Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Priscila Fantin e Bruno Lopes são viúvos em busca de um novo amor em peça



“Precisamos falar de amor sem dizer eu te amo" é o nome da peça que os atores Priscila Fantin e Bruno Lopes apresentam nesta sexta (29/7) e sábado (30/7), às 21h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, no Minas Tênis Clube.  

No palco, eles interpretam Pilar e Bento, dois jovens viúvos que decidem procurar por novos parceiros em um aplicativo de paquera. O espetáculo, escrito pelo dramaturgo Wagner D'Ávila, orbita em torno dos dilemas e dúvidas com que a dupla se depara neste início de relacionamento e até mesmo a plateia participa da reflexão.





"Trata-se de uma comédia romântica", explica o dramaturgo. "A graça está nas situações que os personagens vivem. Eles são divertidos por natureza e contam suas histórias com verdade. Não é um espetáculo de piadas. E a beleza de tudo reside no fato de que os dois já passaram pelo luto e estão retomando suas vidas, então a comédia entra como um sopro de esperança."

O autor embarcou no projeto a convite dos atores. Priscila Fantin e Bruno Lopes estavam em busca de um texto que pudessem interpretar juntos, a convite do Centro Cultural Brasil Moçambique. Na época, em meados de 2018, o dramaturgo já tinha em mãos o argumento da peça e o apresentou para a dupla, que gostou da ideia de cara.

"Eu já conhecia o Bruno de outros trabalhos, então nós já tínhamos trocado artisticamente. Como eles estavam à procura de um texto que pudesse ser interpretado por um casal, resolvi apresentar este. Tinha muita vontade de falar de dois jovens que, após lidar com o luto, se conhecem nesse universo digital e exploram os dilemas e as questões que surgem diante disso", conta Wagner D'Ávila.





A peça estreou em Moçambique e todo o valor dos ingressos adquiridos pelo público foi revertido para o Instituto Hakumana, que cuida de crianças soropositivas. O dinheiro arrecadado proporcionou a compra de medicamentos e a construção de banheiros e salas de aula.

Turnê 

Após a temporada no país africano, Priscila Fantin e Bruno Lopes embarcaram de volta para o Brasil para rodar com o espetáculo pelo país. Em Belo Horizonte, a montagem foi apresentada pela primeira vez em 2019.

Wagner D'Ávila assina o texto da peça, mas a direção fica por conta de Priscila e Bruno. O dramaturgo conta que conseguiu acompanhar boa parte do desenvolvimento do espetáculo e elogia os atores-diretores.





"Eles são muito generosos. Tivemos uma troca muito grande ao longo de todo o processo de desenvolvimento do espetáculo para conseguir construir olhares e impressões sobre o texto e sobre a narrativa. Essa peça é algo que nós criamos juntos, da maneira mais afetiva possível. Os dois são extremamente criativos e acho que é isso que ajuda a tornar esse espetáculo o sucesso que ele é", afirma.

Além de parceiros no palco, Priscila Fantin e Bruno Lopes são um casal na 'vida real' e, segundo Wagner, isso contribui para que o espetáculo fosse ainda mais verossímil, embora cada um deles seja "bastante diferente de seus personagens".

"Eu tenho a sorte de escrever para pessoas que conheço pessoalmente. A maior parte dos textos que já escrevi foram encomendados. E eu sempre bato um papo com as pessoas para entender o universo delas, saber as facilidades e o que pode ou não funcionar em determinado arranjo dramatúrgico. Neste espetáculo não foi diferente", ele conta.





"A afinidade entre os dois, que eles compartilham com os personagens, é algo imprescindível para o espetáculo. E a intimidade entre eles também. Mas tudo é visto de forma muito natural por quem está assistindo, já que eles interpretam pessoas que não se conhecem a priori. E o espetáculo também tem a quebra da quarta parede, o que contribui para uma aproximação com o público", analisa.


Luto

Escrito e desenvolvido antes da pandemia, "Precisamos falar de amor sem dizer eu te amo" parte do luto para apresentar uma história de amor. Passada a pandemia da COVID-19, um período em que a morte foi encarada pelo mundo todo, Wagner D'Ávila acredita que o texto ecoa de forma diferente hoje.

"Eu fui assistir à reestreia em São Paulo, passado o isolamento. Como autor, vi como essa peça fala de uma valorização da vida e da troca entre as pessoas. Nós todos vivemos o luto de forma tão cruel e massante nos últimos anos que vê-lo sendo tratado com leveza parece muito importante", ele defende.





"Como esse sentimento se tornou algo tão universal, as pessoas estão cada vez mais dispostas a embarcar numa história que fale abertamente sobre isso. Ainda mais se a proposta é dar risada disso", acrescenta.

Questionado sobre o significado do título "Precisamos falar de amor sem dizer eu te amo", o autor conta que ele surgiu durante uma conversa com uma amiga que também passava por um processo de luto. O significado é uma espécie de renúncia ao amor romântico.

"Somos muito reféns do amor num viés romântico. O amor pode estar na simplicidade, sem necessariamente estar nas paixões. É um olhar mais genuíno sobre os outros. Precisamos ter um olhar menos idealizado do amor e das relações e desprendê-lo das coisas. É aquela coisa, bem clichê, de amar sem ver a quem. Que tem tudo a ver com o projeto humanitário para o qual essa peça nasceu", ele explica.

"PRECISAMOS FALAR DE AMOR SEM DIZER EU TE AMO"

Nesta sexta (29/7) e sábado (30/7), às 21h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH,  Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Ingressos: R$ 60 e R$ 40 (meia), à venda no site Eventim e na bilheteria da casa. Mais informações: (31) 3516-1360