A série “P-Valley” estreou em julho de 2020. Primeiros meses da pandemia, com todos ainda trancados em casa, foi uma válvula de escape e tanto assistir a um grupo incrível de mulheres negras, strippers, que ganhavam a vida em um clube de uma pequena cidade, a fictícia Chucalissa, no Delta do Mississippi. A COVID fazia parte do mundo lá fora naquela época.
Leia Mais
Separe 3h55 para assistir aos dois últimos episódios de "Stranger things""O mistério de Irma Vap" chega a BH amanhã com Mateus Solano e Luis MirandaSérie "Fortuna" ironiza bilionários por sua falta de noção da vida realBallet Jovem Minas Gerais faz "O patinho feio" se descobrir bonito dançandoO primeiro episódio mostra as personagens lutando para manter o clube Pynk aberto. Criam, inclusive, uma espécie de lap dance em que o homem fica dentro do carro – e como na temporada inicial, a sequência de dança é impecável, em formato de videoclipe.
Criadora da série, baseada no espetáculo homônimo também de sua autoria, Katori Hall comenta que, quando criou o primeiro ano, já tinha o segundo na cabeça. “Aí veio a pandemia. Eu disse: ‘tenho que usar a ficção para falar sobre o mundo real’."
Ela prossegue: "Como mulher negra, senti que era minha responsabilidade falar como as comunidades negras foram afetadas desproporcionalmente pela crise sanitária. A pandemia expôs toda a injustiça racial que ainda tentamos desmantelar nos Estados Unidos. Ela é parte, não toda a história. Mas deixa as coisas mais difíceis para as nossas personagens.”
Ela prossegue: "Como mulher negra, senti que era minha responsabilidade falar como as comunidades negras foram afetadas desproporcionalmente pela crise sanitária. A pandemia expôs toda a injustiça racial que ainda tentamos desmantelar nos Estados Unidos. Ela é parte, não toda a história. Mas deixa as coisas mais difíceis para as nossas personagens.”
Lava-jato
O novo ano, com 10 episódios (a temporada inicial teve oito) começa precisamente com este entrave. As dançarinas precisam continuar ganhando a vida, mas tudo está às moscas. Criam a tal alternativa no carro, que é basicamente um lava-jato para lá de sensual. E não foi só a pandemia que mudou o cenário – há uma nova dinâmica de poder.
Na temporada inicial, Autumn (Elarica Johnson) era uma jovem de passado obscuro que batia à porta do clube pedindo uma chance. O local era comandado por Tio Clifford (Nicco Annan), pessoa de gênero fluido que usa em igual medida saltos altíssimos e uma barba sempre por fazer. Pois os dois estão num grande embate agora.
“A Autumn está tão diferente nesta temporada que parece outra personagem. Fato é que ela é a chefe agora, é dona da maior porcentagem do clube. E Clifford sempre esteve no comando, então vai haver turbulência entre os dois. E, no fim das contas, Autumn vai fazer o que tiver que fazer”, comenta Elarica Johnson, a única britânica no set dominado por atores e atrizes sulistas.
Katori Hall admite que a maior surpresa em relação a “P-Valley” foi a recepção internacional. “Pensei que, como a série é americana, e com coisas tão específicas do Sul dos EUA, isto não iria acontecer. Mas as pessoas entenderam os personagens, mesmo que não entendessem tudo o que diziam”, comenta ela, a respeito das gírias e das referências muito locais.
Mas, no fim das contas, “P-Valley” é sobre mulheres tentando fazer a diferença em um universo em que os homens sempre mandaram. E o que se vê na tela também vale para os bastidores. O elenco é majoritariamente feminino – e todos os episódios são dirigidos por mulheres.
Lentes
Mais de uma dúzia de diretoras trabalhou nas duas temporadas. “É incrível, a gente não acha que há mulheres suficientes, mas há sim, elas só não estão trabalhando tanto como deveriam. As ‘lentes femininas’, como a Katori chama, contam a história de um ponto de vista muito melhor, pois elas entendem as personagens. Além do mais, sabem filmar melhor o corpo e os ângulos de uma mulher”, comenta Elarica.
Katori, que comanda tudo, assinou também a direção do último episódio da temporada. “Meu processo é muito específico. Escrevo no roteiro como quero todas as tomadas, depois sento com cada uma das diretoras. Mas a diversão acontece mesmo no processo de montagem”, diz ela, que acredita que a série vem mostrando ao mundo outro lado das strippers.
“Acho que depois de verem como o pole dancing é difícil e que tem que ser visto como uma forma de arte, houve um novo respeito por elas. Além disso, a série mostra que estas mulheres, depois de todo o glitter, vão para casa, para a igreja, para os namorados. São mulheres bem reais”, conclui Katori.
“P-VALLEY”
A segunda temporada, com 10 episódios, estreia neste domingo (3/7), no Starzplay. Um novo episódio a cada domingo.