Distante dos palcos de Belo Horizonte desde 2015, quando encenou a comédia musical “Colados”, o dramaturgo e diretor Orlando Orube está de volta à carga. Livremente inspirada no livro “Ciranda das mulheres sábias”, da poeta e psicanalista norte-americana Clarissa Pinkola Estés, a peça “Senhora dos chapéus”, que tem texto e direção assinados por ele, terá única apresentação neste domingo (10/7), às 19h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Sozinha no palco, a atriz Renata Duarte Dutra dá vida a várias personagens que expressam o arquétipo da mulher sábia. A publicação que inspirou a peça faz uma reverência à maturidade feminina. “Sempre trabalho com espetáculos que reverberam o grito que se tem nas ruas e, no momento, o grito que me parece mais presente é o das mulheres”, diz Orube.
Ele conta que leu “Ciranda das mulheres sábias” e também “Mulheres que correm com lobos” – a obra mais conhecida de Clarissa – e aplicou o ponto de vista e o enfoque que ela dá ao universo feminino. “Essa sabedoria das mulheres, que tem algo de misterioso e de intuitivo, e que não se relaciona só com a maturidade – está presente nas avós e também nas meninas –, foi o que me motivou a escrever o texto”, afirma.
Ele destaca que, a despeito de reverberar o “grito” das mulheres na atualidade, “Senhora dos chapéus” não espelha necessariamente a condição feminina na contemporaneidade. Trata-se de uma peça que retrata a mulher de todos os tempos, segundo o diretor e dramaturgo.
SABEDORIA
“Acredito que não existe um tempo para a mulher; existe, sim, a sabedoria que vai passando de geração para geração. É algo que nós, homens, temos dificuldade de entender, porque é uma sabedoria do sangue, do abraço, do carinho, do afago”, diz.
Encarnando a personagem que dá título à montagem – e que é responsável por introduzir outras figuras femininas presentes na narrativa –, Renata Dutra considera que Orube foi muito feliz ao captar a essência do livro em que “Senhora dos chapéus” se inspira. “O que mais me chama atenção no texto é a forma como ele atinge nosso subconsciente, nossa memória coletiva, resgatando valores”, diz.
“A senhora dos chapéus, essa figura que inicia o espetáculo e vai contando histórias dentro de histórias, ela se encontra em todas as outras mulheres que vai apresentando. Gosto de dizer que, apesar de interpretar várias personagens, todas elas se juntam em uma mulher só. Elas têm dentro de si características que estão presentes em nossas mais profundas raízes”, aponta.
A atriz diz que se identifica com as personagens que interpreta, mas, sobretudo, vê nelas as mulheres de sua família. “São figuras que têm a ver com minhas memórias afetivas e que eu tomo como referências.” Ela, que também é produtora, educadora e mãe de gêmeas, destaca que o processo de realização de “Senhora dos chapéus” foi desafiador, mas também transformador.
O espetáculo, que estreou há cerca de um ano de forma remota e tem circulado por cidades do interior do estado há pouco mais de dois meses, foi todo feito – pensado, escrito, ensaiado – durante a pandemia. “Desde quando começamos as apresentações presenciais, a recepção tem sido fantástica. Estou muito feliz com o resultado e acho que esse espetáculo vai ter uma vida longa”, diz Orube, confiando que vá repetir o sucesso da peça “Te quero como queres, me queres como podes”, que em 2010 rodou todo o Brasil.
“A estreia on-line abriu portas, fez com que a peça chegasse a muitos lugares, então acho que agora vamos voltar a rodar muito. Pretendo fazer a tradução e levar para a Argentina também, talvez no início do próximo ano. ‘Senhora dos chapéus’ é um grito feminino que eu espero que comece a ecoar por tudo quanto é canto”, diz o diretor nascido em Mar del Plata e que passou longos anos radicado em Belo Horizonte antes de se mudar para Barroso – cidade próxima a Barbacena, no interior do estado.
EFEITO POSITIVO
Renata Dutra também considera que a estreia on-line acabou surtindo um efeito positivo para a montagem. Ela diz que foi uma experiência diferente, sem “a energia, a respiração e a emoção do público”, mas que foi importante para estabelecer balizas. “A gente promoveu um bate-papo depois da transmissão, com pessoas de várias partes do país. Isso serviu para amadurecer o espetáculo”, diz.
Ela comenta que, quando começou a circular fisicamente, “Senhora dos chapéus” já estava com todas as arestas aparadas. “O público das cidades por onde já passamos ficou extasiado – as mulheres, principalmente, mas também os homens, que são levados a recordar das presenças femininas que fizeram parte da formação deles”, ressalta.
“SENHORA DOS CHAPÉUS”
Texto de Orlando Orube, com Renata Duarte Dutra, neste domingo (10/7), às 19h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, 31.3516-1360). Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria do teatro ou no site Eventim.