Protagonizada por Vera Fischer, a peça "Quando eu for mãe quero amar desse jeito", que estreou em fevereiro passado no Rio de Janeiro, chega a Belo Horizonte neste final de semana, com sessões nesta sexta (22/7), sábado (23/7) e domingo (24/7), no Grande Teatro do Sesc Palladium.
Com direção de Tadeu Aguiar e texto inédito de Eduardo Bakr, o espetáculo gira em torno de Dulce Carmona, uma mãe (Vera Fischer) obcecada pelo filho, interpretado por Mouhamed Harfouch, e que entra em pé de guerra com a noiva dele, vivida pela atriz Larissa Maciel.
"É uma comédia sarcástica e venenosa. Os personagens são ruins em certas horas. O que as pessoas vão assistir são os três se degladiando quase que de forma doentia. E tudo culmina em um final totalmente surpreendente", conta Vera Fischer.
De volta aos palcos após quatro anos afastada do teatro - dois deles devido à pandemia da COVID-19 -, ela experimenta um tipo inédito de personagem em sua carreira. Vera considera Dulce Carmona uma vilã, ainda que com bastante humor. No entanto, segundo a atriz, a personagem tem motivos para as maldades que faz.
"Ela se comporta como uma vilã, e a nora também. O filho é o único bobo da corte entre elas, porque ele não quer se ver sem nenhuma delas", diz. "Para fazer esse espetáculo, eu construí uma personagem muito sem pudor e sem vergonha. Ela faz o que faz de forma natural. E age com muita persuasão, soando até um pouco bruta."
Na preparação para o papel, Vera cuidou também de ter um preparo físico especial, como a ida a sessões de fisioterapia. "Estou com 70 anos, vou fazer 71 em novembro, e meu corpo não é mais de menininha. Durante todo o espetáculo, eu subo e desço uma escada de salto alto.Temos trocas de figurino que precisam ser muito rápidas. Então eu tenho que recorrer à fisioterapia para não desmaiar em cena, porque dói o joelho e dói o quadril."
Adiamento
O convite para integrar o elenco do espetáculo é anterior à pandemia e Vera Fischer o aceitou depois de ler o texto de Eduardo Bakr. A estreia da peça estava marcada para o início de 2020, mas foi adiada em razão do avanço da crise sanitária. A produção ficou quase dois anos paralisada, até que foi retomada no final do segundo semestre de 2021 para estrear no início deste ano.
Apesar disso, Vera Fischer teve uma quarentena agitada. De casa, ela descobriu e foi descoberta pelas redes sociais e passou a se comunicar com os fãs por meio do Twitter e do Instagram, dando dicas de livros, séries e filmes. Até então, ela não tinha celular, mas, com A ajuda de seu filho, Gabriel Camargo, de 29 anos, fruto da relação com o ator Felipe Camargo, ela aderiu ao aparato tecnológico.
"Eu não tinha a menor noção de como usava, ainda mais as redes sociais. O Gabriel me convenceu a comprar um para que a gente pudesse se comunicar durante a pandemia. Quando eu comecei a usar, não tinha ideia de como tirar uma selfie. Agora já sei. Sei procurar uma luz boa e fazer a pose certa", ela explica.
Atualmente, Vera diminuiu a frequência com que publica dicas para seus seguidores por causa da rotina do espetáculo. No entanto, ela se surpreende com a fidelidade e o perfil dos fãs que conquistou nessa nova mídia.
Vera Theater
"Desde que eu comecei a usar surgiram tantos fã clubes e eles são muito queridos. Neles, tem gente de mais idade, mas a grande maioria é de adolescentes. Então eu percebo que minha linguagem também conversa com eles, ainda mais porque o que eu mais faço é publicar os meus textos", ela comenta.
Além da presença nas redes sociais, Vera Fischer experimentou novos formatos de trabalho durante o tempo em que, assim como no resto do mundo, esteve obrigada a ficar em casa. Um dos projetos que ela tocou foi o Vera Theatre, em que realizava leituras de textos teatrais por meio de lives no Instagram.
Ela também estrelou a websérie "Reflexos", de Cleo (ex-Pires), na qual deu vida a uma mulher bem-sucedida que, durante o isolamento social, passa a não enxergar mais seu próprio reflexo. Participaram da produção Marília Gabriela, Elisa Lucinda e Viih Tube, além da própria Cleo.
Vera agora se prepara para estrear na Netflix em uma comédia natalina que deve ser lançada neste 2022, com um elenco que ainda conta com a influenciadora digital Gkay e o ator Sérgio Malheiros.
Globo
Esses projetos surgiram depois que Vera Fischer foi demitida da TV Globo, ainda no início de 2020, após 43 anos na emissora. Por lá, ela atuou em novelas como "Mandala" (1987), "Perigosas peruas" (1992), "Laços de família" (2000) e "O clone", e nas minisséries "Riacho doce" (1990) e "Desejo".
"Eu fui uma das primeiras a ser mandada embora, logo quando acabou o meu contrato e não quiseram renovar. Após sair, senti uma insegurança financeira muito grande. Precisei vender um sítio muito caro que eu tinha. Mas depois senti uma liberdade muito grande. Eu estava acomodada", ela avalia.
Vera afirma que, por ser contratada da emissora, não podia recusar os trabalhos que lhe eram oferecidos dentro do canal, o que a levou a aceitar papéis que "não eram necessariamente bons". "Isso me deixou, nos últimos anos, muito mal", ela afirma.
"Tenho uma cabeça boa e quero continuar trabalhando. Tenho livros para lançar que só precisam ser editados. Também tenho convites para gravar filmes. E tenho os meus quadros, que vou expor no futuro”, ela conta.
“As pessoas agora me veem livre da Globo e sentem que podem me chamar para os trabalhos, então têm surgido convites para muitos trabalhos. Sempre fui uma mulher livre e não tinha percebido que, nos últimos anos, estava presa. Não tinha o livre arbítrio de escolher e fazer coisas que talvez a Globo não aceitasse", ela diz.
Brasília
Uma dessas coisas, segundo a própria atriz, é a atuação política. Junto com outros artistas como Johnny Massaro e Letícia Spiller, Vera Fischer esteve na Câmara dos Deputados, em Brasília, no início deste mês de julho, para defender a derrubada dos vetos de Jair Bolsonaro à Lei Paulo Gustavo e à Lei Aldir Blanc 2, ambas de incentivo à cultura.
"Saímos de lá vencedores porque ganhamos as duas leis. Isso, para mim que não sou uma pessoa que fala muito abertamente sobre política, foi uma surpresa. Quando estive lá, fiz o meu discurso, me emocionei e fui aplaudida. E senti que podemos ter uma atuação nesse sentido e tentar, no futuro, obter novas conquistas", ela avalia.
Segundo Vera, o governo atual "não quer arte no país de jeito nenhum porque a arte faz pensar e refletir". "A cultura e a arte ajudam as pessoas. Imprimem nelas humanidade e busca por ideais. E quem está lá no poder, que eu nem quero citar o nome, faz de tudo para evitar isso ao máximo."
Engajada quando o assunto é defender a cultura, Vera Fischer prefere não revelar qual candidato terá seu voto nas eleições presidenciais deste ano. Apesar disso, ela é categórica ao afirmar: "tudo, menos o que está no poder atualmente".
"QUANDO EU FOR MÃE QUERO AMAR DESSE JEITO"
Nesta sexta (22/7) e sábado (23/7), às 21h, e domingo (24/7), às 19h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Plateia 1: R$ 110 e R$ 55 (meia). Plateias 2 e 3: R$ 75 e R$ 37,50 (meia). À venda na bilheteria do teatro e no site Sympla.