Após muita polêmica, uma rede de cinemas no Peru retirou, no fim de semana, o alerta ao público sobre “cenas com ideologia de gênero” da animação “Lightyear”.
O filme da Disney Pixar apresenta um breve beijo entre duas mulheres, atraindo críticas em 14 países de maioria muçulmana, que o proibiram.
“A história de Buzz Lightyear, o herói que inspirou o brinquedo, e nos apresenta o lendário Space Ranger, que conquistou gerações de fãs, contém cenas com ideologia de gênero”, afirmava o site Cineplanet após a estreia do filme, na última quinta-feira (16/6).
“Parabéns Cineplanet por colocar um aviso de cenas ideológicas em um filme infantil”, tuitou o grupo La Familia Importa Perú.
DIVERSIDADE
Por sua vez, a organização feminista Demus afirmou: “Rechaçamos as expressões homofóbicas e desnecessárias do Cineplanet. Consideramos positivo que os filmes infantis mostrem a diversidade que somos e normalizem o amor em todas as suas formas.”
O filme narra as aventuras de Buzz Lightyear, boneco astronauta que foi um dos protagonistas do mega-hit “Toy story”. O capitão tem a missão de salvar sua equipe após aterrissar em um planeta perigoso.
O polêmico beijo foi trocado entre a patrulheira espacial Alisha Hawthorne, colega e fiel amiga de Buzz, com a companheira. As duas se casaram, têm filhos e netos. Foi um beijo, digamos, em “ambiente família”.
Se os “panos quentes” funcionaram no Peru, do outro lado do planeta Buzz Lightyear e Alisha estão em apuros. Países da Ásia e do Oriente Médio se recusaram a exibir o filme neste junho, o Mês do Orgulho LGBTQIA+, sigla que contempla lésbicas, gays, bissexuais, travestis, queers, intersexuais e assexuais.
Reguladores nos Emirados Árabes anunciaram o banimento da animação “Lightyear” por “violação dos padrões de conteúdo dos meios de comunicação no país”.
"CONTEÚDO SENSÍVEL"
A Indonésia, maior nação de maioria muçulmana, explicou que não proibiu o filme, “mas sugere que seu responsável pense no público indonésio, onde uma cena de beijo LGBT continua sendo conteúdo sensível.”
Rommy Fibri Hardiyanto, chefe do departamento de censura da Indonésia, disse que a Disney não ofereceu a versão editada do filme.
Tudo indica que a empresa se recusou a editar a animação e ofereceu a versão original para todos os mercados. Consequentemente, 14 países e territórios não permitiram a estreia.
A cena polêmica de Alisha com a esposa também causou controvérsia nos Estados Unidos, onde foi originalmente removida do filme.
Porém, a Pixar e a Disney voltaram atrás depois da pressão de funcionários, que denunciaram a falta de comprometimento de ambas com a defesa dos direitos da população LGBTQIA .
Chris Evans, que dublou Buzz na versão original, não mediu palavras ao comentar a polêmica. “A grande verdade é que essas pessoas são idiotas”, afirmou. “A história americana, a história humana é de constante despertar e crescimento social. E é isso que nos torna bons”, afirmou Evans, o Capitão América dos filmes da Marvel.
“Sempre haverá pessoas com medo, sem consciência e tentando manter o que era antes. Mas essas pessoas morrem como dinossauros”, disparou o astro americano.
“A questão toda é mostrar um relacionamento amoroso e duradouro, porque... Bem, não é um bom modelo para todo mundo? Temos um relacionamento que dura a vida inteira”, defendeu Galyn Susman, produtora da animação, ao comentar o relacionamento do casal lésbico.
Na última quinta-feira (16/6), “Lightyear” estreou em 1,4 mil cinemas brasileiros. Em Belo Horizonte, a animação está em cartaz nas salas das redes Cinemark, Cineart, Cinesercla e Cinépolis.