Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Em seu segundo disco, Laura Conceição vai além do rap e abraça a MPB


Natural de Juiz de Fora, Laura Conceição começou a despontar no circuito dos slams – os campeonatos de poesia falada – em 2017, carregando na bagagem o lastro da cultura hip hop. Dois anos depois, lançou seu álbum de estreia, “Tempos efêmeros”, calcado no rap, e agora chega a seu segundo trabalho, “Espelho”, com o qual busca ampliar os horizontes.





Com 10 faixas, o disco, que chega às plataformas de streaming nesta sexta-feira (5/8), reafirma a ligação de Laura com o universo do slam e com o rap, mas abre campo para a artista passear por diversos gêneros, da bossa ao blues, passando pelo samba e pelo rock.

“Esse novo disco traz ainda as poesias, as rimas, mas agora de forma a explorar diversos estilos musicais, não apenas o rap, que é o que deu a tônica no primeiro trabalho. ‘Espelho’ traz essa busca minha, de me libertar de amarras e procurar formas alternativas e brasileiras para me expressar”, afirma.

Ela considera que o novo álbum, que conta com as participações especiais da cantora Luísa Moreira e do clarinetista Caetano Brasil, é uma extensão do primeiro, na medida em que acompanha seu desenvolvimento como artista e como pessoa. “Entendo os dois trabalhos como retratos da minha vida e da minha arte, que são uma coisa só, já que minha poesia nasce das minhas vivências”, aponta.





Período de introspecção

“Espelho” foi totalmente realizado durante a pandemia e, segundo a poeta e cantora, as faixas refletem o período de introspecção que ela vivenciou. Laura observa que o próprio título com que o disco foi batizado – também nome de uma das faixas – se relaciona com isso.

“Até entrar no estúdio, eu não tinha um nome em mente ainda, queria que ele emergisse do próprio processo. ‘Espelho’ é a única faixa falada, apesar de ter acompanhamento instrumental, e acabou batizando o álbum porque ela traz questões muito filosóficas minhas, fruto do meu contato comigo mesma, pensando nas minhas questões, durante a pandemia. É um reflexo de quem eu sou”, diz.

Esse encontro consigo mesma foi o que fez brotar na artista o desejo consciente de transitar por diversos gêneros e linguagens. Ela diz que se sentiu impelida a “sair da caixinha” e encontrar novos e diferentes veículos para sua poesia. “Meu lance é a palavra. Fiquei pensando em como levá-la às pessoas. Pode ser num blues ou numa bossa-jazz. Me veio o desejo mesmo de transitar pela música popular brasileira, entendendo que esses gêneros e também o rap são expressões da música popular brasileira”, diz.






Turnê de lançamento

O show de lançamento de “Espelho” será realizado no próximo dia 12, em Juiz de Fora, e a partir daí a ideia é circular por outras cidades do Brasil. Laura diz que pretende conciliar essa turnê, ainda em fase de estruturação, com a participação nos slams, que seguem fazendo parte de sua agenda.

Morando em Juiz de Fora, mas com um trânsito intenso entre Rio de Janeiro e São Paulo, ela representou este último estado na edição 2021 do Slam BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, na qual ficou em terceiro lugar. A artista explica que foi escolhida após sair vencedora, na capital paulista, da ZAP – Zona Autônoma da Palavra, a etapa estadual de slam que dá acesso à competição nacional.

Com presença constante em diversos outros campeonatos de poesia falada – como as últimas edições do Slam das Minas, do Slam do 13 e do sarau do Cooperifa – Laura diz que sua participação nesses eventos é perfeitamente ajustável com a circulação do show de lançamento de “Espelho”.





Slams de poesia

“São universos muito próximos, que têm tudo a ver. A Laura do Slam é a mesma do álbum, inclusive a faixa ‘Espelho’ nasceu como poesia, com a qual ganhei vários campeonatos. E em muitos slams acontecem pocket shows; é uma expressão que abraça muitas formas de arte, então uma coisa não exclui a outra”, ressalta.

“Espelho” chegou a ser, por mais de uma vez, recitada nas famosas lives da cantora Teresa Cristina durante o período mais crítico da pandemia. “É incrível o olhar que ela tem sobre as mínimas coisas. Tudo vira poesia”, comentou a sambista carioca em uma das apresentações. “É um marco no meu trabalho, porque ela comunica da forma que eu acho que a poesia tem que comunicar”, aponta Laura, sobre o texto da faixa-título de seu novo álbum.

Ela reflete, a propósito, sobre as possíveis distinções entre a escrita de poesia e a escrita de letra de música. “Neste segundo disco, diferentemente do primeiro, escrevi os textos em cima das batidas e das melodias. No caso da poesia que se destina apenas a ser falada, você vai escrevendo, seguindo um fluxo. Para uma música, as linhas melódicas e os beats vêm antes. Mas, em todo caso, são coisas muito permeáveis”, observa.

“ESPELHO”
• Laura Conceição
• Independente (10 faixas)