Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Bruno Berle zera carreira e transforma o terceiro disco no álbum de estreia


Pela primeira vez desde que iniciou a carreira musical, em 2014, o cantor e compositor alagoano Bruno Berle se apresenta em Belo Horizonte. O show será no próximo dia 30, no Teatro de Bolso do Centro Cultural Sesiminas.

Parte do repertório se baseia no álbum "No reino dos afetos", lançado pelo músico neste mês, por meio da gravadora britânica Far Out Recordings.





"Será um show voz e violão, formato que gosto de apresentar em lugares em que nunca fui. É prático, porque assim posso viajar e me apresentar sozinho. Vou cantar algumas faixas do disco, canções de artistas que admiro e músicas inéditas. Então dá para dizer que metade do show é inédita e a outra metade é dedicada ao novo álbum", ele conta.

A apresentação terá a participação da cantora e compositora mineira Jennifer Souza, que além de integrar a banda Moons tem uma carreira solo com dois discos lançados – "Impossível breve" (2013) e "Pacífica pedra branca" (2021). Bruno é um grande admirador do trabalho da artista e fez questão de convidá-la.



"Sou muito fã dela, desde o 'Impossível breve'. Quando esse disco foi lançado, eu o ouvia chorando", ele diz. "Esses dias ela me escreveu dizendo que ouviu o meu novo álbum e gostou muito. Fiquei no céu. Por isso fiz o convite a ela. Nossa ideia é apresentar pelo menos uma música dela juntos, talvez 'Possível breve', de que eu gosto muito."




 

Orgulho

Na prática, "No reino dos afetos" é o terceiro disco solo de Bruno Berle – depois de "Arapiraca, Maceió, 2013" (2014) e "Disco de Natal" (2019) –, mas o músico alagoano o considera como seu trabalho de estreia. Em seu perfil nas plataformas digitais, só está disponível o novo registro.

"Gosto de pensar que ele é o meu primeiro álbum, porque é o único que fiz da maneira como eu quis. Tenho orgulho dos meus trabalhos de início de carreira, conseguir fazê-los foi realmente uma vitória e eu me sinto muito feliz e honrado. Mas não gosto nem um pouco do meu primeiro álbum, porque me coloco muito para baixo nele. Ele representa um momento em que eu era muito inseguro e não era feliz. Por essa razão, tirei do Spotify e nunca mais vou cantar nem uma faixa dele ao vivo", ele afirma.

Com o novo trabalho, Bruno Berle persegue o sonho de ser um artista pop e, para isso, faz uso da batida lo-fi nas músicas, enquanto transita com naturalidade entre o R&B e a bossa nova. Um dos destaques do disco é a música "Quero dizer", influenciada por Frank Ocean e João Gilberto.





"Quero ser um artista pop, cantar em cima de batidas eletrônicas ou com uma banda. Esse lance de voz e violão é algo de que eu quero me afastar aos poucos. É claro que isso vai acontecer aos poucos, até porque esse é um formato com o qual eu me acostumei. Mas é o formato que eu quero deixar para trás", ele afirma.

Ciclo

Apesar disso, o álbum conta com duas músicas nesse estilo: as singelas "O nome do meu amor" e "Arraiada" – esta última escrita com base no poema homônimo do poeta português Pedro Ivo (1842-1906). Para o artista, elas funcionam como uma despedida do formato mínimo. "Elas encerram um ciclo que foi muito importante para mim de uma forma bastante legal", ele comenta.

É com esse mesmo adjetivo que Bruno Berle descreve o processo de produção de "No reino dos afetos", que traz músicas feitas desde 2017, quando ele começou a ouvir com atenção a obra de Geraldo Azevedo, principalmente o LP da coletânea "Personalidade", lançada em 1987, que conta com faixas como "Táxi lunar", "Dona da minha cabeça" e "Dia branco".





"Foi uma época em que eu ouvi muita música brasileira em vinil, e comecei a mudar o meu jeito de compor. Eu compunha muitas letras tristes, para baixo. E com muitas palavras. Comecei a perceber que o lance era mais música e menos palavras. Precisava me refazer", afirma Bruno.

O que também contribuiu para o registro ter sido produzido com leveza é o fato de o cantor e compositor ter colaborado com grandes amigos ao longo do processo. O principal deles é o alagoano Batata Boy, nome artístico de Leonardo Acioli. Ele está presente nas faixas "Quero dizer" e "Beat 1".

"Conheci o Batata vendo vídeos dele tocando bateria. Depois a gente se conheceu pessoalmente e formou o selo Batata Records, que agora está um pouco parado. Mas desde 2017 que a gente produz juntos. Trabalhar com ele é uma parada que mudou toda a minha perspectiva sobre música. Ele é um cara muito confiante e conseguiu passar isso para mim. Uma confiança no que se produz e não naquilo que se sabe, tecnicamente falando", comenta.





Experimentalismo

"No reino dos afetos" cumpre a função de reintroduzir Bruno Berle no cenário musical. Ao mesmo tempo em que tem uma abordagem pop, como na faixa de abertura, "Até meu violão", o trabalho conta com momentos de experimentalismo em faixas que misturam temas instrumentais com ruídos, como é o caso de "Virginia talk" e "É preciso ter amor".

'Primeiro' disco de um artista não estreante, "No reino dos afetos" mostra Bruno Berle na tentativa de reconstruir sua identidade artística perante o público e nada melhor do que a capa do álbum para traduzir isso: uma foto assinada pela artista carioca Ana Frango Elétrico que mostra o artista em close. 

 "NO REINO DOS AFETOS"
• De Bruno Berle
• Far Out Recordings (12 faixas)
• Disponível nas plataformas digitais

• Show de lançamento em Belo Horizonte em 30/7, às 20h, no Teatro de Bolso do Centro Cultural Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia), à venda no site Sympla