O Brasil é apaixonado por novelas e, com a chegada das novas plataformas de mídia, este modo de contar histórias se adaptou para uma linguagem mais rápida, dinâmica e dramática. Em cerca de um minuto, o enredo se desenvolve e provoca emoções no espectador.
Há histórias que são de apenas um capítulo, mas existem novelas que se desenvolvem em vários vídeos e contam com um “resuminho” no início. Este modelo vem se popularizando por conta da plataforma social Kwai, que criou a campanha TeleKwai.
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Netflix lança "Agente oculto" com ambição de criar universo cinematográficoJovens, YouTube e TikTok 'ressuscitam' o pop oitentista japonêsNova geração: Artistas mineiros reinventam o humor no TikTokMúsica tema de Jade Picon em 'Travessia' vira meme nas redes sociaisO influenciador Diogo Tiba produz as novelas para a plataforma digital e tem mais de 1,9 milhões de seguidores e 27,7 milhões de curtidas nos vídeos. “É algo novo para o público. É bem no estilo novela mexicana, porém os brasileiros têm gostado muito e cada vez pedindo mais vídeos nesse formato, o que pode ser visto pela quantidade de visualizações e repercussão que estamos tendo”, contou em entrevista ao Estado de Minas.
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Para ele, o viral das novelas on-line vem de uma combinação de fatores, mas principalmente o enredo intrigante e o tamanho da produção. O espectador assiste aos primeiros minutos, fica cativado com o vídeo e curioso para saber o final. Por ser uma produção rápida, o internauta consegue chegar até o final e não precisa investir muito tempo.
Outro ponto é a conexão com o público, que é bem forte devido às redes sociais. Tibas conta que sempre responde aos fãs das novelas e até mesmo sugestões de enredos. “Também gera toda uma interação de comentários, curtidas. Quem assiste e gosta tem essa interação mais próxima, que também é um diferencial das plataformas digitais”.
O influenciador tem a proposta de contar situações ou histórias “bizarras”. Para Diogo, esses casos pitorescos criam uma conexão com o público que possivelmente já passou por algo parecido.
Ele lembra que é necessário um planejamento para impactar o público. “Não é somente pegar a câmera e sair gravando qualquer coisa, é necessário pensar e roteirizar, são várias etapas para chegar no famoso viral e criar um episódio”, explica.
O primeiro passo, assim como em todas as áreas artísticas, é ter criatividade para montar os roteiros e definir a direção. Apesar da produção final ser em um tempo curto, o processo de elaboração é longo. “A gravação e Confecção de um único episódio pode levar mais de 10 horas até que chegue ao final e eu consiga iniciar a edição onde é o último passo mas não menos importante”.
Plataformas piratas e repercussão
Mas, o impacto foge da bolha do Kwai e chega em outras plataformas, como Twitter, Instagram e a concorrente, Tiktok.
O perfil no Tiktok ‘VickFlix’, em referência à plataforma de Streaming Netflix, é um compilado de produções deste modelo de outros influenciadores digitais.
Mas este usuário é “pirata” e faz a reportagem dos conteúdos sem autorização dos criadores. Ao mesmo tempo que divulga, também tira as visualizações e, consequentemente, a monetização dos produtores originais.
No Tiktok, o perfil tem mais de 590 mil seguidores e 6,2 milhões de curtidas nas postagens. Mas, em outras redes sociais, os vídeos do VickFlix também viralizam.
Nessa segunda-feira (25/7), uma produção sobre um marido mentindo para a esposa. Os usuários comentaram as “camadas” e os plots twist envolventes da novela. A postagem conta com mais de 6 mil curtidas e 400 mil visualizações.
Novo modelo de consumo midiático
Com o avanço da tecnologia, o modelo de consumo de produções audiovisuais tornou-se mais rápido. Os jovens estão cada vez mais ansiosos e precisam de um dinamismo na tela para não perder a atenção.
Para Luciana Damasceno, CEO do Cardume, plataforma de streaming de curtas e médias produções independentes, essas novelas têm feito sucesso pela combinação da narrativa mais jovem e breve sendo incorporada nas plataformas populares, onde o público-alvo está presente.
A atriz compreende que existe uma tendência de audiovisual mais curto para atender ao aumento nas buscas da audiência e pela influência da internet.
“Entendemos que existe uma tendência mundial cada dia maior de consumo de conteúdos curtos. Nos últimos anos, grandes plataformas como a Netflix investiram na produção e aquisição de curtas internacionais. Acredito que tem a ver com a influência das redes sociais e seus formatos curtos de vídeo como stories e reels.”, disse Luciana Damasceno.
Diogo Tiba também compartilha desta opinião e vê que as novelas curtas são o futuro do entretenimento pela velocidade do mundo. “O pessoal não tem mais uma hora pra sentar em frente ao sofá e assistir uma novela, com grandes intervalos e vai precisar acompanhar durante meses para saber o grande final. E aí, eles preferem abrir o celular durante um pause do dia a dia e se divertir com 8 a 10 historinhas no dia, onde eles podem saber o final rapidamente”.
Para ele, é um formato inovador, mas que tem referências de filmes e novelas convencionais. “Posso dizer que é uma evolução do formato que está sendo construído e já vem sendo grande sucesso. Meu público a cada vídeo pede continuação do episódio anterior, pede alguma nova série, quem assiste realmente entra na história e vai a loucura assim como nós que estamos atuando na história”, pontua.
A produtora independente Luciana completa que acredita no potencial deste modelo compacto como maneira de consumo da sétima arte, mas precisa de uma movimentação para que sejam distribuídos de forma comercial e massiva. Apesar do estilo sempre ter existido, por conta do imediatismo nas redes sociais o estilo de vídeo tem se popularizado, e ganhando mercado comercial.
“Cada plataforma tem a sua estética e o público pode circular por todas de forma fluída. Por exemplo, a mesma pessoa pode curtir assistir uma websérie no Tiktok, uma super produção da Netflix é um curta teen na Cardume. Eu acredito que a identificação tem mais a ver com as narrativas criadas de forma apropriada para o público-alvo e uma estética conivente com o espaço de exibição”, conclui.