Lançada nos EUA em dezembro de 1931, “Deliciosa”, comédia romântica de David Butler, tinha um atrativo e tanto para os brasileiros. No elenco estava o ator carioca Raul Roulien (1905-2000), que naquele mesmo ano havia chegado a Hollywood para tentar a sorte. No filme, o segundo de sua carreira, interpretou um russo, Sascha, integrante de um grupo de artistas europeus que tentava a sorte na América.
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A programação terá início às 8h e irá para além dos domínios da edificação que inaugurou a era do concreto armado na cidade. Além de sessões de cinema no teatro de câmara e espetáculo no Grande Teatro, haverá apresentações de música no hall de entrada e show no quarteirão da Rua dos Carijós.
“Hoje, ele é um espaço que atende a todos os públicos. Para além do teatro, conseguimos fazer com que se tornasse um centro cultural vigoroso”, comenta Sandra Campos, gerente do Cine Theatro Brasil Vallourec. Em 31 de outubro de 2020, foi ainda o primeiro teatro de BH a reabrir na pandemia. “Foi um período de muita luta. Reabrimos, depois fechamos novamente e cancelamos a programação de quase um ano”, continua ela.
Boa parte dos eventos foi reagendada e até hoje há um rescaldo do período da crise sanitária. Em 30 e 31 deste mês, por exemplo, finalmente serão realizados os shows Metallica S&M Brasil, marcados dois anos atrás. “O público voltou. No fim de semana, tivemos três sessões no sábado (9/7) e três no domingo (10/7) do (comediante) Thiago Ventura esgotadas. As pessoas estão sentindo mais segurança em ir ao teatro”, afirma Sandra.
AMPLIAÇÃO
Com a vida retornando à normalidade, a ideia, diz a gestora cultural, é ampliar em 2023 a atuação do Cine Theatro Brasil. “Uma das intenções é abrir as portas. Em vez de tudo acontecer no teatro (o principal conta com 1 mil lugares), a ideia é realizar projetos do lado de fora, como um quarteirão das artes”, acrescenta.
No próximo ano, inclusive o espaço, como o conhecemos hoje, completará sua primeira década. Fechado em 1999, o cinema, após seis anos de reforma, foi reinaugurado em outubro de 2013 como um centro cultural – na época, foram expostos os murais “Guerra e paz”, que Cândido Portinari (1903-1962) fez para a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
A ação desta semana começa às 8h com uma apresentação da Banda da Guarda Municipal na entrada principal, na Praça Sete. Ao longo do dia, e no mesmo local, haverá apresentações do Coral Lírico de Minas Gerais, do Coral Black to Black, de gospel, e do Baile da Dri, da cantora Adrianna.
Quando a noite cair, haverá forró com o Trio Lampião, no quarteirão fechado e, no Grande Teatro, o espetáculo “Francisco – Do rio ao riso”, protagonizado e dirigido por Carlos Nunes. No final deste mês, encerrando a temporada, haverá concerto com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, com trilhas do compositor John Williams.
RETORNO DO CINEMA
A vocação de cinema só foi retomada a partir de 2016, quando o Teatro de Câmara recebeu equipamentos de som e de exibição. O espaço, que comporta 250 espectadores, teve diferentes funções no passado (nos anos 1950 abrigou o primeiro restaurante popular de Minas Gerais). As poltronas, recuperadas, são do Cine Brasil original.
O local abriga anualmente uma mostra de cinema. Nesta semana, vai exibir quatro títulos clássicos, como “O garoto”, de Charles Chaplin, que completou seu centenário em 2021; e “Scarface”, de Howard Hawks, que é da mesma idade do Cine Brasil.
“Uma realização architectonica moderna em Bello Horizonte”. Foi desta maneira que o Estado de Minas de 21 de maio de 1930 anunciou a colocação da pedra fundamental do Cine Brasil, o primeiro cinema da Empresa Cine-Theatral, fundada alguns meses antes. A obra consumiu os dois anos seguintes. Em 20 de maio de 1932, o EM noticiou que o “arranha-céo” da cidade estava quase pronto.
A edificação foi projetada pelo arquiteto Alberto Murgel e pelo calculista Emilio Baumgart. O custo total da construção, de acordo com a matéria de 90 anos atrás, foi de 4 mil contos de réis. A matéria destacou ainda que o prédio teria dois elevadores da marca Otis. “Um detalhe que desperta curiosidade de quantos o vêm é o ângulo formado pelo prédio fazendo a frente à Praça Sete, lisa, côncava, dando a impressão de um casco de navio.”
PROGRAMAÇÃO
Quinta-feira (14/7)
8h – Banda da Guarda Municipal (Entrada da Praça Sete)
9h, 13h, 15h, 17h e 19h –Visitas guiadas com o educativo
10h – Filme “O garoto”, de Charles Chaplin (1921)
11h –Café com memória (Entrada da Praça Sete)
12h –Coral Lírico de Minas Gerais (Entrada da Praça Sete)
15h – Coral Black to Black (Entrada da Praça Sete)
Filme “Scarface”, Howard Hawks (1932) (Teatro de Câmara)
18h – Baile da Dri (Entrada da Praça Sete)
Filme “M, o vampiro de Dusseldorf”, de Fritz Lang (1931) (Teatro de Câmara)
19h – Trio Lampião (Quarteirão da Rua dos Carijós)
20h30 – Filme “Festim diabólico”, de Alfred Hitchcock (1948) (Teatro de Câmara)
21h – Espetáculo “Francisco – Do rio ao riso”, com Carlos Nunes (Grande Teatro)
Dia 29 de julho, 20h30
Encerramento da comemoração com o concerto “Música de cinema”, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), sob a regência de Sérgio Gomes, no Grande Teatro. Repertório traz trilhas de John Williams para “Harry Potter”, “Star Wars”, “Superman”, “Parque dos dinossauros” e “A lista de Schindler”. Imagens dos filmes serão exibidas simultaneamente com a música. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)