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Estado de Minas MANGÁ

'One Piece' celebra 25 anos e história do mangá se aproxima do fim

Fenômeno mundial com 490 milhões de cópias vendidas, mangá incia a partir desta segunda a sua reta final. "Vai ser divertido", anunciou o autor Eiichiro Oda


25/07/2022 04:00 - atualizado 25/07/2022 08:43
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Quadrinhos de 'One Piece' são exibidos na Feira do Livro de Paris, em 2019
Quadrinhos de 'One Piece' são exibidos na Feira do Livro de Paris, em 2019. Série aborda temas como industrialização, racismo, escravidão e intrigas geopolíticas (foto: JOEL SAGET/AFP)

As aventuras de seu pirata do chapéu de palha conquistaram milhões de fãs em todo o mundo por um quarto de século: o mangá "One Piece" comemora seu 25º aniversário antes de iniciar a reta final de sua intriga sem fim. Após hiato de um mês, é hora de dar início ao arco final da obra a partir desta segunda-feira (25/7) na famosa revista semanal Shonen Jump, da editora Shueisha, onde os novos capítulos de "One Piece" são publicados no Japão.

"Vou começar a apresentar todos os segredos deste mundo que eu mantive escondido", alertou o autor Eiichiro Oda, em uma mensagem manuscrita postada no Twitter. "Vai ser divertido. Por favor, apertem o cinto de segurança."

 
Quadrinhos de 'One Piece' são exibidos na Feira do Livro de Paris, em 2019
Quadrinhos de 'One Piece' são exibidos na Feira do Livro de Paris, em 2019. Série aborda temas como industrialização, racismo, escravidão e intrigas geopolíticas (foto: JOEL SAGET/AFP)


Desde a publicação do volume 1 em 1997, a caça ao One Piece, tesouro cobiçado por todos os piratas e principalmente por Luffy, herói da série, já soma mais de 100 volumes e multiplica recordes de vendas.

Com 490 milhões de cópias vendidas, Eiichiro Oda, de 47 anos, entrou, inclusive, para o “Guinness” na categoria de "maior número de cópias de uma mesma história em quadrinhos publicada por um único autor".

Suficiente para fazer seu 25º aniversário, dos Estados Unidos à França, o segundo maior mercado de mangá e animação japonesa, um evento global com ares de consagração.

"'One Piece' é hoje não apenas um dos maiores mangás do mundo, mas uma das maiores obras em escala cultural, todos os setores combinados", estima Chedli Ben Hassine, criador de conteúdo especializado em cultura pop com 1,7 milhão seguidores no TikTok.
 
Mulher imita pose de Luffy, o pirata do chapéu de palha o mangá One Piece
Fã do mangá imita pose de Luffy, o pirata do chapéu de palha e personagem mais famoso de 'One Piece', durante exposição em Tóquio (foto: Yoshikazu TSUNO/AFP)
 

ADAPTAÇÃO NA NETFLIX 

Como explicar tal reconhecimento? "O que torna este mangá tão especial é acima de tudo o roteiro", diz Ryuji Kochi, presidente da Toei Animation para Europa, Oriente Médio e África, a empresa japonesa que produz a série animada desde 1999.

Industrialização, racismo, escravidão, intrigas geopolíticas... Além dos temas abordados e seus personagens cativantes, o imenso universo de "One Piece" é atravessado por referências culturais e geográficas (Egito antigo, Veneza, Japão medieval...) que lhe dão uma dimensão universal.

"Ao propor universos totalmente diferentes, o autor permite que o leitor nunca se aborreça com a narrativa. Tudo isso faz com que tenhamos uma epopeia que dura muito tempo, mas que não podemos dizer que gira em círculos", estima Benoît Huot, gerente editorial de mangá da editora Glénat, por ocasião do lançamento do 100º volume na França no ano passado.

Enquanto a trama ainda promete muitas reviravoltas, o que falta em "One Piece" para atingir um público ainda mais amplo além dos fãs de animação japonesa, como sagas como "Star Wars" ou "Harry Potter"?
"Embora a cultura japonesa seja hoje muito bem exportada, ainda está longe da influência das criações ocidentais, impulsionadas por um mercado muito grande, e por todo o 'soft power' que uma grande máquina como Hollywood coloca em nível industrial", explica Julien Pillot, economista especializado em indústrias culturais.

O lançamento na Netflix, plataforma de streaming com mais de 200 milhões de assinantes, de uma série adaptada do universo de "One Piece" deve ajudar, acreditam seus produtores. "A história nos mostrou que Hollywood teve todos os problemas do mundo para adaptar mangás. Todos nós temos em mente o desastre da adaptação de 'Dragon Ball', artística e comercialmente", lembra Pillot. "Se a Netflix puder fazer um produto de alta qualidade que capture o espírito único de 'One Piece', seria um ótimo começo", acrescentou o economista.

ALMA DE CRIANÇA 

Ele criou um dos mangás mais famosos do mundo, mas apesar de sua notoriedade e de um ritmo frenético de trabalho, Eiichiro Oda, o autor de "One Piece", gosta de cultivar um pouco de imprudência à imagem do herói de sua obra.

O artista se recusa a ser chamado de "sensei" (mestre), título geralmente ligado ao nome de mangakás, e tem fama de frequentar restaurantes e hotéis caros de bermuda e chinelo, a roupa do pirata Monkey D. Luffy, personagem principal de “One Piece”.

"Quero que as crianças que leem 'One Piece' pensem em mim como seu irmão", disse o autor em uma rara entrevista, em 2017, por ocasião do 20º aniversário da série. Mas "eu sei que tenho idade suficiente para ser tio delas... então talvez um tio engraçado e legal", acrescentou.

Um tratamento muito modesto para o homem, cuja obra –  que narra as aventuras de Luffy, que sonha em se tornar o rei dos piratas, e sua tripulação heterogênea – rendeu-lhe a entrada ao “Guinness”.

"COMO SE FOSSE LUFFY"

 Com quase 500 milhões de cópias em todo mundo, o arco final de “One Piece”, que até então conta com 102 volumes lançados nas livrarias do Japão, deve ser publicado a partir de hoje na revista japonesa Shonen Jump.

Travesso, destemido e mais esperto do que deixa transparecer, Luffy, o pirata do chapéu de palha em busca do lendário tesouro One Piece, encarna o público-alvo do mangá, de acordo com Oda: os adolescentes.

"Toda a semana me pergunto se aos 15 anos teria gostado" desse episódio, disse Oda, em 2009. "O objetivo não é fazer o leitor pensar", assegurou, apresentando claramente seus trabalhos como puro "entretenimento".

Luffy está mais interessado nas aventuras do que em assuntos do coração, pois Oda considera que isso não excitaria seus fãs. "Eu sei que há muitos leitores adultos por aí agora, mas se eu alinhar muito com seus gostos, sinto que 'One Piece' perderia seu valor", comentou.
O próprio mangaká mantém a alma de uma criança, transformando sua casa em um verdadeiro parque de diversões, com trenzinho e máquinas de pegar bichos de pelúcia, sem contar uma impressionante coleção de figurinhas e dioramas. "É como se ele fosse o próprio Luffy", disse um colaborador próximo de Oda em um programa de TV japonês.

Oda, por sua vez, diz que vê Luffy como sua "criança ideal". "Gostaria que as crianças fossem como ele. Às vezes, diz algo que inspira a todos, mas gostaria que fosse sempre uma criança", afirmou, em entrevista ao jornal Yomiuri. Luffy "mantém um certo mistério para mim", admitiu. "É muito bom assim. Se eu soubesse tudo sobre ele, os leitores ficariam entediados".

Natural de Kumamoto, no Sul do Japão, Oda entrou no mundo ultracompetitivo dos mangás aos 17 anos, quando seu primeiro trabalho "Wanted!" venceu um prêmio da revista Shonen Jump.
Sua carreira então experimentou ventos contrários e vários fracassos. Mas Oda tinha apenas 22 anos quando a publicação de “One Piece” começou, inspirado em parte por seu fascínio pelo desenho animado teuto-austríaco-japonês "Vic the Viking".

TRABALHO COMO HOBBY 

Naquela idade, "eu era muito apaixonado por mangás. Até perderia o enterro dos meus pais, se eles morressem quando eu tivesse" um manuscrito para entregar, revelou certa vez.

Workaholic, conhecido por dormir apenas algumas horas por noite, Oda confia pouco em seus assistentes e desenha quase todos os personagens e objetos sozinho. E, se ele relaxou com o tempo, sua paixão permaneceu intacta. "Para mim, desenhar mangá é um hobby", explicou em 2017. "Não me estressa, então tenho certeza de que nunca vou me matar no trabalho. (AFP)


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