Uma reflexão sobre as diversas formas de infância. Essa é a proposta da 1ª Mostra Curió, que começa neste sábado (18/6) e prossegue até 26 de junho em BH. A abertura ficará a cargo de Dodi Leal, professora e doutora em psicologia social, que abordará a centralidade do adulto no mundo das artes.
“O tema me parece urgente numa sociedade que rebaixa a estética, a cognição e a presença da infância. Esse rebaixamento intelectual-cognitivo e artístico tem custo muito alto, pois coloca a criança num lugar incapacitado, despreparada para viver em sociedade”, afirma Dodi. “Na verdade, a gente tinha de fazer os adultos brincarem, fazê-los voltar à memória de infância”, diz.
TRAVESTI
Dodi, que é travesti, destaca a importância de debater o preconceito que envolve gêneros sexuais. Aliás, neste junho se comemora o Mês do Orgulho LGBTQIA+. De acordo com ela, travestis são consideradas inábeis para o trabalho educacional. Professora de artes, Dodi defende a necessidade de lidar com mais naturalidade em relação à diversidade de corpos.
A palestra de Dodi está marcada para as 15h, no Memorial Vale, na Praça da Liberdade, um dos vários espaços da capital onde ocorre a Mostra Curió.
VARIEDADE
Keu Freire, idealizador do evento, diz que é importante destacar a variedade de infâncias dentro da própria cidade ao levar a programação para vários espaços de BH.
Entre eles estão o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, Centro Cultural Venda Nova, UFMG, praça de Santa Tereza, Teatro da Cidade, Teatro Espanca, Centro Cultural Zilah Spósito e Parque Ecológico Alfredo Sabetta, no Barreiro.
“Além de democratizar o acesso, a gente atinge um encontro de infâncias diversas. A infância da criança que cresce no bairro Jaqueline é diferente da infância de quem é criado no bairro São Pedro, na Zona Sul”, observa Freire.
Além da abertura com Dodi Leal, o Memorial Vale receberá o espetáculo “Enxergando o invisível”, no domingo (19/6), estrelado pela manauara Ananda Guimarães, do grupo amazonense Cia Trilhares. Dando vida à palhaça Neneca, ela conta sua própria história.
“Gosto de pensar que Ananda é a persona e a Neneca quem realmente eu sou. É um trabalho autobiográfico que fala sobre como perdi a visão no ensino médio. Tenho uma condição chamada atrofia macular juvenil, e a Neneca narra quem é a Ananda antes e depois de se entender como uma mulher com deficiência”, conta.
EMANCIPAÇÃO
De acordo com a atriz, sempre há comoção por parte de espectadores que enxergam, o que é importante no processo de emancipação de pessoas com deficiência. No caso do público portador de deficiência, a identificação é reforçada pela linguagem da palhaçaria.
“Eles se pegam rindo de situações em que eles próprios se vêem. Pessoas com deficiência não são um grupo fechado, há múltiplas deficiências e muitas demandas. Não é só a minha, não é só de visão, não é só física, mas há cruzamentos em que você se vê e se reconhece, seja quanto ao capacitismo ou como as pessoas te olham sob (o ângulo) da corpo-normatividade”, explica Ananda.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
PROGRAMAÇÃO
SÁBADO (18/6)
14h: Vivência “Varal de infâncias”. Com Insensata Cia de Teatro. Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, Funcionários)
15h: Palestra “O adultocentrismo no mundo das artes”. Com Dodi Leal. Memorial Vale
18h: Oficina de dança afro “Combatendo o racismo”. Com Evandro Passos. Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza
DOMINGO (19/6)
10h: Vivência “Varal de infâncias”. Com Insensata Cia de Teatro. Memorial Vale
11h: “Enxergando o invisível”. Com Cia Trilhares. Memorial Vale
** Até 26 de junho. A Mostra Curió será realizada em vários espaços de BH. Entrada franca. Retirada de ingressos, inscrições e programação completa no Instagram (@insensatacia e @mostracurio).