Na chamada fase do “JB”, que durou 15 anos (1969 a 1984), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) publicou cerca de 2,3 mil crônicas no jornal carioca – sempre às terças, quintas e sábados. Um recorte deste material, 299 textos dos períodos inicial e final, foram analisados por Luiza de Andrade Penido.
O trabalho, resultante de sua dissertação de mestrado, foi adaptado para o livro “Direitos humanos nas entrelinhas das crônicas de Carlos Drummond de Andrade”, que será lançado neste sábado (23/7), às 11h30, na Leitura do BH Shopping.
Jornalista mineira formada na UFMG e radicada em Brasília, onde há 12 anos é servidora pública no Ministério dos Direitos Humanos, Luiza procurava um tema para seu mestrado (defendido em 2020 na UnB) que “fizesse sentido na minha vida”. “Como não sou da área acadêmica, queria trabalhar em algo que me tocasse.”
Leitora de Drummond desde sempre, percebeu que as ideias dos direitos humanos em suas crônicas eram muito presentes – e um tema inédito no circuito acadêmico. “Toda a obra do ‘Jornal do Brasil ‘ está na Fundação Casa de Rui Barbosa (no Rio de Janeiro) e, quando consegui consultar, uma atrás da outra, as crônicas tinham o enfoque dos direitos humanos, às vezes de maneira explícita, outras de forma sutil.”
Para o trabalho, ela decidiu fazer um recorte que mostrasse dois tempos do Brasil. Analisou dois anos: a fase inicial, de outubro de 1969 a outubro de 1970, no período mais duro da ditadura militar (1964-1985), no governo Médici, e a final, entre setembro de 1983 e setembro de 1984, na chamada abertura, na gestão Figueiredo.
Censor
“Na primeira fase, o direito à liberdade é a grande questão. Em ‘Carta ao censor”, de 1970, ele se dirige, por meio da ironia, a um censor. Já no segundo período, em que a abertura democrática é o grande tema, os direitos à participação social ficam mais latentes. Nos anos 1980, os direitos econômicos e sociais aparecem de forma mais dramática, por causa da recessão. E também no período ele abriu o leque, falando dos direitos dos indígenas, por exemplo”, diz Luiza.
Ela afirma que há traços de ativismo na escrita drummondiana quando ele escreve sobre cultura e patrimônio, temas que lhe eram muito caros (como servidor público, Drummond atuou por muitos anos no Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual Iphan).
A autora comenta sobre a atualidade de textos escritos há mais de 40 anos. “O período dos anos 1980, com a volta da fome, da imensa massa de desempregados, do aumento de pessoas em situação de rua, do desalento sobre o país, dialoga muito com o momento vivido hoje.”
Luiza começou sua pesquisa em 2017. “A temática dos direitos humanos, falando sobre a participação social, em comparação com o autoritarismo que o Brasil tinha vivido no passado, foi se tornando atualidade. As coisas foram ficando muito presentes. E a teoria dos direitos humanos fala sobre isto: em momentos achamos que é algo já conquistado, mas a história mostra que tudo pode retroceder. Então temos que estar sempre vigilantes.”
Para a autora, a temática, que vai se desdobrando em diferentes vieses nas crônicas de Drummond, “nos ensina como jornalismo e literatura podem se manter atuantes, mesmo em momentos de fundamentalismo e autoritarismo. Ele mostra que pela escrita podemos ter uma consciência mais democrática e humanista”.
“DIREITOS HUMANOS NAS ENTRELINHAS DAS CRÔNICAS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE”
• Luiza de Andrade Penido
• Editora Blucher (202 págs.)
• R$ 65 (livro) e R$ 45,99 (e-book)
• Lançamento neste sábado (23/7), às 11h30, na Leitura do BH Shopping