dimas Oliveira Jr., ele se valeu principalmente da memória de Tony, hoje com 86 anos.
PESQUISA
“Fizemos uma pesquisa grande em jornais e revistas de época, bem como entrevistas com músicos e artistas do acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS-SP). Mas o Tony foi fundamental. Utilizei não só muitas histórias que ele contou, como também objetos”, comenta Pereira. Fotografias e prêmios que Celly recebeu estão no cenário do filme.
Celly, que desde criança cantava, na adolescência tinha um programa numa rádio local. Tony, que tinha pretensões artísticas, deixou a cidade natal rumo a São Paulo. É lá que ele, tocando na noite, é convidado para gravar um compacto com duas faixas. Seriam em inglês e Tony achou que pegaria mal ele cantar “Handsome boy” (“Menino bonito”). Tratou de levar a irmã para a capital.
Ainda que as primeiras gravações de Celly tivessem sido em inglês, ela só estourou mesmo cantando em português. Primeiramente, com “Estúpido cupido”, seguido de “Banho de Lua” e “Broto legal”, entre outros hits.
O videotape só chegou ao Brasil em 1960. Até então, não havia como armazenar as imagens transmitidas na televisão. De acordo com Pereira, mesmo após extensa busca, não se encontrou nenhuma imagem em movimento de Celly cantando. “Não só eu, mas o Tony procura há muito mais tempo do que eu.”
Em vídeo, há imagens de Celly participando de dois filmes de Mazzaropi, “Jeca Tatu” (1959) e “Zé do Periquito” (1960) – o ator e cineasta, nascido em São Paulo, foi criado em Taubaté, onde realizou vários de seus filmes. A carreira de Celly e Tony teve um revival na década de 1970, após o sucesso da novela global “Estúpido cupido” (1976).
Mas o filme percorre o início da trajetória: como dois irmãos do interior se tornaram a cara do rock como expressão jovem no Brasil. Para os papéis principais, Pereira fez muitos testes. Quando chegou a Marianna, viu que tinha encontrado sua protagonista. “No casting, havia um piano que eu colocava as atrizes para tocar. Quando a vi cantando ‘Estúpido cupido’, vi que era ela mesma.”
São várias as canções interpretadas no filme – em estúdio e na TV. Os registros foram feitos por outros cantores. “As músicas são em playback, tanto que eu não precisava que os atores fossem excelentes cantores, mas eles tinham que ter ouvido.”
Murilo e Marianna já tinham feito musicais juntos, então já havia sintonia entre eles, conta o diretor. Tony Campello chegou a assistir a algumas filmagens. “Ele olhava para o Murilo com aquele topete e falava ‘que coisa estranha’ (diante da semelhança)”, diz Pereira.
“UM BROTO LEGAL”
(Brasil, 2022, 94min, de Luiz Alberto Pereira, com Marianna Alexandre e Murilo Armacollo) – Estreia nesta quinta-feira (16/6) no UNA Cine Belas Artes (Sala 3, 18h e 20h)