"Delta estácio blues", o segundo disco solo de Juçara Marçal, lançado em setembro de 2021, alçou a cantora fluminense a um novo patamar de uma carreira já consolidada, iniciada na década de 1990.
A artista sentiu que estava saindo um pouco da bolha da música alternativa quando venceu duas categorias do Prêmio Multishow 2021, a de álbum e canção do ano. O trabalho também foi laureado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Apesar disso, Juçara considera que a maior recompensa pelo sucesso do disco está mesmo na estrada, na possibilidade de fazer shows.
"É um disco que está caminhando muito bem. Estamos nos apresentando no Brasil e temos planos de fazer shows no outono europeu. Está sendo uma caminhada muito proveitosa. Em cada show, as músicas crescem e a gente vai entendendo esse trabalho, ajeitando. O show seguinte é sempre mais fluido e só tende a crescer. As coisas ficam mais azeitadas à medida em que nós vamos nos apresentando", ela afirma.
Nesta sexta-feira (22/7), Juçara Marçal se apresenta em Belo Horizonte, n'A Autêntica. O show faz parte da edição 2022 do festival Sonâncias, que começa nesta quinta (21/7), com uma roda de conversa sobre processos curatoriais e shows do rapper BK' e do grupo mineiro ruadois.
O evento, que ocupará espaços da cidade como o Mercado Novo e o Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal, também contará com shows das cantoras Maria Beraldo, Saskia, Jadsa e Luiza Brina, além do músico Jay Horsth, vocalista da banda Young Lights.
Parceria
No palco d'A Autêntica, Juçara apresenta as músicas do álbum "Delta estácio blues" e do EP "EPDEB", lançado em junho passado, com quatro faixas inéditas que 'sobraram' das sessões de gravação do disco lançado em 2021. Na mesma noite, também ocorre o show do músico Kiko Dinucci, parceiro da artista, com quem integra o trio Metá Metá, apresentando as músicas do álbum "Rastilho" (2020).
"É uma dobradinha que eu faço com o Kiko. Eu participo do show dele como uma das pastoras do 'Rastilho', e ele é um dos músicos do meu show. No caso do trabalho dele, tudo é norteado pelo violão e pelas vozes, enquanto no meu tem as guitarras e os samples", ela conta. Além de serem parceiros de banda, os dois também produziram juntos o álbum "Padê" (2008), estreia fonográfica de Juçara.
Eles, ao lado de Thiago França, como Metá Metá, são os autores da trilha sonora do espetáculo "Gira", do Grupo Corpo, que estreou em 2017. Segundo Juçara, foi nessa época que ela começou a pensar em como seria seu segundo álbum solo, o sucessor de "Encarnado" (2014).
Batidas
"Nessa época, o Kiko já estava com muita vontade de mexer em elementos eletrônicos. Na hora de pensar em outro disco, nós ficamos muito a fim de explorar essa possibilidade. Pensar a música a partir das batidas, o que poderia gerar um outro tipo de canção. Cada pessoa que chamávamos para colaborar ficava mais animada com aquele jeito de pensar", ela conta.
O trabalho estava encaminhado quando a pandemia começou, mas foi impactado porque a dupla ainda precisava entrar em estúdio. Com isso, eles ganharam tempo hábil para se inscrever e serem aprovados no edital da Natura Musical. "Com o apoio, tudo se tornou mais ágil. Do ponto de vista artístico, se não tivesse a Natura, acho que o disco não mudaria muito, mas certamente demoraria mais para ser feito."
A artista refuta a ideia de que se trata de um álbum experimental. Para ela, "Delta estácio blues" é um disco pop, ainda que ela não se preocupe com esse tipo de rótulo. "Ele foi construído de uma maneira diferente, mas eu não estou preocupada em fechar o repertório em um único gênero. É um trabalho que tem trap, samba, rock. São vários elementos que ajudaram a formatá-lo", afirma.
Quando recebeu os prêmios do Multishow, Juçara Marçal estava em turnê pela Europa e não pôde comparecer à cerimônia, mas enviou um vídeo de agradecimento que virou assunto nas redes sociais. Durante seu discurso, a cantora fez o "L" com os dedos, em alusão ao ex-presidente Lula.
Clareza
Questionada sobre as manifestações durante seus shows, ela afirma que as acha "maravilhosas". "Estamos num momento em que precisamos ter muita clareza do que queremos para o nosso futuro. E eu acho que quando um artista se manifesta ou endossa as manifestações, isso ajuda quem ainda está na dúvida a tomar uma decisão", ela comenta.
Insatisfeita com o governo atual, ela brinca que tem "vontade de dar madeirada", fazendo referência aos versos da música "Crash", presente em "Delta estácio blues". E afirma que o disco aborda questões políticas, mas de forma sutil.
"Acho que sempre tem alguma relação [com política] nas coisas que eu faço. Isso está presente no disco. Mas nunca me pareceu interessante tratar dessas questões de maneira literal. Gosto de criar climas e fazer com que isso dê a letra. E é aí que uma música atravessa os tempos e se torna atemporal", afirma.
SONÂNCIAS 2022
Desta quinta (21/7) a sábado (23/7), n’A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia), no Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal, Centro) e na Casa Póça (Mercado Novo, docas no térreo, Centro). O festival conta com atividades gratuitas e outras com ingressos a partir de R$ 20 à venda no site sonancias.quente.org.br . Show de Juçara Marçal e Kiko Dinucci, na sexta (22/7), às 22h, n'A Autêntica, com ingressos a partir de R$ 40.