A série “P-Valley” estreou em julho de 2020. Primeiros meses da pandemia, com todos ainda trancados em casa, foi uma válvula de escape e tanto assistir a um grupo incrível de mulheres negras, strippers, que ganhavam a vida em um clube de uma pequena cidade, a fictícia Chucalissa, no Delta do Mississippi. A COVID fazia parte do mundo lá fora naquela época.
Eis que “P-Valley” chega à sua segunda temporada, com estreia neste domingo (3/7), no Starzplay. Quando o mundo está voltando à normalidade (ou o que seja normal na atualidade), a série traz justamente a pandemia para a narrativa.
O primeiro episódio mostra as personagens lutando para manter o clube Pynk aberto. Criam, inclusive, uma espécie de lap dance em que o homem fica dentro do carro – e como na temporada inicial, a sequência de dança é impecável, em formato de videoclipe.
Criadora da série, baseada no espetáculo homônimo também de sua autoria, Katori Hall comenta que, quando criou o primeiro ano, já tinha o segundo na cabeça. “Aí veio a pandemia. Eu disse: ‘tenho que usar a ficção para falar sobre o mundo real’."
Ela prossegue: "Como mulher negra, senti que era minha responsabilidade falar como as comunidades negras foram afetadas desproporcionalmente pela crise sanitária. A pandemia expôs toda a injustiça racial que ainda tentamos desmantelar nos Estados Unidos. Ela é parte, não toda a história. Mas deixa as coisas mais difíceis para as nossas personagens.”
Ela prossegue: "Como mulher negra, senti que era minha responsabilidade falar como as comunidades negras foram afetadas desproporcionalmente pela crise sanitária. A pandemia expôs toda a injustiça racial que ainda tentamos desmantelar nos Estados Unidos. Ela é parte, não toda a história. Mas deixa as coisas mais difíceis para as nossas personagens.”
Lava-jato
O novo ano, com 10 episódios (a temporada inicial teve oito) começa precisamente com este entrave. As dançarinas precisam continuar ganhando a vida, mas tudo está às moscas. Criam a tal alternativa no carro, que é basicamente um lava-jato para lá de sensual. E não foi só a pandemia que mudou o cenário – há uma nova dinâmica de poder.
Na temporada inicial, Autumn (Elarica Johnson) era uma jovem de passado obscuro que batia à porta do clube pedindo uma chance. O local era comandado por Tio Clifford (Nicco Annan), pessoa de gênero fluido que usa em igual medida saltos altíssimos e uma barba sempre por fazer. Pois os dois estão num grande embate agora.
“A Autumn está tão diferente nesta temporada que parece outra personagem. Fato é que ela é a chefe agora, é dona da maior porcentagem do clube. E Clifford sempre esteve no comando, então vai haver turbulência entre os dois. E, no fim das contas, Autumn vai fazer o que tiver que fazer”, comenta Elarica Johnson, a única britânica no set dominado por atores e atrizes sulistas.
Katori Hall admite que a maior surpresa em relação a “P-Valley” foi a recepção internacional. “Pensei que, como a série é americana, e com coisas tão específicas do Sul dos EUA, isto não iria acontecer. Mas as pessoas entenderam os personagens, mesmo que não entendessem tudo o que diziam”, comenta ela, a respeito das gírias e das referências muito locais.
Mas, no fim das contas, “P-Valley” é sobre mulheres tentando fazer a diferença em um universo em que os homens sempre mandaram. E o que se vê na tela também vale para os bastidores. O elenco é majoritariamente feminino – e todos os episódios são dirigidos por mulheres.
Lentes
Mais de uma dúzia de diretoras trabalhou nas duas temporadas. “É incrível, a gente não acha que há mulheres suficientes, mas há sim, elas só não estão trabalhando tanto como deveriam. As ‘lentes femininas’, como a Katori chama, contam a história de um ponto de vista muito melhor, pois elas entendem as personagens. Além do mais, sabem filmar melhor o corpo e os ângulos de uma mulher”, comenta Elarica.
Katori, que comanda tudo, assinou também a direção do último episódio da temporada. “Meu processo é muito específico. Escrevo no roteiro como quero todas as tomadas, depois sento com cada uma das diretoras. Mas a diversão acontece mesmo no processo de montagem”, diz ela, que acredita que a série vem mostrando ao mundo outro lado das strippers.
“Acho que depois de verem como o pole dancing é difícil e que tem que ser visto como uma forma de arte, houve um novo respeito por elas. Além disso, a série mostra que estas mulheres, depois de todo o glitter, vão para casa, para a igreja, para os namorados. São mulheres bem reais”, conclui Katori.
“P-VALLEY”
A segunda temporada, com 10 episódios, estreia neste domingo (3/7), no Starzplay. Um novo episódio a cada domingo.