Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Alexandre Nero lança o seu quarto álbum com participação de trinca de ases


A arte é a maior forma de expressão de Alexandre Nero, não importa se é atuando ou fazendo música. Nesta ânsia de trabalhar os sentimentos de forma produtiva, o ator e músico lançou o álbum "Quartos, suítes, alguns cômodos, outros nem tanto", fruto de um trabalho extenso, o quarto de sua carreira como cantor e compositor.





O disco de 11 faixas foi apresentado ao público em abril passado. O álbum começou a ser produzido em 2018 e traz uma arrojada e rebuscada percepção de Nero sobre os assuntos que atravessaram a vida do ator durante esses mais de quatro anos de produção.

"Foi o processo mais longo, doloroso e difícil da minha vida profissional", afirma. "Foi muito cansativo, muito estressante, uma angústia. Diversas vezes pensei em desistir. Acho que tudo isso está lá no disco", diz.

A dor do processo não era apenas relacionada à complexidade de produzir um disco, mas a todo o contexto em que o artista estava inserido. Um exemplo são duas das parcerias que ele fez no caminho, que não puderam ver o trabalho final. Aldir Blanc (1946-2020) assina junto de Alexandre a canção “Virulência”, a primeira do álbum, e Elza Soares (1937-2022) canta um trecho de “Miseráveis”.





Além da presença no álbum, Blanc foi um parceiro com quem o cantor dividia o projeto. "Depois da morte dele, me senti muito sozinho, sem saber muito com quem dividir." Elza Soares foi convidada apenas como intérprete, em uma canção que conversava com as pautas sociais que ela costumava cantar. "Acho que é muito mais a minha homenagem a eles. Eu agradeço a eles a oportunidade de poder estar aqui para prestar essa homenagem muito merecida", comenta.

BITUCA 

Milton Nascimento é outro nome ilustre presente no disco. O cantor mineiro empresta a voz para a música “Em guerra de cegos”. "Ter esses três nomes no meu álbum me deixa sem palavras para explicar o sentimento; estou nas nuvens", diz Alexandre Nero. "Uma boa frase que talvez explique o que estou sentindo é do Milton e do Márcio Borges: 'Sonhos não envelhecem'", acrescenta. "Fico brincando com os meus amigos que posso me aposentar agora", completa.

Não foram apenas músicos que inspiraram o trabalho presente no disco, a poesia é muito viva nas referências do artista. "Sou filhote de Paulo Leminski, então a poesia está em mim desde muito moleque", conta Alexandre Nero, que cita a importância dessas referências em sua maneira de criar. "Sou fascinado pela arquitetura das palavras. Uso-as como brinquedos de montar", diz o cantor, que abusa de aliterações no novo disco.







As presenças de peso se somam a uma musicalidade sofisticada e letras líricas e poéticas. Em “Quartos, suítes, alguns cômodos, outros nem tanto”, Alexandre Nero fala sobre o que acredita, e critica de forma contundente os rumos do Brasil desde 2018.

"É um abismo político, é um abismo não só político. Acho que é um abismo moral. O Brasil começou a tomar um rumo como sociedade que é assustador. Falta uma postura humana com as pessoas", analisa o músico. "Então,  acho que é inevitável falar sobre esse caminho. Eu, como artista, preciso falar do meu tempo", acrescenta.

A pandemia também se tornou tópico. “Virulência”, a música escrita com Blanc, faz uma metáfora sobre o período, por exemplo. "Nunca pensei em fazer um disco para falar alguma coisa sobre isso. Porém, foi inevitável. Eu falo do meu redor. No disco, eu falo do meu filho, de solidão, de depressão. A gente passou por uma pandemia, não tinha como não tocar nesse assunto", aponta. "A gente passa por uma treva muito escura. Faço essas críticas como forma de refletir os caminhos do nosso tempo. Esse é meu papel como artista."


"QUARTOS, SUÍTES, ALGUNS CÔMODOS, OUTROS NEM TANTO"

.Alexandre Nero
.Selo Risco, 11 faixas
.Disponível nas plataformas digitais