Depois da ausência de quatro anos do calendário cultural brasileiro – dois deles por conta da pandemia da COVID-19 –, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo está de volta. Desde ontem (2/7), o evento ocupa 65 mil metros quadrados no Expo Center Norte, na capital paulista, onde recebe 182 expositores e cerca de 500 selos editoriais. Até o próximo domingo (10/7), passarão por lá 300 autores nacionais e estrangeiros, entre eles os mineiros Ailton Krenak e Conceição Evaristo.
Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), entidade que organiza a Bienal, descreve o evento como “a maior livraria de livros físicos da América Latina”.
Cerca de três milhões de exemplares estão disponíveis para o público, o que, segundo ele, funciona como incentivo à leitura e vitrine para editoras e autores.
“O espaço onde a Bienal acontece está totalmente tomado. Nosso evento conseguiu envolver grande quantidade de editoras e autores, contando também com parcerias inéditas com órgãos públicos para engrossar a venda de livros”, ele explica. A expectativa é receber 500 mil visitantes.
Voucher de R$ 60 para gastar na Bienal
A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, forneceu voucher no valor de R$ 60 para cerca de 80 mil pessoas, entre alunos, bibliotecários e professores da rede pública.“Com esse dinheiro, é possível comprar dois ou três livros interessantes por livre escolha, em qualquer estande de qualquer expositor. É uma forma de incentivar a leitura e o consumo de livros”, afirma Tavares.
De acordo com ele, testemunhar a relação que jovens e crianças desenvolvem com a leitura é apaixonante. “Estou no mercado há muitos anos e sempre me desperta a atenção o prazer que as crianças têm ao entrar em contato com os livros. É a minha décima-quinta Bienal, nunca vi um pai recusar um livro para uma criança. E é o livro de papel, físico, que exerce essa atração tão grande.”
''É a minha 15ª Bienal, nunca vi um pai recusar um livro para uma criança. E é o livro de papel, físico, que exerce essa atração tão grande''
Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro
“Naquela época, tínhamos a Bienal 80% organizada. A participação de autores estava encaminhada, as cartas de intenção para convidá-los haviam sido enviadas. Tomamos a decisão de não cancelar o evento, e sim adiá-lo, o que foi muito acertado. Nos deu tranquilidade maior para pensá-lo”, afirma o presidente da CBL.
De acordo com Vitor Tavares, apesar de a pandemia não ter chegado ao fim, o momento atual é de maior tranquilidade, principalmente devido à vacinação.
“Quando decidimos adiar, muitos expositores deixaram o evento com medo do que aconteceria nos próximos meses. Quando voltamos a organizá-lo, tivemos uma surpresa enorme, porque muita gente quis voltar e expositores novos buscaram comprar espaços na programação.”
Campanha estimula o gosto pela leitura
Com o tema “Todo mundo sai melhor do que entrou”, a Bienal faz campanha pela leitura como agente de transformação. Segundo Vitor Tavares, essa ideia se reflete diretamente no visitante.
“A Bienal deixa marca na memória das pessoas. É bastante comum que elas se lembrem da primeira vez que vieram. É especial encontrar os livros do momento, ver quais serão os próximos lançamentos e ter a oportunidade de se encontrar pessoalmente com o autor preferido. Isso tudo é muito rico, principalmente para os jovens e as crianças”, ele comenta.
Quem for ao Expo Center Norte poderá esbarrar com escritores que vêm se destacando no país, como Laurentino Gomes, Mario Sergio Cortella, Miriam Leitão, Itamar Vieira Jr., Mauricio de Sousa, Thalita Rebouças e Tom Zé. Dois mineiros integram esse time: Conceição Evaristo e Ailton Krenak.
Entre os nomes internacionais, a Bienal recebe o português Valter Hugo Mãe, a moçambicana Paulina Chiziane, o norte-americano Nathan Harris e a espanhola Elena Armas, que ganhou destaque nas redes sociais com o romance “Uma farsa de amor na Espanha”.
Vitor Tavares afirma que o conjunto de convidados representa “o poder criativo do ser humano”.
“Para produzir um livro, você precisa ter o dom de retratar a realidade. Além disso, você precisa convencer o público leitor de que aquele universo criado é crível. A troca que acontece quando um leitor conhece o autor, ou quando o autor conhece o leitor, é muito rica para ambos os lados. Só um evento presencial pode proporcionar isso”, reforça o presidente da CBL.
Bienal do Livro de SP homenageia Portugal
Portugal ganhou destaque na programação. Estande do país promove o lançamento de novos títulos, com a participação dos autores. No espaço gastronômico Cozinhando com Palavras, o projeto Portugal dos Sabores oferece palestras, demonstrações culinárias e degustações de pratos portugueses.
“Há muito tempo é desejo da CBL homenagear Portugal na Bienal do Livro. Na reabertura do Museu da Língua Portuguesa, em julho de 2021, nós reiteramos essa vontade. Acredito que seja bastante simbólica a presença do país, principalmente porque estamos no ano que marca o bicentenário da Independência do Brasil. É um dos pontos altos do evento”, afirma Tavares.
A comitiva do além-mar conta com os chefs Vitor Sobral e André Magalhães e 23 autores, o que inclui escritores portugueses, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e do Timor-Leste. Todos com obra publicada no Brasil nos últimos meses ou com lançamento nesta Bienal Internacional.
''Quando decidimos adiar, muitos expositores deixaram o evento com medo do que aconteceria nos próximos meses. Quando voltamos a organizá-lo, tivemos uma surpresa enorme, porque muita gente quis voltar e expositores novos buscaram comprar espaços''
Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro
Plataforma de negócios em ação
Além da vasta agenda cultural, o evento promove ações na área econômica. De quinta-feira (29/6) a sábado (2/4), a 3ª Jornada Profissional ofereceu rodadas de negócios com editores estrangeiros e programação de palestras. O objetivo é divulgar o setor editorial brasileiro no mercado global.O Papo de Mercado Metabooks se dedica à reflexão de temas de interesse dos profissionais da cadeia do livro. Entre eles, a internacionalização da literatura brasileira e as oportunidades para o setor editorial no metaverso. Há também programação especial para as livrarias.
A RETOMADA
>> 500 mil
visitantes esperados
>> 182
expositores
>> 500
selos editoriais
>> 300
autores brasileiros e estrangeiros
>> 1,3 mil
horas de programação cultural
>> 65 mil m2
área ocupada
26ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO
Até 10 de julho. Expo Center Norte, Rua José Bernardo Pinto, 330, Vila Guilherme, São Paulo. Funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 22h; sábado e domingo, das 10h às 22h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Informações: www.bienaldolivrosp.com.br