O teólogo Leonardo Boff, de 83 anos, chega nesta quarta (3/8) a Belo Horizonte para uma tripla jornada. Até sexta-feira (5/8), participa de três encontros/palestras, todos com entrada franca: hoje no Armazém do Campo; amanhã no projeto Sempre um Papo; e na sexta no Tribunal de Contas.
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Na entrevista a seguir, Boff fala sobre pandemia, eleições, meio-ambiente, questão indígena, amor e livros – tem uma centena deles já publicados. “Sempre que me perguntam sobre o que faço na vida, digo que sou um trabalhador que usa um instrumento, o alfabeto.”
Pessoalmente, a pandemia foi um período muito produtivo para o senhor, certo?
Eu fui, desde jovem, um trabalhador das letras. Foi assim que escrevi mais de 100 livros, alguns em outras línguas. É um trabalho árduo, trabalhar com 25 sílabas, formar frases, das frases construir um pensamento e culminar com um livro. É um instrumento sutil e fragilíssimo. Mas sempre que me perguntam sobre o que faço na vida, digo que sou um trabalhador que usa um instrumento, o alfabeto. Durante a pandemia, como observei estritamente o tempo de reclusão social, acabei escrevendo seis livros, dos quais quatro já saíram. O que melhor aceitação teve foi ‘O pescador ambicioso e o peixe encantado: a busca da justa medida’. Houve outro que saiu antes, em Roma: ‘Habitar a Terra: qual o caminho para a fraternidade universal?’, que teve a honra de ser lido pelo papa. Nele, tento refletir sobre o seu sonho na encíclica ‘Fratelli tutti’, de uma fraternidade universal e de um amor social.
Pandemia, guerra, conflitos de toda ordem em todo o mundo. A Mãe Terra tem tentado mostrar para a humanidade que há algo muito errado. Acredita que governos e sociedade civil estão atentando para tantos sinais?
Vejo que grande parte da humanidade, especialmente os chefes de Estado, os gerentes das grandes corporações, não tiraram nenhuma lição da pandemia. Pensam em retornar ao que era antes, exatamente àquela situação que provocou a intrusão do vírus. Curiosamente, a COVID-19 atacou somente os seres humanos, não nossos animais de estimação. Era uma clara mensagem da Mãe Terra aos humanos para que parassem de desflorestar, de eliminar os habitats dos vírus e bactérias. Mas ninguém lhes dá ouvidos, pela simples razão de que os ‘donos do poder e do dinheiro’ deveriam trocar o modo de produção, de acumulação, de consumo e sua relação destrutiva para com a natureza. Temo que se não cuidarmos, o vírus pode conhecer variantes, uma das quais poderá ser tão potente que as vacinas se tornem quase ineficazes, e dizime milhões de seres humanos. Seria o justo castigo de nossa irresponsabilidade para com a Mãe Terra, superexplorada a ponto de que precisamos de uma Terra e meia para atender o consumismo humano.
Além dos títulos inéditos, também está sendo lançada uma nova edição de “O casamento entre o Céu e a Terra”. A questão indígena, urgente em 2001, quando do lançamento da obra, se tornou ainda mais relevante nos dias de hoje. Houve mudanças na obra?
A conselho de Darcy Ribeiro reuni os 30 melhores contos e mitos das culturas indígenas que se referissem a uma relação amigável para com a natureza. Acrescentei uma longa parte sobre onde se situam hoje as nações indígenas, suas línguas, sua contribuição à nossa cultura e à cultura mundial. Fiz poucas mudanças, mais nos dados. O título me foi sugerido pelos samis (esquimós) indígenas da Suécia. Quando encontrei, quase no topo do mundo, três caciques, colocaram-me a primeira pergunta: ‘Os índios do Brasil casam ainda o Céu com a Terra?’ Eu captei logo a malícia e respondi: ‘Lógico, eles mantêm esse casamento porque deste casamento nascem todos os seres.’ E eles, felizes, disseram: ‘Então são ainda indígenas’. A maioria dos suecos não crê no Céu, só na Terra. Por isso são infelizes e muitos se suicidam. O sentido do livro é para mostrara a concepção integral que eles, os indígenas, possuem, e que nós perdemos já há muito tempo e precisamos resgatar. Nisto, eles são nossos mestres e doutores.
Na opinião do senhor, qual o significado maior das eleições de 2022?
Este pleito possui a dimensão de um plebiscito: que país queremos? Um país dominado pelo ódio, pelas mentiras oficiais como política de Estado, pela exaltação da violência e até da tortura, da discriminação e ódio contra os pobres, os indígenas, os negros, as mulheres e outros com outra definição sexual ou um país no qual vale a pena viver, trabalhar e sustentar a família, com saúde acessível a todos, com educação de qualidade para todos, com segurança e com um regime democrático de direito onde reinem as liberdades e se evitem relações de violência e exclusão? É o confronto entre um Brasil que coloca a vida no centro e outro que coloca a pulsão de morte, o descuido do povo e especialmente dos mais vulneráveis.
PROGRAMAÇÃO
>> Conferência “Os desafios para a reconstrução do Brasil”
Nesta quarta (3/8), às 19h, no Armazém do Campo (Avenida Augusto de Lima, 2.136 – Barro Preto). Entrada franca.
>> Debate “A energia do amor” no Sempre um Papo
Quinta (4/8), às 19h30, no Auditório da Cemig (Avenida Barbacena, 1.200 – Santo Agostinho). Entrada franca
>> Palestra “Amor: energia transformadora”
Sexta (5/8), às 10h, no Auditório Vivaldi Moreira do TCE-MG (Avenida Raja Gabaglia, 1.305 –Luxemburgo).
Sexta (5/8), às 10h, no Auditório Vivaldi Moreira do TCE-MG (Avenida Raja Gabaglia, 1.305 –Luxemburgo).
Entrada franca.