Cinquenta anos atrás, Ziggy Stardust desembarcou na Terra. O personagem extraterrestre e pansexual foi inventado pelo cantor britânico David Bowie para dar impulso à sua carreira, por meio de um álbum que se tornou clássico do rock.
Bowie passara uma década tentando decolar. Pertencia à geração dos anos 1960 de Londres, onde a concorrência era tal que mesmo dois grandes êxitos – “Space oddity”, em 1969, e “Changes”, dois anos depois – não lhe permitiram se destacar.
“Tudo o que ele tentou desde o início de sua carreira falhou”, comenta Jerome Soligny, considerado um dos maiores especialistas do mundo em David Bowie. O cantor e compositor morreu em janeiro de 2016, aos 69 anos, vítima de câncer.
AMBIGUIDADE
Bowie tinha uma carta na qual apostar naquele momento em que a música disco, a ambiguidade sexual e as roupas extravagantes começavam a ganhar força.
“The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” foi o jeito de Bowie de dar um pontapé naquela década prodigiosa que havia caído no langor hippie.
O álbum saiu em 16 de junho de 1972. “Ziggy Stardust” misturava o rock sujo e de garagem de Iggy Pop e Lou Reed (Bowie conheceu e ajudou os dois) com os cursos de pantomima e teatro que ele havia feito em Londres.
Magro a ponto da anorexia, David Bowie se apresentava maquiado até as orelhas, com cabelos tingidos, roupas extravagantes e bota plataforma altíssima.
Assim nasceu Ziggy, alienígena sem sexo definido (ou todos ao mesmo tempo), figura que homenageava secretamente predecessores como o veterano Vince Taylor, que acreditava ser um deus extraterrestre, e Legendary Stardust Cowboy, cantor precursor do psychobilly.
“Não queríamos nada com os anos 60”, lembraria Bowie anos depois. “Decidimos que estávamos no início do século 21”.
Para o especialista Jerome Soligny, “foi um golpe de marketing, sua mais bela criação”. O álbum traz os sucessos “Ziggy Stardust”, “Starman” e “Suffragette City”.
Os shows causavam sensação, com Bowie trocando de figurino várias vezes e interpretando provocativamente o papel de alienígena, correndo o risco de ser vaiado, como ocorreu no início.
Em julho de 1972, ele foi convidado do programa de televisão da BBC “Top of the pops”. Seguiu-se uma turnê americana de sucesso fenomenal. Foi um estouro.
O FIM
Tão rápido quanto veio, aquele alienígena desapareceu da face da Terra. Em julho de 1973, durante um show em Londres, Bowie anunciou que Ziggy não existia mais.
“Com a ajuda de alguns produtos químicos, borrar a distinção entre a realidade e a criatura que havia criado começou a se tornar muito fácil”, reconheceu o cantor e compositor.
David Bowie havia conseguido o estrelato do rock, e agora só precisava continuar provando seu valor. O que fez, brilhantemente, nas quatro décadas seguintes.