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Estado de Minas LITERATURA

Brasileiro odeia ler? Paixão por livros leva multidão à Bienal de SP

Filas, aglomeração, corrida aos estandes e debates concorridos marcaram o primeiro final de semana da Bienal Internacional do Livro de São Paulo


04/07/2022 04:00 - atualizado 04/07/2022 16:48

Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Jovens fizeram da Bienal Internacional do Livro de São Paulo o seu programa de final de semana (foto: Bienal Internacional do Livro de SP/divulgação)

SÃO PAULO – Biblioteca gigantesca, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, aberta no último sábado (2/7), é um universo em que o gosto pela literatura é quase unanimidade, além de ser um dos lugares onde os leitores têm a oportunidade de se encontrar pessoalmente com alguns de seus escritores favoritos.

Tudo é superlativo.  Nesta 26ª edição, o evento ocupa 65 mil metros quadrados no Expo Center Norte, na capital paulista, onde recebe 182 expositores, cerca de 500 selos editoriais e 300 escritores brasileiros e estrangeiros – entre eles, Valter Hugo Mãe, Mario Sergio Cortella e Conceição Evaristo.

Mas os protagonistas são os livros: cerca de 3 milhões de exemplares estão à venda.

''Se rebelem sempre. Cumpram o papel que o jovem ocupa. A gente não pode se acomodar, naturalizar as coisas. A gente corre o risco de continuar elegendo pessoas que nada têm a ver com a mudança do Brasil''

Daniel Munduruku, escritor


Sol lá fora, multidão eufórica dentro do Expo Centro Norte

Todo esse tamanho tem um preço. No dia da abertura, um sábado ensolarado, a Bienal atraiu verdadeira multidão. Antes das 10h, horário previsto para os portões se abrirem, a fila já dava voltas ao redor do Expo.

Quando se abriu o portão principal, houve até correria. Eufórico, o público buscava os melhores lugares na Arena Cultural, que às 11h30 recebeu nomes de peso da literatura infantojuvenil: Thalita Rebouças, a mineira Paula Pimenta, Bruna Vieira e Babi Dewet, que conversaram sobre a adaptação das respectivas obras para o audiovisual.

A euforia em torno desta Bienal do Livro se justifica pelo hiato de quatro anos que o evento amargou. A 25ª edição foi realizada em 2018; a de 2020 foi adiada devido à COVID-19. Portanto, a alta procura é também fruto da demanda reprimida, sobretudo de grandes acontecimentos presenciais.
 

O primeiro dia foi marcado por aglomerações. Havia filas quilométricas nos caixas para pagar os livros e para entrar nos estandes – principalmente em espaços de grandes editoras como a Companhia das Letras, a Intrínseca e a Rocco, cuja decoração é inspirada no universo “Harry Potter”.

Apesar da recomendação do uso de máscaras, que é opcional, boa parte do público dispensou o adereço de segurança fundamental para evitar o contágio da COVID-19.

Outra medida recomendada pela organização, o distanciamento físico de 1 metro entre as pessoas, não foi observada, devido à grande quantidade de visitantes.

Crianças, com crachá no estande com personagens de Mauricio de Sousa
Crianças, com crachá para não se perderem dos pais, ganharam atenção especial no estande com a deficiente visual Dorinha e o cadeirante Lucca, personagens de Mauricio de Sousa (foto: Bienal Internacional do Livro de SP/divulgação)


Além de estandes das editoras e da vasta programação cultural com estrelas do mercado editorial, como Mauricio de Sousa, que atraiu multidão à Arena Cultural para ouvi-lo falar sobre sua carreira, a Bienal do Livro tem outro grande destaque: Portugal.

O país é o convidado de honra do evento em 2022, quando a Independência do Brasil completa 200 anos. No estande de 500 metros especialmente projetado para homenagear o país, há exposição alusiva ao centenário de José Saramago (1922-2010), comemorado em 16 de novembro próximo, e mais de 3 mil livros trazidos de Portugal e ainda não publicados no Brasil.

Bondinho de Lisboa no estande de Portugal 

Destacam-se também a réplica de um bondinho, símbolo de Lisboa, e a programação especial com 21 autores do país europeu. Por lá passarão Matilde Campilho, Dulce Maria Cardoso e Ricardo Araújo Pereira, além de escritores lusófonos como a moçambicana Paulina Chiziane, o timorense Luís Cardoso e o angolano Kalaf Epalanga.

Valter Hugo Mãe, Lilia Schwarcz, Daniel Munduruku e Isabel Lucas em mesa da Bienal do Livro de SP
O autor português Valter Hugo Mãe, a historiadora Lilia Schwarcz, o escritor Daniel Munduruku e a jornalista Isabel Lucas durante debate no pavilhão português (foto: Cavalieri Video e Fotografia/divulgação)


Valter Hugo Mãe participou do debate de abertura do pavilhão dedicado a Portugal. Mediada pela jornalista portuguesa Isabel Lucas, curadora da programação do espaço, a conversa, em torno do tema “Falamos de quem quando falamos do outro?”, contou com os escritores Daniel Munduruku e Lilia Moritz Schwarcz.

Os três discutiram os efeitos do colonialismo na formação da identidade brasileira. Não pouparam críticas ao governo federal ao comentar o significado do 7 de Setembro.
 
“Não vamos naturalizar o golpe e não vamos deixar que Jair Bolsonaro conte essa história militar e golpista do 7 de Setembro. O 7 de Setembro em que nós queremos acreditar fala de liberdade e emancipação. E é disso que precisamos neste nosso Brasil”, afirmou Schwarcz.

“Que Independência e que 2022 nós queremos celebrar? Um 2022 tão europeu, português, palaciano, masculino? Que não fala das lutas que nós tivemos no Nordeste? (...) Se trata de falar do porquê de o Brasil se tornar império cercado de repúblicas por todos os lados. Por que nós tivemos uma Independência tão conservadora?”, provocou Lilia, autora do livro “Brasil: uma biografia” em parceria com a historiadora mineira Heloisa Starling.

Jovens leitores e a eleição de 2022

A conversa também enveredou pela política, quando um espectador perguntou a respeito da importância dos jovens no resultado das eleições presidenciais de 2022.

Daniel Munduruku respondeu: “Sejam rebeldes. Se rebelem sempre. Cumpram o papel que o jovem ocupa. A gente não pode se acomodar, naturalizar as coisas. A gente corre o risco de continuar elegendo pessoas que nada têm a ver com a mudança do Brasil. Vamos continuar elegendo mitos, palhaços, armamentistas. Cabe à juventude eleger pessoas jovens que possam colocar em prática uma nova ética no Congresso Nacional.”

Grupo de adolescentes lê prospecto informativo na Bienal de São Paulo
Recomendação do uso de máscaras não foi seguida à risca no fim de semana (foto: Bienal Internacional do Livro SP/divulgação)


Outro fator que chama a atenção na Bienal é a presença de pessoas de todas as idades. No entanto, o evento é bastante voltado para crianças e adolescentes, público que representa o grosso dos visitantes principalmente durante a semana, quando ocorrem as visitas escolares. Por conta disso, a Bienal adotou medidas específicas – atenta, sobretudo, à segurança dos pequenos leitores.

“Temos monitores que ajudam crianças perdidas. Todas elas andam com um crachá com o nome e o telefone dos pais. A preocupação é fazer com que a criança tenha, logo nos primeiros anos de vida, paixão pela leitura. A gente ainda é um país com baixo índice de leitura. Essa formação acontece na primeira infância e na adolescência. Não se forma impondo conteúdo, e sim criando ações para fazer com que elas tenham prazer na leitura”, afirma Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), entidade que organiza a Bienal.

Leitores sentados sorriem enquanto homem conta histórias ao microfone na Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Estandes de editoras promovem sessões de contação de histórias para entreter o público (foto: Bienal Internacional do Livro SP/divulgação )

O ofício solitário de celebridades

Tavares comentou também o fato de eventos como a Bienal do Livro transformarem escritores em celebridades. Multidões se mobilizam para pedir autógrafos e tirar fotos com pessoas cujo ofício é, na verdade, solitário.

“Eles ganham esse status por necessidade. A partir da hora em que o escritor se torna best-seller, ele precisa de seu público leitor. O autor que vai se afastando do público vai morrendo. Aquele que se afasta está empurrando o público para um outro (escritor), que vai saber conquistar o leitor”, diz Tavares.

“Afinal de contas, não existe nada que o autor mais goste do que ver seu livro na lista de mais vendidos ou sendo comentado nas redes sociais, em programas de TV, no jornal. Isso é o que todos os autores procuram”, comenta.

“O escritor que não entende isso não pode ser autor. O maior divulgador de uma obra é o autor enquanto ele está vivo. Se começa a ser estrelinha, não está fazendo um trabalho social por meio da literatura. A Bienal é cheia de autores desconhecidos que vêm para cá e pouco a pouco, de passo em passo, começam a divulgar seu trabalho e vão crescendo gradualmente”, diz Tavares.

A Bienal será encerrada no domingo (10/7). Hoje  (4/7), recebe Lázaro Ramos, Aline Bei,  Carla Madeira e o professor Natanael dos Santos, entre outros.

* O repórter viajou a convite da organização da Bienal Internacional do Livro de São Paulo

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