Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Acauã Ranne faz louvação pop aos orixás no disco 'Xirê: Herança ancestral'


Multi-instrumentista, cantor, compositor, integrante da banda Preto Massa e do projeto Bala da Palavra, o mineiro Acauã Ranne aposta no diálogo das tradições de matriz africana com o blues, o jazz e o pop em seu novo álbum, “Xirê: Herança ancestral”.





Nascido em família musical, ele é sobrinho do cantor, compositor e multi-instrumentista Sérgio Pererê e filho de Santonne Lobato, um dos criadores do grupo Tambolelê. Em seu primeiro disco autoral, Acauã, de 26 anos, se volta para a trilha sonora da diáspora negra.

Mineiro vê negligência na utilização do sagrado

Cânticos do candomblé dedicados a Exu, Ogum, Obaluaiê, Oxum e Iemanjá são a base do álbum. “Esse trabalho é, basicamente, uma forma diferente de levar o sagrado afrodiaspórico para as ruas. Os afoxés já fazem isso há mais de 100 anos e a nossa MPB sempre cita os orixás”, comenta.

Porém, de acordo com ele, esses ritmos têm sido “usados de forma um pouco negligente” por alguns artistas. “As pessoas não têm a obrigação de saber tudo. Preciso me posicionar como uma pessoa do candomblé. Sou iniciado”, diz.





A forma que Acauã encontrou de fazer isso foi promover “um show de louvação” em “Xirê”. “É louvação aos orixás com roupagem pop. Tem teclados, sintetizadores, bateria, baixo, sopros e guitarras, enfim, tudo o que a música secular já nos ofereceu. Não só com tambores, mas dialogando com outras linguagens”, explica.

Acauã deixa claro que a herança ancestral é apresentada sob a ótica de sua vivência “enquanto músico, enquanto indivíduo negro e enquanto praticante de candomblé.” Os cânticos são interpretados em iorubá, e o mineiro busca promover o encontro dessa tradição sagrada com a música secular.

“Os cânticos foram arranjados por mim, foi colocada roupagem pop neles. Então, posso dizer que é um repertório 100% autoral, voltado completamente para o candomblé, para as divindades da diáspora”, afirma.



Websérie traduz o repertório para o mundo visual

O projeto tem várias camadas. “Xirê: Herança ancestral” não é apenas um disco, mas também websérie, reforça o músico.

“Teremos o audiovisual com sete vídeos, pois são sete faixas. É álbum curto. Chamo de álbum porque é um projeto composto pelos cânticos com meus arranjos e traz uma história. Vamos lançar os episódios em alguma plataforma. A gente fará uma espécie de série”, adianta.

Ele se orgulha de ter como convidados “grandes amigos de longa data, músicos de gerações distintas.” Diz que a maioria dos companheiros faz parte da nova cena de Belo Horizonte, “todos tocando com competência e execução muito bonitas”.





O disco chegará às plataformas digitais em 15 de julho. No dia 17, Acauã promoverá o lançamento presencial com show no espaço cultural do Mercado da Lagoinha. “Teremos várias atrações, além de barracas servindo comida. Vamos fazer uma grande festa.”

Banda de amigos

Vão acompanhar Acauã os músicos que tocaram no disco: Cyrano Almeida (bateria), Lucas de Moro (teclados), João Paulo Alves (trombone), William Alves (trompete), Silas Prado (sax-tenor), Bruno de Oliveira (baixo), Nath Rodrigues e Iaiá Drumond (vocais). A direção musical é assinada por Lucas de Moro.

“Toco guitarra, canto e estou também na direção musical”, afirma Acauã, que anuncia mais dois volumes de seu projeto voltado para os sons herdados da África.

“XIRÊ: HERANÇA ANCESTRAL”

• Disco de Acauã Ranne
• Sete faixas
• Disponível nas plataformas digitais em 15/7
• Show de lançamento em 17/7, no Mercado da Lagoinha, em BH