Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Festival internacional Dança em Trânsito dá a partida na edição 2022 em BH


A 20ª edição do festival internacional Dança em Trânsito começa nesta quinta-feira (14/7), em Belo Horizonte. O evento itinerante dedicado à dança contemporânea, que neste ano percorrerá 31 cidades no Brasil e passará por Paris, na França, promove 13 apresentações na capital mineira, até o próximo sábado (16/7), na Praça da Liberdade, no Memorial Minas Gerais Vale e no Palácio das Artes.





Na programação estão companhias e artistas do Brasil, França e Itália. Após BH, o festival segue em Minas Gerais e passará por Ipatinga e Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. Completam o primeiro circuito do evento cidades do Espírito Santo, como a capital, Vitória, e Baixo Guandu. Ao todo, serão oito circuitos, até 24 de outubro.

A abertura ocorrerá na Praça da Liberdade, às 17h, com a performance "Couraça". Criada, dirigida e interpretada pelo artista maranhense Leônidas Portella, a apresentação foi desenvolvida durante a quarentena como reflexo da não realização da tradicional festa do bumba meu boi,que ganha as ruas de São Luís e de outras cidades do Maranhão nos meses de junho e julho.

"Trata-se de um trabalho que mescla cidade, corpo e cultura popular. Eu me inspirei no bumba meu boi que, além de ser uma festa, é um ritual que apresenta o nascimento, as brincadeiras e morte do boi-bumbá. Em 2020, quando a pandemia estava no auge, São Luís estava inóspita, em pleno São João. Então resgatei esse trabalho, que já tinha sido feito em outro contexto, para colocá-lo nas ruas vazias", explica Leônidas.





Máscara

Na performance, ele incorpora o boi não só na expressão corporal como também na caracterização. O artista pinta o corpo com a cor preta, sua pele é adornada por pedrarias e ele exibe um par de chifres na cabeça. Devido à pandemia, o boi de Leônidas ganhou um elemento adicional: uma máscara de proteção contra a COVID-19 que também possui ornamentos bordados.

"O boi original é formado por um elemento animado e o miolo, que é o brincante que fica embaixo da fantasia. 'Couraça' seria a fusão do miolo com o próprio boi. Então eu venho com a pele adornada e com os chifres representando um homem-boi", comenta o artista.

Ele se apresenta acompanhado por percussionistas do bumba-meu-boi de Pindoba. Segundo Leônidas Portella, o espetáculo, que é um desdobramento da dissertação do mestrado em artes cênicas defendida na Universidade Federal do Maranhão, em 2021, aborda o retorno à vida após a pandemia e o fim do distanciamento e do isolamento.





"O bumba-meu-boi tem uma questão muito forte com a morte. E todos os anos ele volta e renasce. Isso foi uma coisa que nós aprendemos com a pandemia. Fomos obrigados a aprender a lidar com a morte e a renascer diante do caos que se instalou", afirma.

Essa é a primeira vez que o artista participa do festival internacional e, para ele, é simbólico que isso aconteça com uma performance tão associada à cultura de sua terra natal. E espera que ela seja melhor aceita, já que causou reações controversas quando foi realizada em São Luís.

"Eu fui bastante criticado e foi dito que eu estava desrespeitando uma figura mítica. Também ouvi críticas de cunho religioso, de estar incorporando uma 'figura diabólica'. Mas esse trabalho tem sido bem aceito e agora tem um novo significado, com o bumba-meu-boi de volta nas ruas. Eu me orgulho muito de poder mostrá-lo para outros públicos", ele afirma.





Atrações 

Além de "Couraça", a noite de estreia do Dança em Trânsito  em BH nesta quinta (14/7) contará com outras quatro apresentações. No auditório do Memorial Minas Gerais Vale, a partir das 18h, a carioca Focus Cia de Dança apresenta o duo "Grand pas", recorte do espetáculo "Vinte", inspirado no universo literário de Clarice Lispector.

Em seguida, às 18h30, a coreógrafa e bailarina mineira Rosa Antuña apresenta o solo "O vestido", objeto de busca de uma 'mulher selvagem' que tenta encontrá-lo e ocupá-lo em um processo de descoberta e autoconhecimento.

A noite continua no Palácio das Artes. Às 21h, no Grande Teatro, a companhia franco-brasileira Grupo Tápias apresenta o solo "Casa de abelha", que aborda o universo feminino de almas condenadas ao esquecimento. Logo após, a  companhia Márcia Milhazes Dança Contemporânea apresenta a coreografia "Paz e amor", desenvolvida em ambiente on-line durante a pandemia e que traça um paralelo entre o vírus e o amor.





Até sábado (16/7), passarão pelo evento a companhia carioca Grupo Favela; a dupla italiana Ginevra Panzetti e Enrico Ticconi; o mineiro Fábio Costa;e a companhia francesa Cie Felinae.

Após o encerramento do primeiro circuito, em 23 de julho, o Dança em Trânsito segue sua trajetória por outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Pará, Distrito Federal, Maranhão e Amazonas.

De 12 a 18 de setembro, o evento desembarca pela primeira vez em Paris, com apresentações e workshops de artistas e companhias brasileiras, como Márcia Milhazes, Renato Vieira, Gleidson Vigne, Cia Gente e Cia do Pantanal.

DANÇA EM TRÂNSITO EM BH
Desta quinta (14/7) a sábado (16/7). Apresentações na Praça da Liberdade, no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640, Savassi) e no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). As apresentações na Praça da Liberdade e no Memorial Minas Gerais Vale são gratuitas. Já os espetáculos no Palácio das Artes têm ingressos à venda por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) pelo site Eventim. Mais informações e programação completa no site do festival