A cena da música instrumental e do jazz em Belo Horizonte, desde sempre merecedora de destaque em âmbito nacional e a cada ano mais pulsante, ganha, a partir desta segunda-feira (18/7), um ponto de referência.
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A proposta, segundo Golgher, é apresentar ao público uma ampla paleta de artistas, músicos, eventos, lançamentos e gravações. O foco principal é oferecer a quem toca e a quem assiste uma infraestrutura adequada para apresentações ao vivo mais intimistas.
Tomando o jazz e a música instrumental como núcleos curatoriais, a programação também se aventura para além desses gêneros, acolhendo o blues, o folk e a nova MPB, entre outros.
Tomando o jazz e a música instrumental como núcleos curatoriais, a programação também se aventura para além desses gêneros, acolhendo o blues, o folk e a nova MPB, entre outros.
Proprietário do Café com Letras, que desde 1996 abriga e promove ações em torno da música instrumental e do jazz, Golgher diz que foram muitas as razões que o levaram a investir na criação do Clube de Jazz.
“Em primeiro lugar, eu queria um lugar onde a música fosse a protagonista”, diz, observando que, a despeito de receber regularmente apresentações do gênero, o Café com Letras é, antes de mais nada, uma cafeteria e livraria; não foi pensado como uma casa de shows.
“Em primeiro lugar, eu queria um lugar onde a música fosse a protagonista”, diz, observando que, a despeito de receber regularmente apresentações do gênero, o Café com Letras é, antes de mais nada, uma cafeteria e livraria; não foi pensado como uma casa de shows.
Lugar intimista
Sempre senti falta de um lugar intimista, porque acho que o jazz ganha com isso, a proximidade entre público e artista, num espaço onde as pessoas possam estar à vontade, sem a formalidade do teatro, mas com condições técnicas para que o músico possa ter uma boa performance”, diz, acrescentando que o Clube de Jazz nasce, também, pela percepção de que faltava na cidade um lugar com essas características.
O local tem capacidade de público total para 100 pessoas: 60 em sua área interna e 40 pessoas em sua área externa, com um ambiente que permita ao público acompanhar os shows e socializar, ao mesmo tempo.
O fato de ser contíguo à Praça Silva Guimarães, na esquina da Rua Antônio de Albuquerque com a Avenida do Contorno, recentemente reformada, abre possibilidade para futuros eventos diurnos ao ar livre.
O cardápio do Clube de Jazz é assinado pelo chef Renato Quintino, focado em petiscos para compartilhar, com opções veganas e vegetarianas. A bartender Jocássia Coelho responde pela carta de coquetéis, criada exclusivamente para o Clube, com ênfase em uísques e bourbons.
Gosto pelo jazz
Golgher diz que acalenta a ideia de ter esse espaço há 15 anos, movido, antes de mais nada, pelo gosto que nutre pelo jazz e pela música instrumental. Ele diz que a experiência de, em 2013, levar para Nova York o Savassi Festival – que é realizado em Belo Horizonte desde 2003 – alimentou ainda mais a vontade de criar o Clube.
“Em Nova York, os shows do Savassi Festival aconteceram principalmente em casas com esse perfil, com um palco bom e informal. Nos clubes de lá, você tem pouquíssima amplificação, ninguém passa som, é tudo, de certa maneira, muito simples”, destaca.
Ele situa que as obras no imóvel que pertence à sua família começaram em setembro do ano passado e que o espaço abre hoje para o público com plena capacidade de acolhimento, mas ainda pode ser otimizado. “Acredito que ainda tem coisas para fazer, então vamos seguindo, propondo mudanças e novidades.”
A curadoria artística da casa se fundamenta no que Golgher chama de “editoria” – a ideia de que cada dia da semana, de segunda a sábado, tenha um recorte específico. Em todas as segundas-feiras, por exemplo, a atração é a banda da casa. Batizada simplesmente como Big do Clube, ela reúne 13 músicos expoentes da cena de Belo Horizonte, aglutinados pelo guitarrista, compositor e arranjador Felipe Vilas Boas.
Encontros fixos
Esta é, segundo Golgher, uma das marcas dos grandes clubes de jazz espalhados pelo mundo: o fato de terem um grupo de instrumentistas “residentes”, que têm uma agenda de encontros fixos com o público.
Ele pontua que as terças-feiras serão dedicadas aos novos talentos e às iniciativas educacionais; e as quartas-feiras são reservadas aos artistas sêniores, já estabelecidos. “A editoria da quinta-feira eu estou chamando de Outra Música, que é quando a gente sai do instrumental e do jazz e passa pela nova MPB, pelo folk, pelo blues e outros gêneros. Na sexta e no sábado serão shows em geral, eventualmente com cantores”, aponta.
A programação inicial já está definida, com atrações fechadas até o próximo dia 30, e, segundo Golgher, já estão marcados, para mais adiante, shows de Júlia Ribas, Carol Serdeira e Júlia Branco. Ele ressalva que a editoria não deve ser encarada como uma camisa de força e que, ocasionalmente, ela pode ser burlada.
Já se verá esse desvio da regra na próxima semana, quando o grupo argentino Scalandrum, capitaneado pelo neto de Astor Piazzolla, o baterista Daniel “Pipi” Piazzolla, se apresenta na terça e na quarta-feira.
Pequenos festivais
“Teremos também essas oportunidades de trazer pra cá artistas que estejam fazendo turnê pelo Brasil”, diz Golgher, acrescentando que estão previstos, ainda, pequenos festivais. “Já estou programando três: um de mulheres que transitam pelo universo da música instrumental, um com foco nas big bands e outro de duos com piano. Podemos também fazer parcerias com outros festivais”, adianta.
Clube de Jazz
Ele próprio é o responsável pela curadoria, mas contando com colaborações diversas. “Aceito sugestões que podem vir de todos os lados. Alguém me indica uma banda, eu vou lá e escuto. Tem as pessoas que historicamente trabalham comigo, como Cliff Korman ou Chico Amaral, e que eu quero que estejam juntas nesse novo passo. Tenho meus associados na curadoria, porque o que uma pessoa só consegue saber é sempre limitado. É importante ter a opinião dos outros, praticar esse exercício de abertura e aprendizado”, afirma.
Para a formação da Big do Clube, por exemplo, ele contou com a estreita colaboração de Felipe Vilas Boas, que, aliás, também integrou o trio que acompanhou Evan Megaro na pré-abertura da última quinta-feira. “É um cara que conheço há muitos anos e com quem trabalho muito. Eu já o tinha chamado para compor para a big band na edição de 2019 do Savassi Festival”, conta.
Formação da banda
Segundo Bruno, depois de muitas conversas chegaram a uma formação com 13 músicos – alguns deles vencedores do Prêmio BDMG Instrumental. “Fomos conversando sobre o que seria possível fazer no Clube, pensando no espaço e no custo, e chegamos a essa formação. Acho que, em termos de arranjo e sonoridades, com 13 pessoas na banda dá para divertir enormemente”, diz, acrescentando que pretende convidar compositores locais para criarem temas para a Big do Clube e, futuramente, gravar um disco.
Vilas Boas lembra que o embrião da Big do Clube remonta a 2018, quando foi convidado por Golgher para estar à frente de uma formação maior. Ele diz que achou curioso porque, a despeito de sempre ter ouvido grupos como os de Count Basie e Duke Ellington, sua experiência pessoal não passava por esse lugar.
“Naquela ocasião, apresentei um repertório autoral de oito temas que arranjei para a MG Big Band, que tocou comigo no Savassi Festival. O engraçado é que esse nunca foi o meu foco, não sei de onde o Bruno tirou essa ideia, mas aproveitei a oportunidade para entrar mais nesse universo do jazz orquestral. Sou arranjador, faço produção musical para outros artistas, então veio muito a calhar”, comenta.
Repertório da Big
Ele adianta que a Big do Clube vai executar temas de sua autoria e também de outros dois integrantes – o trompetista Wagner Souza e o saxofonista Jackson Ganga –, além de clássicos do jazz e do samba-jazz. “Tem coisas de Horace Silver, Miles Davis, Coltrane e por aí vai. Estamos com um repertório de 30 a 40 músicas e a ideia é ir mesclando e alternando isso a cada segunda-feira”, diz.
O músico acredita que o Clube de Jazz é uma iniciativa que pode fortalecer ainda mais uma cena que vem crescendo e amadurecendo ao longo dos anos. Ele destaca a qualidade do som e a estrutura do espaço e diz que o sentimento seu e dos colegas de cena é de muita empolgação.
“Finalmente, temos um jazz club em Belo Horizonte. Estou muito feliz e acho que todo mundo que trabalha nesse meio também. A gente tinha essa carência, que agora foi suprida. É uma iniciativa que se soma a outras, como o prêmio BDMG Instrumental. São instituições que fortalecem nosso trabalho e garantem esse lugar de destaque que o jazz e a música instrumental praticados na cidade têm”, ressalta.
“Finalmente, temos um jazz club em Belo Horizonte. Estou muito feliz e acho que todo mundo que trabalha nesse meio também. A gente tinha essa carência, que agora foi suprida. É uma iniciativa que se soma a outras, como o prêmio BDMG Instrumental. São instituições que fortalecem nosso trabalho e garantem esse lugar de destaque que o jazz e a música instrumental praticados na cidade têm”, ressalta.
CARDÁPIO MUSICAL
Confira as atrações agendadas para os próximos dias
»Segunda-feira (18/7)
Big do Clube
»Terça-feira (19/7)
Lucas de Mello Quarteto + Jasmine Godoy
»Quarta-feira (20/7)
Juarez Moreira
»Quinta-feira (21/7)
Moons
»Sexta-feira (22/7)
Rafael Martini, com o lançamento do álbum “Vórtice”
»Sábado (23/7)
Cliff Korman Trio
»Segunda-feira (25/7)
Big do Clube
»Terça-feira (26/7)
Scalandrum (Argentina)
»Quarta-feira (27/7)
Sacalandrum (Argentina)
»Sábado (30/7)
Thiago Delegado
CLUBE DE JAZZ DO CAFÉ COM LETRAS
Na Rua Antônio de Albuquerque, 47, Savassi), aberto a partir das 17h30. Shows entre as 19h e as 22h. Ingressos a partir de R$ 20, de acordo com a programação do dia