Jornal Estado de Minas

MÚSICA CLÁSSICA

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais se inspira nas artes plásticas


A relação entre música e artes plásticas é a grande inspiração para o concerto “Música sobre tela”, da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. O grupo apresenta as obras “Três quadros de Victor Meirelles” (2014), escrita por Cláudio de Freitas, fagotista da OSMG, e “Quadros de uma exposição” (1874), do compositor russo Modest Mussorgsky.





Com regência do maestro titular Sílvio Viegas, os concertos serão apresentados dentro das séries “Sinfônica ao meio-dia” e “Sinfônica em concerto”.  Na primeira, nesta terça-feira (12/7), às 12h, a orquestra traz trechos do repertório em apresentação gratuita. Na segunda, na quarta-feira (13/7), a partir das 20h30, o concerto completo terá ingressos a R$ 30 (inteira). Os dois espetáculos acontecem no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.

“A OSMG é uma das mais ecléticas que temos no Brasil. Ela toca de tudo: fazemos concertos sinfônicos, óperas, músicas populares e transitamos por vários gêneros, sempre com muita competência”, elogia o maestro, que também é professor de regência na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Música sobre tela” se inspira em duas obras compostas a partir de quadros e pinturas feitos por artistas plásticos. A ideia é expor as telas com uma breve explicação e apresentar as composições em seguida para que o público consiga fazer as conexões e percepções próprias sobre música e artes plásticas. “A música é uma forma muito grande e poderosa de expressão e ela amplia e emoldura nossa interpretação. Às vezes, a gente pode ouvir um quadro”, diz Viegas.






Narrativa em quadro

“Três quadros de Victor Meirelles” foi escrita por Cláudio de Freitas, fagotista integrante da OSMG e natural de Belo Horizonte. “A música conta mais ou menos a história e tenta passar um pouco da sensação do que o quadro narra”, aponta o maestro.

De acordo com Viegas, são três movimentos: o primeiro, inspirado pelo quadro “Passagem de Humaitá” (1868), retrata um momento importante da Guerra do Paraguai no qual a Esquadra Brasileira atravessa o Estreito do Humaitá para alcançar uma posição estratégica.

Cláudio de Freitas usa a música e o silêncio para representar a travessia, através dos metais e percussão, e evocar uma fantasmagórica atmosfera de antecipação. “Ele mistura a questão da guerra com a passagem pelo estreito, que aconteceu silenciosamente na calada da noite”, detalha o maestro.





O segundo movimento, inspirado na pintura “Moema” (1866), retrata a personagem homônima do poema épico “Caramuru” (1781), de Santa Rita Durão. A índia se atira no mar após ser rejeitada pelo português e, no melancólico quadro de Meirelles, emerge na praia em meio ao subir e descer das ondas.

O terceiro movimento adapta o quadro “Batalha dos Guararapes” (1875-1879), uma cena do primeiro confronto que culminou na expulsão dos invasores holandeses da Capitania de Pernambuco no Brasil colonial.

“O Cláudio retrata cada quadro de acordo com sua visão. Se você olhar cada obra, você percebe que ‘Humaitá’ é mais escuro, enquanto ‘Guararapes’ é mais claro, e ‘Moema’ tem um personagem central bem definido. Ele tenta fazer com que isso aconteça na música”, explica Sílvio Viegas.

A segunda composição que compõe o concerto é “Quadros de uma exposição”, do compositor russo Modest Mussorgsky. O músico se inspirou em uma série de visitas a uma exposição, de seu amigo Viktor Hartmann – que havia falecido no ano anterior – em 1874, em uma galeria de São Petersburgo. O compositor escolheu 10 quadros entre os expostos e compôs uma música para cada um deles.






Paralelos

“A música começa com um tema que é chamado de ‘Promenade’,  caminhada em francês. Enquanto ele caminha entre um quadro e outro, o tema, apesar de ser sempre o mesmo, muda em alguns aspectos. Às vezes, é mais rápido, depois mais lento, com mais ou menos energia, e isso vem das sensações que os quadros geraram nele”, revela o maestro.

Outro ponto pelo regente é o paralelo entre a obra histórica de Mussorgsky e os tempos atuais: “A grande porta de Kiev” é o nome do último episódio do concerto. “Nada melhor do que a gente falar também sobre um pouco de paz. Mostrar que o russo pode valorizar a Ucrânia sem o menor problema. A guerra, na arte, é poesia e não é feita de sangue e morte. Queremos fazer uma alusão a essa terrível guerra que ainda está acontecendo na Ucrânia e transmitir uma mensagem de paz ao público”, completa Sílvio Viegas.


“MÚSICA SOBRE TELA”
Série “Sinfônica ao meio-dia”, nesta terça-feira (12/7), às 12h, com entrada gratuita. “Sinfônica em concerto”, nesta quarta-feira (13/7), às 20h30. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Os dois concertos serão apresentados no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537 – Centro). Informações: (31) 3236-7400

* Estagiário sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro