Um ano depois de se apresentar em Belo Horizonte, está de volta à capital a montagem "A hora da estrela ou O canto de Macabéa", adaptação teatral da última obra de Clarice Lispector, protagonizada por Laila Garin e Leonardo Miggiorin, com trilha sonora de Chico César. A adaptação é uma homenagem aos 100 anos da escritora, comemorados em 2020, interrompida pela pandemia. As novas sessões acontecem neste sábado (23/7), às 21h, e domingo (24/7), às19h, no Teatro Sesiminas.
Para Miggiorin, "calçar os sapatos" de Cláudio Gabriel é desafio e honra. "O Claudinho é um grande ator. Em cena, como Olímpico, ele estava com o pé no chão, uma presença que tem que ser homenageada. Num primeiro momento, tive uma preocupação muito grande em cumprir um papel que já estava estabelecido e que eu não participei tanto da criação desse personagem, mas é inevitável, porque o ator é o seu próprio material de trabalho. Quando entro em cena, a minha vida entra junto, a minha história entra junto e automaticamente é um novo Olímpico, é um outro personagem", comenta o ator, que é mineiro e, após as apresentações em BH, segue para Barbacena, sua terra natal, para ser homenageado no Troféu Imprensa do município do Campo das Vertentes.
"(A peça) trata da precariedade humana, do ponto mais vulnerável do ser humano, da nossa capacidade de não enxergar o humano ao nosso lado. Nossa vida agitada, cada um cuidando de si e a gente deixa de enxergar as Macabéas que estão à nossa volta, por toda parte"
Leonardo Miggiorin, ator
Laila Garin, que também foi indicada, dá vida não apenas à protagonista, Macabéa, mas também à narradora existente no livro e que não aparece na adaptação cinematográfica de Suzana Amaral, de 1985, em uma experiência que, para ela, é algo que só o teatro consegue traduzir. Laila conta que o longa é um de seus preferidos, mas que ela evitou assisti-lo antes da composição da personagem para o teatro.
"Nunca assisti a nenhuma montagem teatral de 'A hora da estrela'. É um romance, é literatura e não é feito para fazer teatro. O filme eu vi muito, vi a minha vida inteira. É um clássico. Foi uma referência para mim. A composição de Marcélia Cartaxo foi referência para mim em vários trabalhos que fiz, que não eram Macabéa, mas que eu me inspirava e, desde que soube que ia fazê-la no teatro, parei de assistir, porque sou tão apaixonada por ela que achei que isso pudesse me paralisar, no sentido de não conseguir fazer a minha própria Macabéa", afirma a atriz.
Trilha de Chico César
Laila Garin também está presente na trilha sonora do espetáculo, composta por Chico César, para quem a atriz é uma potência. Para ele, compor um álbum de trilha sonora é mais desafiador que a produção de um disco autoral próprio. "É diferente, porque cada disco é diferente. Mas a principal diferença é que quando estou fazendo um disco meu, vou compondo as canções um pouco aleatoriamente. Sempre há mais canções de disco. Nesta pandemia, compus umas 150 canções. Fazer um trabalho de encomenda em que você lê o texto original, lê o texto adaptado, lê as marcações do diretor, é diferente. Isso vai ajudando a se criar uma obra," comenta o cantor.O cantor revela ainda que, mesmo para a trilha sonora, acabou compondo mais canções do que o necessário. "Neste caso, o excesso é bem-vindo." Assim como Laila, Chico César revela não ter assistido ao filme para se inspirar, mas que se inspirou na vivência comum do povo nordestino, compartilhada tanto com a atriz quanto com a personagem.
"São realidades que a gente conhece. O Olímpico é paraibano, a Macabéa é alagoana… Partir desta realidade de pessoas nordestinas que migraram, que vivem em grandes centros do Sudeste, são realidades que a gente conhece. Procurei trabalhar com uma música que dialogasse com essas duas realidades, o interior do Nordeste e a música urbana do Brasil."
Para ele, foi curioso trabalhar com os diversos títulos que o livro ganha ao longo da obra. A música que abre o álbum, "OU", faz referência a isso. "Isso, para mim, foi um desafio, o diretor nem queria que musicasse isso, mas quis fazer, porque é curioso o título de uma obra que são vários títulos. Acho que você partir de um texto que não é de teatro, que foi adaptado para o teatro e daí a ainda virar um musical, são produções que cada artista vai fazendo e que resulta numa outra obra. Ainda é Clarice Lispector, ainda é 'A hora da estrela', mas já é uma outra obra," reflete Chico César.
Opressão
Os três artistas destacam a atualidade do texto, em que as pessoas têm seus sonhos oprimidos e até seu direito de existir negado. “Trata da precariedade humana, do ponto mais vulnerável do ser humano, da nossa capacidade de não enxergar o humano ao nosso lado. Nossa vida agitada, cada um cuidando de si e a gente deixa de enxergar as Macabéas que estão à nossa volta, por toda parte. A gente deixa de compreender a nossa porção Macabéa. Somos todos precários", finaliza Miggiorin.“A HORA DA ESTRELA OU O CANTO DE MACABEA”
Da obra de Clarice Lispector. Com Claudia Ventura, Leonardo Miggiorin e Laila Garin. Direção: André Paes Leme. Música e direção musical: Chico César e Marcelo Caldi. Apresentações neste sábado (23/7), às 21h, e domingo (24/7), às 19h, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia). Ingressos a partir de R$ 50 (inteira) na bilheteria local ou pelo Sympla. Informações: (31) 3241-7181
* Estagiário sob a supervisão a subeditora Tetê Monteiro